Fenata – Festival Nacional de Teatro Amador – na década de 1970
O Festival Nacional de Teatro Amador de Ponta Grossa, popularmente conhecido pelos moradores e público universitário da cidade como Fenata, teve seu início na década de 1970. Entre os dias 3 a 10 de novembro de 1973, no auditório da reitoria da então Faculdade de Ciências e Letras de Ponta Grossa, ocorreram oito apresentações.
As peças representadas na primeira edição do Fenata foram: Antígona, de Sófocles, pelo Grupo Amador da Cidade de Arapongas-PR; Tempo dos inocentes e tempo dos culpados, de Siegsried Lenz, pelo Grupo Amador de Santo André- SP; A pane, de Frederich Durenmatt, apresentada por dois grupos distintos: Grupo de Teatro do Estudante do Paraná, de Curitiba-PR, e pelo Teatro Estudantil de Vanguarda de Santos-SP; Transe, de Ronaldo Rhaadd, pelo Grupo Teatro Universitário de Lages- RS; Seis personagens a procura de um autor, de Pirandello, pelo Grupo Divulgação de Minas Gerais; O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, pela Escola Técnica Federal do Paraná, de Curitiba-PR; Andorra, de Max Friesch, pelo Grupo Gama de Teresópolis-RJ; e Pedro Malasartes, de Maria Helena, pelo grupo Teatro Ópera de São Cristóvão-Guanabara.
A encenação que ocorreu dia sete de novembro daquele ano se deu em meio a um clima de euforia na cidade. Naquela data houve o reconhecimento da Universidade Estadual de Ponta Grossa (criada em 1969), pelo Conselho Federal de Educação (CFE). Até então, a instituição não possuía esse estatuto: era, administrativamente, a junção de diversas faculdades estaduais já existentes na cidade, como: Filosofia, Ciências e Letras, Farmácia e Odontologia, Direito, Ciências Econômicas e Administração.
A criação do festival teve como principal idealizador José Faria Moritz (Telmo Faria, como era mais conhecido), que possuía uma larga experiência no cenário teatral, com participações como ator em famosas companhias de teatro, como a de Bibi Ferreira e a de Eva Todor. As apresentações do festival ocorriam no auditório da reitoria e no Cine Teatro Ópera (atualmente as apresentações ocorrem em diversos espaços da cidade como escolas, praças, etc.)
No seu início, o Fenata possuía o requisito de aceitar apenas produções de caráter amador. Incentivava sobretudo o teatro universitário realizado no interior da instituição, que possuía um grupo de teatro, o Grupo de Teatro Universitário-GTU; e também incentivava grupos de outras instituições universitárias brasileiras que vinham de diferentes regiões apresentar suas produções artísticas.
Nos anos iniciais do festival não ocorriam apresentações de peças infantis, estas foram incorporadas ao longo das edições. Em 1973, o primeiro festival tinha como programação, além das apresentações das peças inscritas, aulas sobre diferentes temáticas teatrais e debates após os espetáculos. Esse formato se estendeu a diversas edições do festival, que não se limitavam apenas as apresentações teatrais; o encontro artístico explorava o teatro de diversas formas, debatendo suas linguagens e potencialidades. Tal característica foi se perdendo ao longo dos anos e, atualmente, o festival tem como principal foco as apresentações teatrais, sem realização de oficinas e sem debates diversos sobre a arte teatral.
Na década de 1970, os jornais locais e os da capital do estado sempre destacavam o evento em suas páginas. O Diário do Paraná, de Curitiba, em 1974 noticiou que grupos de várias localidades do Brasil estariam presentes na segunda edição do Fenata: grupos provenientes de São Paulo, de Aracaju, de Curitiba, do Rio de Janeiro, de Salvador, de Teresópolis, de São José do Rio Preto; e registrou que o grupo de teatro amador de Ponta Grossa apresentaria a peça Yerma, do espanhol García Lorca. (DIÁRIO DO PARANÁ, 29/09/1974, p. 11).
Não se pode discorrer sobre o início do Fenata excluindo-se questões políticas importantes sobre o período histórico ao qual ele esteve vinculado. O festival inicia-se no contexto da ditadura militar instaurada no Brasil em 1964. Os festivais de teatro amador não estavam imunes aos técnicos e a burocracia da censura que reinava sobre a cultura naquele momento (GARCIA, 2018). Vale ressaltar que, nos três primeiros anos de festival, as hospedagens dos grupos provenientes de fora da cidade eram feitas dentro do 13º Batalhão de Infantaria Blindado da cidade de Ponta Grossa.
O ano em que se inicia o festival é um momento de grande instabilidade nacional para os setores culturais e, principalmente, o setor teatral, fosse ele amador ou profissional. Todas as peças encenadas no país teriam que passar pelos processos de censura prévia para posterior liberação para apresentações A partir dessa análise, a peça poderia ser: liberada integralmente, liberada com cortes, ou até não ser liberada (GARCIA, 2010). Além disso, era estipulada uma classificação etária a partir do conteúdo da peça, que ainda ganhava um tempo determinado de encenação que não ultrapassava cinco anos; passado esse tempo, todo o processo para liberação teria que ser refeito.
O Fenata, ao longo da década de 1970, firmou-se como um importante evento cultural de teatro amador realizado no interior do Brasil. Hoje, é reconhecido como um dos festivais mais antigos de arte teatral no Brasil, ocorrendo de forma ininterrupta desde 1973. Atualmente, o Fenata recebe também grupos profissionais de diversas partes do Brasil e do exterior, que para a cidade de Ponta Grossa se dirigem no mês de outubro e/ou novembro para a celebração da arte do teatro.
FONTES
Diário do Paraná, 29/09/1974.
FUNARTE. FENATA – Festival Nacional de Teatro Amador (1: 1973: Ponta Grossa, PR). [S.l.: s.n.]. 1 dossiê.
FUNARTE. FENATA – Festival Nacional de Teatro Amador (4: 1976: Ponta Grossa, PR). [S.l.: s.n.]. 1 dossiê.
Gazeta do Povo, 04/11/2012 (edição eletrônica). Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/40-anos-de-teatro-nos-campos-gerais-2unzuxyrvfw2tv79plgomhjke>. Acesso em: 14 de dezembro de 2019.
REFERÊNCIAS
FOPPA, Emanuelly. A censura não tem endereço: a censura à peça O Assalto, de José Vicente de Paula, no Fenata (Ponta Grossa, anos 1970). 2019. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em História) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2020.
GARCIA, Miliandre. Censura, resistência e teatro na ditadura militar. Concinnitas, a. 19, n. 33, p. 144-177, dez. 2018.
GARCIA, Miliandre. Ou vocês mudam ou acabam: aspectos políticos da censura teatral (1964-1985). Topoi, Rio de Janeiro, v. 11, p. 235-259, 2010.
Autora: Emanuelly Foppa – Licenciada em História UEPG, 2019.
Ano: 2020