Patrimônios Culturais Edificados de Ponta Grossa

Patrimônios Culturais Edificados de Ponta Grossa

Ao discutirmos sobre as mudanças e as permanências culturais de uma sociedade, a questão patrimonial logo entra em destaque. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) traz um conceito de Patrimônio Cultural balizado na própria Constituição brasileira de 1988, onde o Patrimônio Cultural se constitui na forma de bens “de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.

Tais regimentos legais demonstram algumas das importâncias de uma preservação patrimonial em uma sociedade. As identidades individuais e coletivas de grupos humanos constroem-se, em parte, a partir de memórias e de marcos representativos de suas vivências, o que inclui edificações e monumentos físicos dos espaços onde vivem e circulam. Dessa forma, as políticas de preservação patrimonial e tombamento não apenas preservam importantes elementos de identidade cultural coletiva, como também os legitimam. 

Em Ponta Grossa, essa legitimação se dá largamente em relação às edificações da elite pontagrossense, cujas narrativas permeiam muito do imaginário local. Um exemplo claro é a Mansão Villa Hilda, construída em 1926 por Alberto Thielen, proprietário da cervejaria Adriática, cujo nome é uma homenagem a sua esposa Hilda Thielen. No entanto, ainda que a residência da família de origem alemã tenha sido tombada em 1990, o edifício da cervejaria não pode mais ser visto no centro da cidade, tendo sido demolido.

Há também a Estação Saudade, ponto crucial na mudança dos ares econômicos e sociais de Ponta Grossa e dos Campos Gerais, principal referência da passagem de mercadorias e pessoas em uma cidade conhecida por já ter apresentado um vasto entroncamento ferroviário. Saudade, entretanto, talvez seja um termo adequado, uma vez que a Estação permanece como um dos poucos vestígios desse passado no centro da cidade, após a desativação e desmonte dos trilhos centrais nas décadas de 1980 e 1990.

O Colégio Regente Feijó, mais um representante do estilo eclético da arquitetura pontagrossense do início do século XX, detém importância por abranger alunos de diferentes bairros e de pontos distantes do centro, compondo uma posição arterial no “coração” da cidade e trazendo diversos olhares e experiências ao local.

Desde o colégio quase centenário até a mansão do industrial cervejeiro assombrada por supostos fantasmas, as edificações históricas que pontuam o centro de Ponta Grossa estão ligadas pelas diversas narrativas que as colocam como elementos constituintes da identidade local, um processo facilitado pela presença de figuras consagradas como “importantes personagens” nesses espaços: desde políticos da época até magnatas industriais.

É importante ressaltar, porém, que a inserção de uma edificação dentro do contexto das elites pontagrossenses não é, necessariamente, uma garantia de sua preservação. Um exemplo claro se mostra na demolição da antiga Catedral Matriz de Sant’Ana, em 1978. A partir de decisões da própria diocese (encabeçada pelo bispo D. Geraldo Pellanda) e da prefeitura de Ponta Grossa, com aval da Coordenação do Patrimônio Cultural, o edifício histórico de 72 anos foi destruído para dar lugar a uma nova catedral, que permanece até os dias atuais.

A demolição de um monumento de valor histórico e cultural presente no imaginário e nas memórias locais da população pontagrossense a partir de uma decisão de grupos específicos demonstra que a preservação patrimonial não está, de forma alguma, isolada das dinâmicas de poder e das políticas correntes entre os diversos grupos atuantes na sociedade, ainda que grande parte da população permaneça excluída de muitos desses debates.

Nesse sentido, a educação patrimonial entra como uma importante iniciativa para democratizar essas discussões e incentivar o pensamento crítico sobre a cidade que permeia a todos. Dado que o patrimônio edificado não se limita a um amontoado de tijolos, madeira ou estuque, ele também é constituído por memórias, identidades, e conhecimentos múltiplos, um mosaico sociocultural que só é completo e observável se discussões desse cunho tornarem-se cada dia mais táteis.

 

REFERÊNCIAS

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Patrimônio Cultural. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218>. Acesso em 08 nov. 2023.

CORDOVA, M. J. W. Demolição da Igreja Matriz de Sant’ana: o antigo e o moderno no imaginário social ponta-grossense. Revista Memória em Rede, Pelotas, v.2, n.6, p.90-110, jan./jun. 2012.

FERNANDES, J. R. O. Educação patrimonial e cidadania: uma proposta alternativa para o ensino de história. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.13, n.25/26, p.265-276, set. 1992/ago. 1993.

 

Autores: Matheus Henrique Krepel / Eliézer Nascimento de Oliveira

Acadêmicos do 3º ano de Licenciatura em História – UEPG

Ano: 2023

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