A ESPECIFICIDADE DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: experiências a partir dos grupos incubados pela Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol) no município de Ponta Grossa – PR
Autores: Virgínia Salamucha Carneiro; Millena Gomes Ferreira; Luiza Lourenço Nunes Benck
Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar a atuação do profissional de Serviço Social, juntamente à incubação dos grupos realizada pela Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol) no município de Ponta Grossa – PR e região. Dessa forma, a metodologia será a pesquisa documental através de relatórios e dossiês, como também de cunho exploratório e bibliográfico, combinado à observação participante que apresenta de forma breve como funciona a metodologia da IESol. Os resultados encontram-se em analisar a contribuição do Assistente Social no espaço do Programa, especialmente com o processo de incubação dos grupos, destacando os desafios e as potencialidades deste campo de atuação e como ele possui significância através de seus instrumentais na qualidade de vida e autonomia dos grupos incubados pela IESol.
Palavras-chave: Serviço Social. Economia Solidária. Incubação.
JUSTIFICATIVA
A Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol), é um programa de Extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) que realiza incubação de grupos na perspectiva da Economia Solidária (EcoSol), dentre outras atividades que visam a divulgação, o fomento e efetivação da EcoSol na região. A atuação na IESol é interdisciplinar e conta com vários setores de conhecimento atuando em conjunto, contudo, neste trabalho, pretende-se dar ênfase à atuação do Serviço Social.
A EcoSol emerge como uma alternativa a geração de trabalho e renda, promovendo através de princípios mais inclusivos, tais como a cooperação, autogestão, sustentabilidade e solidariedade, uma vida mais digna de sobrevivência e que encontra-se em direção contrária aos princípios tradicionais do capitalismo, de acordo com Singer (2002).
Neste ano de 2024, a IESol completa seus 19 anos, sendo que desde o princípio trabalhou com três segmentos: o primeiro seriam os trabalhadores de cooperativas, associações, clubes de troca, feiras solidárias ou grupos informais. O segundo seriam estruturas governamentais em âmbito municipal, estadual e federal, que estimulam a EcoSol através de políticas públicas. O terceiro seria composto por entidades apoiadoras como ONGs, sindicatos, seções de Igreja e universidades. (Valadão, et al, 2018). Os autores também expõe que:
A IESol é um programa permanente na extensão, cujo objetivo principal é contribuir com a formação, constituição e consolidação dos EES (Empreendimentos Econômicos Solidários), capacitando a geração de renda com base nos princípios da EcoSol. Desenvolve um trabalho interdisciplinar, promovendo a troca de saberes entre seus participantes, desenvolvendo pesquisa, extensão, tecnologias sociais, participando de espaços de controle social e de lutas que abrangem a defesa e consolidação da EcoSol, bem como seus princípios norteadores. (Valadão, et al, 2018)
Neste contexto, os sujeitos inseridos nos grupos incubados, em especial os grupos da Ecosol de Ponta Grossa e região, sofrem por múltiplas vulnerabilidades sociais e expressões da questão social. Para Marx (2004) o modelo econômico torna o trabalhador uma mercadoria, valorizando o que se produz e desvalorizando o homem que a produz. Isso posto, Veronese (2006) realiza uma crítica a esse sistema capitalista por produzir indivíduos no seu modo de trabalhar que correspondam à demanda de uma produção que resulte na lucratividade dos mercados e na própria alienação do homem.
Sendo assim, além de outras profissões, entende-se relevante a participação do Serviço Social e, especificamente, de Assistentes Sociais nestes processos de incubação já que o Assistente Social possui como um de seus desafios desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar direitos, a partir de demandas emergentes do cotidiano, isto é, por meio de políticas públicas, busca-se efetivar direitos, objetivando a autonomia e emancipação dos sujeitos inseridos nos grupos. (Iamamoto, 2012).
Os objetivos do Serviço Social na IESol consistem na atuação junto aos grupos incubados, amparada pela Lei Federal número 8.662/1993, que regulamenta a profissão do assistente social. Logo, protagoniza a execução de reuniões em equipe, observação, relatórios, diários de campo, entre outras. Ademais, o trabalho da IESol serve como uma assessoria para os participantes e fomento de outras formas de geração de trabalho e renda, com outras perspectivas, sendo elas complementadas pelos princípios da EcoSol, os quais são a autogestão, a democracia, a solidariedade, a cooperação, o respeito à natureza, o comércio justo e o consumo solidário. Por conseguinte, a razão pela existência da IESol e da incubação de grupos, é a potencialidade em oferecer caminhos que contribuam para uma melhor qualidade de vida e a emancipação coletiva, pautado em relações dignas de trabalho, no bem-estar e na plena cidadania.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é dar destaque a importância da atuação do profissional de Serviço Social, juntamente à incubação dos grupos realizada pela IESol no município de Ponta Grossa – PR e região.
Já no que tange ao objetivo da IESol, através das perspectivas da EcoSol, visa contribuir com alternativas de geração de renda e vivência de seus princípios como norteadores.
METODOLOGIA
A metodologia do presente trabalho se enquadra como pesquisa qualitativa, documental e exploratória, através de relatórios e dossiês, presentes nos arquivos da IESol.
No que tange a metodologia de trabalho da IESOL, trata-se de promover uma atuação direta com os grupos incubados, os quais passam por algumas fases de incubação, denominadas: pré incubação, incubação, desincubação e pós incubação. É essencial comentar como cada grupo incubado detém de uma trajetória única, onde não delimita prazo determinado ou modelo preestabelecido, posto que é resultado da construção diária, tecida nas relações de confiança entre integrantes da equipe da IESol e dos EES.
