FEIRAS SOLIDÁRIAS: aprendizados e trocas de experiências

FEIRAS SOLIDÁRIAS: aprendizados e trocas de experiências

Autores: Manuela Salau Brasil; Léo Felipe da Silva Benicio; Jonas Merrett

Resumo: O programa de extensão Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL), em seus 19 anos de existência, promoveu diversas ações e desenvolveu inúmeros projetos. Nesta comunicação o foco recai sobre o projeto “Feiras Solidárias IESOL/UEPG: para além da comercialização”, uma experiência que é quase tão longeva quanto a própria incubadora. O objetivo é elaborar uma caracterização desta feira, bem como de outras organizadas por incubadoras pertencentes à “Rede de Incubadoras Universitárias de Apoio e Fomento à Economia Solidária do Paraná” (RIU-PR). Serão analisadas 5 feiras solidárias, incluindo a realizada pela IESOL, que desde a pandemia é conhecida como Feira de Economia Solidária da Universidade Estadual de Ponta Grossa (FESU). Com este perfil é possível não somente conhecer as feiras, mas também aprender com as experiências e fortalecer esta modalidade de economia solidária que já faz parte do calendário da instituição.

Palavras-chave: Economia solidária. Feira solidária. Incubação

JUSTIFICATIVA
A Feira Solidária da Universidade Estadual de Ponta Grossa (FESU) faz parte do processo de incubação da IESOL; é a parte visível de um conjunto de ações de formação, acompanhamento e assessoria que se dá periodicamente através de rodas de conversa, reuniões e encontros entre equipe da incubadora e as/os trabalhadores/as de empreendimentos econômicos solidários (EES).

Desde 2011 ela acontece regularmente nos dois campi da UEPG em Ponta Grossa, e em 2021 foi registrada como projeto de extensão. Nestes 10 anos entre seu início e formalização, passou por ajustes, mudanças e experiências num processo que culminou com sua consolidação e consequente formalização enquanto projeto vinculado ao programa IESOL.

Durante a pandemia, mesmo com a suspensão das feiras, os encontros de formação foram mantidos, e neles produziu-se a logo, o slogan e o nome da feira, que passou a ser chamada de FESU (Feira de Economia Solidária da Universidade Estadual de Ponta Grossa), fruto do trabalho coletivo que caracteriza o processo de incubação.

Evidencia-se, portanto, que mesmo em condições adversas os/as trabalhadores/as que fazem parte da FESU buscam aprimorar-se, assim como a equipe da IESOL, e conhecer outras experiências similares é parte desta construção.
É neste sentido que justificamos esta comunicação, tendo em vista que aprender com a realidade de outras feiras de mesma natureza pode servir como subsídio não só para avaliação da FESU, como também para promover inovações com ganhos para todos/as que dela participam.

OBJETIVOS
Realizar um perfil das feiras organizadas por incubadoras que fazem parte da “Rede de Incubadoras Universitárias de Apoio e Fomento à Economia Solidária do Paraná” – RIU-PR, visando avaliação e aprimoramento da feira solidária (FESU) promovida pela Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL/UEPG).

METODOLOGIA
Para esta pesquisa utilizou-se a metodologia qualitativa e quantitativa (Creswell, 2010), a partir da aplicação de um formulário do Google Forms com questões abertas. O referido formulário foi enviado para representantes de 05 incubadoras que fazem parte da RIU-PR: Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), e Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

RESULTADOS
Das experiências analisadas, observou-se que a maioria das incubadoras estão vinculadas às universidades públicas ligadas à extensão, como projetos ou programas, e todas elas trabalham com feiras solidárias.

Quanto à periodicidade das feiras, quatro ocorrem de forma semanal e uma anualmente, sendo que uma delas acontece semanalmente em três dias da semana (terças, quartas e quintas-feiras) mas em quatro campi distintos (a universidade é multicampi). No caso da FESU, a periodicidade é semanal em um dos campus (central) e mensal em outro (Uvaranas).

