Perseguição a Educação Durante a Ditadura Militar em Ponta Grossa e Região

Perseguição a Educação Durante a Ditadura Militar em Ponta Grossa e Região

O período ditatorial brasileiro (1964-1985) compreende uma época em que a liberdade de expressão era totalmente limitada e a perseguição a grupos como os movimentos estudantis era constante. Tendo isso em vista, na cidade de Ponta Grossa, Paraná, a ditadura veio com força e bastante apoio, sendo até mesmo criado o núcleo 31 de março, em 1967, como forma de homenagear o dia em que o golpe se iniciou, e a realização de uma Marcha de Deus com a Família pela Liberdade. Mas sempre onde há pessoas a favor também há quem se diz contra e resiste ao regime. 

Como exemplo de resistência ocorreu no dia 3 de março de 1985, com apoio da Diocese de Ponta Grossa e a Pastoral da Juventude, o encontro para comemorar o Ano Internacional da Juventude. Esse evento contou com a presença de cerca de 1.500 jovens de toda a região dos Campos Gerais e do Prefeito Municipal da época, Otto Santos Cunha. Porém o nome mais destacado nesse encontro foi o do Padre Divino, que durante sua fala expressou fortemente suas opiniões sobre a ditadura, proferindo frases como “Acorda povo da América Latina!” (Documento Memórias Reveladas: Ano Internacional da Juventude), criticando assim a presença de pastores estadunidenses, que haviam aumentado no Brasil. Também culpou a ditadura pelo aumento da desigualdade social e pelo sufocamento de movimentos sociais, como a UNE (União Nacional dos Estudantes). Ao final Pe. Divino pediu aos jovens apoio para os movimentos. Esse momento demonstra que uma pequena parcela da Igreja e grande parte dos jovens estavam descontentes com o caminho que o país estava trilhando.

Outro exemplo, levando em consideração os professores do Paraná, foi a greve geral dos professores de 1982, organizada pela APP Sindicato (Associação dos Professores do Paraná), tendo como objetivo a paralisação das atividades letivas em todo o Estado. Suas reivindicações tinham como contexto a baixa e o atraso salarial, sendo assim, pedindo o aumento em 45% nos vencimentos, o 13° salário e aumentos semestrais. Para haver o fim da greve, os professores fizeram propostas ao governo, que caso não fossem cumpridas a greve seria retomada. As propostas eram o abono das faltas, nenhuma punição aos professores grevistas, arquivamento dos processos criminais pela Polícia Federal e os processos administrativos iniciados em Curitiba, Ponta Grossa e Londrina. Ao total foram convocados a depor 15 residentes de Ponta Grossa e 32 professores indiciados.

Ademais, em 1968, ocorreu também a Reforma Universitária, onde o Paraná, para adequar-se à legislação federal, elaborou comissões incumbidas de realizarem estudos para adaptação e, fundamentado nas análises realizadas pelas equipes de trabalho sobre o ensino superior no Estado, o Governador Paulo Cruz Pimentel enviou à Assembleia Legislativa uma proposta de criação de universidades em Londrina, Maringá e Ponta Grossa, reconhecendo-se a criação da Fundação Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Este marco, além de institucional, se apresenta como a “materialização” da ideologia de controle da ditadura pautando como justificativa o desenvolvimento do país.

A Reforma Universitária causou uma sobrecarga nas despesas, criando novos órgãos administrativos. Assim, muito foi investido para o administrativo e pouco para o ensino. Podia se perceber que a política educacional colocada em prática pelo governo não tinha nada de democratizante, mantendo o caráter elitista no ensino superior.

Sobre os movimentos estudantis, foram duramente perseguidos desde o começo do golpe, tendo como marco inicial da perseguição, o incêndio criminoso sobre a sede da UNE, em 1° de abril de 1964. Além disso, a UNE continuou sendo perseguida durante todo o período, sendo colocada em ilegalidade pela Lei 4.464, conhecida como Lei Suplicy de Lacerda em 9 de novembro de 1964. Porém mesmo na ilegalidade os movimentos estudantis nunca cansaram de lutar pela educação, sendo realizada em 26 de junho de 1968 a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, onde diversos estudantes e apoiadores saíram pelas ruas pedindo pelo fim da censura, da tortura e a libertação dos estudantes presos. Mas, nenhuma das reivindicações foram atendidas, tendo assim no mesmo ano a promulgação do AI-5. 

Os movimentos estudantis emergiam como um dos atores mais destacados na luta pela democracia, porém não escapavam das contradições e fragilidades, comum aos movimentos que estão na fase inicial e na busca pela consolidação e atendimento de suas demandas. Nesta década, o movimento estudantil assumiu, principalmente a partir de 1977, importante papel na luta pela anistia e pelas “Liberdades Democráticas”. Os estudantes, em tentativas muitas vezes frustradas, procuravam expressar suas inquietações por meio da música e do teatro. Porém, a censura, ao perceber a estratégia, principalmente dos estudantes, na utilização desses meios para “propaganda subversiva” agia com o objetivo de calar qualquer tipo de manifestação.

 

REFERÊNCIAS:

 

JESUS, L. A.; SANTOS, P. E. A insurgência estudantil paranaense no pensamento militar: uma análise da Operação Pente Fino no contexto ditatorial de 1968. Revista Discente Ofícios de Clio, Pelotas, vol. 5, n° 9, 2020.

 

SCHMITT, S. L. Encontros e desencontros do movimento estudantil secundarista paranaense (1964 – 1985). 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2011. Disponível em: https://tede.unioeste.br.

 

Documento Memórias Reveladas: Movimento grevista dos servidores públicos federais do Paraná e Santa Catarina – Dossiê. Disponível em: file:///C:/Users/ffalb/Downloads/BR_DFANBSB_V8_MIC_GNC_NNN_83004128_d0001de0002.pdf. 

 

Documento Memórias Reveladas: Ano Internacional da Juventude, Ponta Grossa Paraná – Dossiê. 

 

Autora: Thaysa Raquel Albini Ferreira 

Acadêmica do 2° ano do curso de Licenciatura em História – UEPG

Ano: 2023 

 

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