A História e atuação das mulheres na política de Ponta Grossa.
O processo na luta pelo voto e participação política das mulheres sofreu diversos entraves ao longo do final do século XIX e início do século XX. A luta das sufragistas brasileiras teve influência do movimento feminista ocorrido nos Estados Unidos e Inglaterra e se baseva na publicação de suas ideias em revistas e jornais da época, além da tática de lobby utilizada sobre os deputados brasileiros. De modo geral, o movimento sufragista sofreu a influência de importantes figuras femininas do período, as quais lutaram pela ocupação da mulher no espaço público.
Através da pressão do feminismo sufragista, a lei federal n° 21.076 de 24 de fev, de 1932 foi instituída no Código Eleitoral Brasileiro, coibindo o voto universal e secreto feminino, além de permitir a participação das mulheres de maneira ativa na política do país. Com o decreto, todos os estados e municípios do Brasil, deveriam garantir a entrada e envolvimento das mulheres na administração do Estado Brasileiro como um todo, tarefa até então realizada apenas por homens de classe alta.
Desde 1932, mulheres pontagrossenses possuem o direito de lutar ativamente por seus direitos na política da cidade, no entanto apenas 13 conseguiram ser eleitas como vereadoras. Em sua maioria ocupam áreas da sociedade ligadas à educação ou ao setor privado, fator que se pode interligar com as feministas do início do século XX, nas quais pertenciam a famílias importantes à elite ou eram professoras.
A primeira vereadora de Ponta Grossa foi Cândida Mendes Braz do PTB, eleita em 1951. Posteriormente a segunda vereadora só assumiria a câmara em 1988, sendo essa Sandra de Queiroz do PDC. De acordo com a publicação do Jornal Diário dos Campos, Sandra assumiria a responsabilidade enquanto vereadora na representação dos empresários e produtores rurais da cidade. Além disso, a vereadora possuía familiares ligados à política como Otto Cunha, ex-prefeito e deputado estadual.
Em 1993, a empresária Nassima Sallum do Partido dos Trabalhadores (PT) foi eleita vereadora da cidade, a qual era ligada à rede de empresas Maxitango e defendia políticas filantrópicas. No mesmo ano, Claudete Dallabona, também empresária, se candidatou ao cargo político. Apenas em 1997 a figura feminina assumiria novamente a cadeira da câmara dos vereadores em Ponta Grossa: Ortência Rosa e a professora Selma Schons do PT. Vale-se destacar que a figura de Selma Schons foi de extrema importância para a política da região, visto que a parlamentar defendeu pautas ligadas à questão indígena, ambiental e das mulheres. Além de Selma ter conseguido sua reeleição, foi a primeira mulher pontagrossense a se tornar deputada estadual.
Alina de Almeida (PMDB), esposa do ex-vice prefeito Djalma de Almeida, foi a suplente que assumiu o cargo de vereadora em 2003 no lugar de Selma, ano em que a mesma assumiu o cargo como Deputada Estadual, e mais tarde alcançou sua reeleição em 2009. A professora Ana Maria Holleben (PT), tendo familiares que atuaram na política local, se candidatou ao cargo de vereadora em 2005 e se reelegeu em 2009. Holleben se aproximou de movimentos sociais durante sua corrida política e conseguiu pela terceira vez ser vereadora da cidade, em 2013. No entanto, a parlamentar não chegou a realizar seu papel na câmara, pois foi afastada após suspeita de forjar seu próprio sequestro no dia da cerimônia de posse.
Também em 2013, Adélia de Souza do PSD se elegeu vereadora e sua principal defesa eram políticas ligadas à área da saúde, implementando leis de prevenção ao Outubro Rosa. Já no ano de 2017, a professora Roseli Aparecida Mendes (PSD) foi a única parlamentar mulher ao dispor do cargo, defendendo a educação em seu mandato. No ano de 2021, Francielle Stepenovski do PSD ocupou a cadeira do plenário da câmara no lugar do vereador Walter José de Souza que foi afastado do cargo. A suplente, além de atuar no ramo político e da comunicação foi a primeira mulher LGBTQIAP+ a desempenhar o papel enquanto vereadora.
No ano seguinte, Ponta Grossa elegeu 3 vereadoras nas eleições municipais, sendo esse o maior número de candidatas mulheres a ocupar o cargo na câmara dos vereadores da história da cidade. Joce Canto (PSC), na qual possui familiares com carreira política, divulgou projetos de lei em torno da acessibilidade na educação para crianças do espectro autista e leis de combate ao feminicídio no município. A segunda vereadora eleita foi a Missionária Adriana Jamier (SD) e seus projetos de lei giraram em torno de ações de cuidado e apoio para a saúde mental materna, em especial de mulheres com maior vulnerabilidade social. Por fim, tivemos a vereadora Josiane Kieras do PSOL, sendo seu cargo dividido com três co-vereadores: Ana Paula Melo, Guilherme Mazer e José Luiz Stefaniak. Os projetos da parlamentar giram em torno da questão da educação, mobilidade urbana e diversidade de gênero. Ademais, os cidadãos pontagrossenses elegeram no mesmo ano a primeira mulher como prefeita, a ex vice-prefeita Elizabeth Schmidt do PSD.
Apesar do sufrágio feminino ter sido consolidado na década de 30, a mulher pontagrossense continua à sombras na política da cidade, enfrentando diversos entraves tanto no âmbito político quanto dentro do espaço público. Ao traçar um plano histórico nas figuras parlamentares que representaram a mulher dentro da ordem pública, nota-se uma minoria de mulheres que alcançaram cargos políticos e de modo geral ainda não conseguem representar toda a pluralidade de cidadãs de Ponta Grossa.
Perceber toda a luta e representação feminina na política da cidade ao longo dos anos é uma maneira de compreender diversas desigualdades existentes dentro da atmosfera pública para assim trazer uma maior representatividade em eleições futuras. O processo de luta das mulheres no espaço social é algo que não deve ser esquecido, pois cada mulher que alcançou o cargo de vereadora e de prefeita na cidade enfrentou e ainda enfrenta diversos estigmas numa sociedade que está acostumada em repousar o poder administrativo nas mãos de homens brancos e cis-gênero. A política é a ação do ser humano na sociedade e deve representar os direitos de todos os grupos que fazem parte dela, em prol da democracia e do respeito à alteridade.
Referências:
Portal Câmara dos Deputados. Disponível em: Portal da Câmara dos Deputados (camara.leg.br). Acesso: 02 de maio de 2024
Jornal Diário dos campos terceiro trimestre de 1988, extraído pelo levantamento da pesquisa bibliográfica no dia 09 de ago. de 2023.
Autora: Tamirys Antonia Chaves
Acadêmica do 2° ano do curso de Licenciatura em História UEPG.
Ano: 2024