Desta maneira, são realizados encontros semanais e/ou quinzenais com os grupos incubados para realização de formações, oficinas, feiras e produção de novos conhecimentos, para fazer com que a comunidade tenha acesso a seus direitos e saibam como acessá-los. A proposta também se encaixa no sentido de emancipação e autonomia desses sujeitos, em que contribui para o controle e participação social, exercendo a democracia e seu papel de cidadão detentor de direitos.
Assim, o papel do Serviço Social e sua instrumentalização servem como primordial, pois os mesmos possuem formação a população, em especial, mas não exclusiva, mais vulnerável e busca por efetivação das políticas públicas aos usuários.
Neste sentido, também há documentação e publicações bibliográficas que comprovem a significância do Assistente Social no espaço da Incubadora e como tais profissionais fortalecem o processo de incubação e a efetivação de direitos dos sujeitos inseridos nos EES. Ademais, será utilizado do viés observação-participante, em reuniões de equipe, formações e visitas técnicas.
RESULTADOS
Os resultados referem-se a importância significativa do papel do Serviço Social no processo de incubação feito pela IESol, a qual implica uma melhor qualidade de vida e equidade para os usuários, aplicando os instrumentais da profissão no sentido de trazer autonomia e emancipação destas pessoas, através de seu papel interventivo.
Atualmente, a equipe multidisciplinar da Incubadora é 80% composta de Assistentes Sociais, estagiários/extensionistas/pesquisadores da área, em que contribuem significativamente para repensar outras formas de trabalho e busca atuar juntamente aos grupos sua autonomia e participação social, os quais passam a exercer seu papel pleno de cidadão na sociedade.
O papel do Serviço Social, portanto, é essencial para as demandas trabalhadas na Incubadora, pois é um espaço em que trabalha justamente com pessoas/grupos que, em sua maioria, encontram-se em múltiplas vulnerabilidades e marginalizadas pela sociedade, em que não conseguiram um espaço no mercado de trabalho formal, seja pelas mães solos que não conseguem horário viável de escolas/creches pela alta demanda de serviços no sistema capitalista, por exemplo, seja pelo preconceito vivido pela cor da pele, gênero, baixa renda e espaços que não são alcançados pelas políticas públicas.
Na IESol, o trabalho do Assistente Social se dá por meio do acompanhamento dos EES incubados a partir da realização de reuniões, formações e encaminhamentos, identificando as demandas e contribuindo para o fomento de uma alternativa à geração de trabalho e renda através da EcoSol. Ademais, o Assistente Social na IESol realiza a supervisão de estágio obrigatório em Serviço Social contribuindo para o processo formativo dos estudantes que realizam estágio neste campo. Ainda destacam-se os instrumentais utilizados: relatórios, visitas institucionais e observação.
Desta forma, o Serviço Social possui formação para atender diretamente com essas parcelas da sociedade e através da EcoSol fornecer melhores condições a esses grupos, que possuem grande potencialidade em si, mas não tem a oportunidade de usufruir de seus dons, pela contradição imposta pelo sistema de classes, contribuindo para melhores garantias de vida e autonomia desses indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do trabalho exposto, observa- se a importância da atuação do Serviço Social juntamente a esses grupos e como contribuem para os mesmos lutarem por sua emancipação e espaço na sociedade. É uma profissão que busca garantir a efetivação de políticas públicas para uma melhor condição de vida de toda a população, em que normalmente não são vistas e atendidas pelo Estado. Nesse sentido a IESol tem buscado, por meio da incubação e princípios da EcoSol, com a participação ativa do olhar do Serviço Social, possibilitar alternativas para uma outra forma de subsistência, modos de vida e a geração de renda, em que procura alternativas práticas de enfrentamento da questão social e construção de um novo ideário de vida, sem a competição e individualismo do qual são vividos historicamente pelo capitalismo.
Ao analisarmos os princípios fundamentais da profissão, podemos observar que alguns deles destacam de maneira clara esse comprometimento: reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a elas inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida.
Ademais, a extensão universitária parte do processo de troca de conhecimentos com a comunidade, através das experiências. e quando falamos de extensão e EcoSol, não se trata apenas da questão econômica, mas também do protagonismo democrático, bem como a garantia de direitos, bem como da valorização da vida e do meio ambiente.
Sendo assim, conclui-se que, o objeto de trabalho do Serviço Social está nas manifestações da questão social e nas relações que revelam injustiças, exclusão e falta de acesso a direitos. Nesse contexto, a EcoSol surge como um espaço privilegiado para a atuação profissional voltada aos interesses e necessidades das classes populares e encontra também na extensão universitária um importante espaço de atuação e possibilidades de efetivação.
APOIO
Projeto “A Economia Solidária nos Campos Gerais: Trabalho, Renda e Inovação Social”. Financiado pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), por meio do Programa Universidade sem Fronteiras (USF).
REFERÊNCIAS
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 23. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2012.
MARX, K. Manuscritos econômicos-filosóficos. Tradução de Jesus Ranieri, São Paulo: Editora Boitempo, 2004.
SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.
VALADÃO, A. C. et al. Percursos e experiências da Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol). Ponta Grossa: Editora Estúdio Texto, 2018.
VERONESE, M. V. A psicologia na transição paradigmática: um estudo sobre o trabalho na Economia Solidária. 2004, 226f. Tese de Doutorado em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.