Em relação ao número de feirantes que trabalham individualmente, com exceção de uma feira, todos os outros afirmaram aceitar grupos. No tocante aos participantes das feiras, cada incubadora segue sua própria regulamentação. Duas delas permitem apenas a participação de membros de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). Em uma dessas feiras, participam 30 empreendimentos, enquanto na outra a capacidade máxima é de 20, embora a média de participação varie entre 12 e 15 EES. Da FESU participam exclusivamente grupos incubados (em qualquer uma das fases do processo de incubação): estar neste processo é condição sine qua non para expor e comercializar na feira.

Dentre as respostas obtidas em relação a importância da feira para a incubadora, ressaltamos a seguinte afirmação, que a coloca como um : “Espaço de diálogo entre empreendimentos incubados e não incubados, além disso, proporciona visibilidade à atuação da Incubadora’’. Também na FESU isso acontece, e a feira acaba se transformando na melhor forma de divulgação da IESOL, da extensão e da própria economia solidária. A intenção é que ela seja ainda uma forma da comunidade externa fazer parte da UEPG, o que ainda não acontece.

Uma das incubadoras trouxe ainda: “ Tem proporcionado que os EES se tornem conhecidos e aproximado os mesmos da academia, inclusive sendo convidados para outros eventos”. Este último aspecto é verificado igualmente no caso da feira da IESOL, que tem recebido convites para expor e comercializar em eventos promovidos por diferentes departamentos da instituição.

A maior parte do público das feiras é da comunidade universitária, incluindo estudantes e servidores. “Esse ano pretendemos divulgar no comércio ao redor para atrair público externo”, diz uma das respostas. O mesmo ocorre na FESU, que busca ampliar o público, já que a divulgação costuma ficar restrita à universidade. Recentemente, materiais foram distribuídos na vizinhança, mas o alcance foi limitado por falta de recursos. Esse é um dos desafios e também uma potencialidade: aproximar a universidade da sociedade e convidar a população a frequentar esse espaço público.

Quanto aos produtos comercializados na feira, há uma semelhança entre elas. Pois assim como na FESU, há a comercialização principalmente de artesanatos, agroecológicos e produtos alimentícios. Vale lembrar que os grupos que comercializam produtos alimentícios na FESU possuem a liberação da vigilância sanitária.

Uma das perguntas presente no formulário, refere-se sobre a presença de outras atividades na feira, além da comercialização dos produtos. Desta forma duas incubadoras responderam de forma positiva quanto à presença de atividades culturais, sendo ainda citado por uma: “Atividades culturais, intervenção (por exemplo, vacinação e exames de saúde), divulgação de outros projetos.” Tais atividades ainda não são observadas frequentemente na FESU, tendo em vista a capacidade reduzida de membros na incubadora, bem como a estrutura da feira. Quanto à estrutura, faltam barracas que possam abrigar novas atividades, assim como há limites de espaço físico, além de falta de recursos para faixas, folders, cartazes para divulgação das atividades.

Como uma das alternativas para resolver as últimas duas questões, a IESOL tem promovido feiras temáticas, onde se pretende ampliar o público a partir da inclusão de atividades culturais. Como prática recente, os resultados iniciais têm sido promissores, indicando potencialidade de ser mais explorada futuramente.

Quanto aos critérios de entrada e seleção dos grupos e feirantes em feiras de economia solidária, um ponto comum é a exigência de que os produtos comercializados sejam de fabricação própria ou produzidos por empreendimentos da economia solidária (EES), vedando a participação de atravessadores. No caso de produtos alimentícios, como verduras, legumes e frutas, há exigências específicas, como a obrigatoriedade de serem orgânicos e produzidos pelo próprio feirante ou sua família, evitando-se a revenda. Dessa forma, o processo de seleção visa garantir a conformidade com os valores da economia solidária.

