Mulheres em Ponta Grossa: Mães, educadoras e trabalhadoras
Inicialmente o papel da mulher era atrelado necessariamente à maternidade; hoje em dia ainda se vê ideários assim, mas eles não são a grande maioria. Dentro do período tratado, o final do século XIX e início do século XX, uma mulher ideal era doce, submissa e caridosa. Segundo Oliveira e Martiniak (2018), ela era vista como um símbolo de pureza e amor; seu papel deveria ser cuidar de sua família: marido e filhos, mas também da comunidade que a cercava, fazendo trabalhos de caridade ou em igrejas. Além disso, o papel de cuidar da higiene da família também era dela. Em suma, cuidava de todos ao seu redor, graças a sua natureza que favorecia isso.
Enquanto professora, a mulher representava uma extensão dessa visão. Quem devia gostar e cuidava de crianças era a mulher, logo, a ela poderia estar reservado o papel de “mãe espiritual” de seus alunos, que, como faria com seus filhos, iria os educar e cuidar sem pestanejar. A remuneração dos docentes era baixa nesta época, mas isto não deveria ser visto de forma material: o ser professora deveria ter muito mais a ver com vocação e caridade e menos com dinheiro.
A criação da Universidade do Paraná, em 1912, proporcionou uma migração masculina de professores para lecionar lá; isto foi o que permitiu que houvesse espaço para mulheres ocuparem cargos na Escola Normal. Fato é, que a educação no Paraná buscava economizar: segundo relato do Inspetor Geral de Ensino, César Prieto Martinez, em 1921, se estava gastando menos com a escola — tendo gasto igual a 1916 —, mas com o dobro de matrículas. Isto demonstra uma má remuneração de professores. (apud Martiniak, p. 273)
Em Ponta Grossa, a Escola Normal foi inaugurada em 1924, representando uma grande oportunidade para as mulheres da região dos Campos Gerais que antes, para se formar, precisavam se deslocar para os centros — o que, além de caro, carecia do aval do pai ou homem responsável. Segundo Campagnoli (2020), durante o tempo em que não havia uma escola formadora aqui, e mesmo após, era comum existir as instituições de ensino feitas em casa e administradas por mulheres — que por vezes eram formadas fora do país —, as chamadas “escolas casa”, que geralmente tinham ensino voltado ao público feminino. Porém isso, certamente, era algo cujo acesso era bastante restrito apenas à parte mais rica da sociedade; mulheres pobres não poderiam pagar.
E essas mulheres das classes mais baixas, geralmente, tinham seu ingresso no mundo do trabalho, por vezes desde muito novas: cozinheiras, costureiras, empregadas domésticas, amas de leite e etc. É interessante observar que a questão da dupla jornada, o trabalho dentro e fora de casa já existia com mais normalidade. No entanto, esses empregos ainda se restringiam ao que era considerado tradicionalmente adequado para as mulheres; o mundo público, de política, pensamentos e debates, estava reservado aos homens. Mulheres que saíam desse meio privado, eram mal vistas. A profissão de professora, em contrário a isso, era algo de muito prestígio.
Sendo os homens mais livres para escolher sua vida, logo a docência não era tão vantajosa ou com muitas opções de futuro: mesmo que para eles a remuneração fosse melhor, ainda era baixa; o emprego mal valorizado facilitou a feminização do magistério. E logo, mulheres que antes estavam apenas no papel de educadoras, passaram a cargos administrativos, como diretoras e secretárias, cargos que antes eram majoritariamente masculinos.
Aos poucos a cidade visualizou o avanço da mulher e sua emancipação, Jornais da época demonstram mulheres que furavam esta “bolha” do que era esperado de si, e arriscavam empregos antes considerados masculinos, como médicas, militares, advogadas, cientistas e etc. É evidente que esses acontecimentos foram influenciados por fatores externos, como os movimentos sufragistas e a busca pelo voto feminino, que representava o reconhecimento de mulheres como cidadãs de direito.
Referências:
CAMPAGNOLI, Karina Regalio. De mãe zelosa e esposa à recatada professora, trabalhadora e cidadã de direitos: representações das mulheres e da sua educação no Diário dos Campos nas décadas de 1920/1930. 2020. 228 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2020.
CAMPAGNOLI, Karina Regalio. “O mundo do trabalho como espaço formativo feminino nas primeiras décadas do século XX.” Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Salvador, vol.30, no.63, jul/set 2021. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?pid=S0104-70432021000300257&script=sci_arttext Acesso em: 29 jun. 2023.
MARTINIAK, Vera Lucia. “A formação de professores no Paraná na Primeira República: a Escola Normal primária de Ponta Grossa.”. Revista História e Ensino, Londrina, vol.24, n.1, p.255-282, jan/jun. 2018. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/30205/23919. Acesso em: 21 ago. 2023.
OLIVEIRA, Loraine Lopes de; MARTINIAK, Vera Lúcia. “Liberdade, igualdade e democracia: O ideário republicano e a educação das mulheres no início do século XX no Brasil”. Revista Educação e Formação, Fortaleza, vol.3, no.9, p 159-176, set/dez. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.25053/redufor.v3i9.861. Acesso em: 29 jun. 2023.
Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. História da Cidade. Disponível em: https://www.pontagrossa.pr.gov.br/historia Acesso em: 09 set. 2023
Autora: Maria Vitória C. Dingueleski
Acadêmica do 4º ano de Licenciatura em História, UEPG
Ano: 2023