Em relação à existência de um regulamento vigente dentro das feiras, notou-se que outras incubadoras têm a presença deste. Sendo que uma destas destaca: ” Há um regulamento que estabelece normas como período e critérios de inscrição e seleção; direitos e deveres dos participantes (ex. participar da reunião preparatória e da formação da abertura da mostra; terão acesso a estrutura de mesas e cadeiras, etc). Tal regulamento é disponibilizado nas mensagens de divulgação das inscrições; no formulário de inscrição e lido da reunião de preparação com EES participantes.” Mesmo que dentro da FESU há combinados não formalizados, está sendo construído um regulamento.

Sobre as principais conquistas, o depoimento que segue reúne elementos significativos: “Sua existência ininterrupta durante 15 anos; projeto de referência na instituição; eventos realizados relacionados à agroecologia/economia solidária; espaço de encontro e de diversidade cultural; formação de pessoas.”. Tais considerações são verificadas igualmente no caso da FESU que, a despeito de seus desafios, já faz parte da programação da UEPG.”

Em relação aos desafios, destacam-se tantos os de ordem material (infra-estrutura) como aqueles de ordem subjetiva, como a prática da autogestão entre feirantes de diferentes grupos. Lembramos que a autogestão é um dos princípios da economia solidária, e que segundo Singer (2002, p.21): A autogestão tem como mérito principal não a eficiência econômica (necessária em si), mas o desenvolvimento humano que proporciona aos praticantes. Participar das discussões e decisões do coletivo, ao qual se está associado, educa e conscientiza, tornando a pessoa mais realizada, autoconfiante e segura. É para isso que vale a pena se empenhar na economia solidária.

Quanto às expectativas ao futuro da feira, fazemos coro ao que respondeu a representante de uma das incubadoras pesquisadas, que assim sintetizou: “Que ela cresça e possa, através de sua atuação política, conscientizar mais pessoas sobre a importância e viabilidade da Economia Solidária.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como proposto inicialmente por este trabalho, onde foi aplicado um questionário para representantes de incubadoras integrantes da RIU, com o intuito de traçar um perfil das feiras de incubadoras de economia solidária promovidas por outras instituições do Paraná, a fim de promover melhorias na FESU.

A partir dos resultados encontrados, alguns desses foram semelhantes ao da FESU. Quanto ao público consumidor, nota-se a semelhança com as outras feiras, sendo este em sua maioria representado pela comunidade acadêmica. Mesmo quando realizadas , que tendem a ter uma grande participação de um público externo, predomina ainda o público de estudantes e servidores, mas de qualquer forma esta modalidade tem potencial para ser uma alternativa a esta dificuldade.

Da mesma forma, a FESU ainda precisa incluir mais atividades culturais, a exemplo do que ocorre em outras feiras pesquisadas, pois desde seu princípio foi pensada não apenas como um espaço de comercialização. De fato, o que ocorre durante a FESU extrapola esta questão, tendo em vista a riqueza da convivência e troca entre os grupos e destes com a comunidade universitária. A socialização tem resultados subjetivos, mas que contam tanto quanto os objetivos, ou seja, não se trata apenas de uma fonte de renda. Assim como na questão anterior, as feiras temáticas podem ser uma forma de encaminhar esta questão, em que pese a exigência de maior equipe, estrutura e recursos.

É preciso ressaltar que o resultado desta pesquisa será apresentado para as/os participantes da feira, para que juntamente com a equipe da IESOL possam ser discutidas e priorizadas as medidas que possam ser implementadas, num esforço de cocriação próprio do processo de incubação.

Embora reconhecendo os diversos desafios para o fortalecimento da feira solidária (FESU), ela se mantém como um espaço que há mais de 10 anos acontece na UEPG, e que tem garantido que as quintas-feiras sejam um dia em que há um movimento maior de pessoas na instituição, um colorido diferente, num projeto que efetivamente se abre para toda a comunidade.

REFERÊNCIAS

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto; tradução Magda Lopes. 3 ed. Porto Alegre: ARTMED, 2010.

SINGER, P. Introdução à economia solidária. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2002. Disponível em: intro eco solidaria 5 ed.indd (fpabramo.org.br) Acesso em: 17 set 2024

 

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