Santa popular atrai devotos em Ponta Grossa

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Túmulo de Corina Portugal é repleto de placas de agradecimento por pedidos atendidos

O túmulo localizado no Cemitério São José, na região central de Ponta Grossa, ecoa a voz de quem foi silenciada. Nascida em 17 de janeiro de 1869, na cidade do Rio de Janeiro, Corina Antonieta Pereira Portugal era filha de Deolinda Fazenda Pereira Portugal e do médico Antônio Fernandes Pereira Portugal.

Corina tinha apenas quatorze anos quando se casou com Alfredo Marques de Campos – onze anos mais velho. O casal foi morar no bairro do Realengo, na cidade de Rio de Janeiro. Com a ajuda do médico e amigo da família, João de Meneses Dória, Corina e Alfredo se mudam para Ponta Grossa, interior do Paraná, onde ele abre uma farmácia.

Vítima de violência doméstica, Corina relatava o seu sofrimento por meio de cartas enviadas ao seu pai, que continuava morando na capital carioca. Alfredo era alcoólatra e se envolveu com jogatina e prostitutas. Corina ficava em casa. Relatos históricos contam que ela perdeu o bebê que gestava após apanhar, mais uma vez, do marido. 

No dia 26 de abril de 1889, Alfredo assassinou Corina com cerca de trinta punhaladas. O motivo? Um suposto adultério que Corina teria cometido com o médico Dória. Alfredo foi absolvido “por lavar a sua honra” e Vicente Machado, advogado de defesa do assassino de Corina e político influente no Paraná no final do século XIX, virou o nome da principal avenida no centro de Ponta Grossa.

A Avenida Vicente Machado sempre foi conhecida devido ao alto fluxo de pessoas e por ser palco de celebrações festivas como, por exemplo, os desfiles de aniversário de Ponta Grossa, da Independência do Brasil, da München Fest – a tradicional festa do chopp escuro que ocorre anualmente na cidade – e dos carnavais de rua. Além disso, a Avenida também é um dos principais polos comerciais de Ponta Grossa.

A Avenida carrega o nome de um dos personagens mais icônicos da política paranaense, o promotor público Vicente Machado da Silva Lima, que nasceu na cidade vizinha Castro no dia nove de agosto de 1860. Vicente era filho de uma família tradicional da elite da região dos Campos Gerais, descendente de Baltazar Carrasco dos Reis, um dos fundadores da capital paranaense, Curitiba.

A Avenida foi pavimentada com paralelepípedos por meados de 1910. Alguns anos após, árvores foram plantadas. O asfaltamento da Vicente Machado foi realizado na década de sessenta. Décadas depois, ela permanece sendo um dos principais pontos de Ponta Grossa por ser uma das ruas mais conhecidas, pelo comércio que se estende ao longo dela e pelas centenas de pessoas que passam por ali diariamente.

Homenagear Vicente Machado colocando o seu nome na principal Avenida de Ponta Grossa é controverso não só pelo que aconteceu com Corina Portugal. Ele foi algoz de muitos ponta-grossenses durante a sua vida política.

Santinha dos Campos Gerais

O Cemitério São José, um dos mais antigos de Ponta Grossa, abriga o túmulo de Corina Portugal. Há muitas flores, velas acesas, placas de agradecimento e um grande retrato de Corina Portugal com a imagem de sua cidade natal, Rio de Janeiro, ao fundo. Diferente dos demais, não possui mármores ou azulejos. Também não há lápide, há apenas uma placa com nome e as datas de nascimento e falecimento de Corina. Atualmente, o túmulo está pintado com um tom de verde claro. Vale destacar que a estrutura é pintada com frequência pelos fiéis que são quem cuidam do jazigo, levando em consideração que a família de Corina morava na capital carioca e ela não teve filhos.

Um dos funcionários do Cemitério São José – que prefere não ser identificado – trabalha há cerca de uma década no local. Ele conta sobre os cuidados dos fiéis. “Sempre trazem flores, acendem velas e pintam o túmulo. A última pintura foi feita há um ano e meio”, diz.

Popularmente chamada de Santinha dos Campos Gerais, Corina não é canonizada e nem reconhecida como santa pela igreja. Entretanto, as diversas homenagens em seu túmulo mostram que ela é considerada uma santa popular. Inclusive, fiéis criaram uma oração que está fixada no túmulo dela. 

Apesar de não se considerar devota de ir levar flores ao túmulo, a professora Lucélia Clarindo considera Corina Portugal como uma força de fé e coragem. “Acredito nas energias da jovem sofrida Corina. Também acredito na fé, nas orações e nos pedidos atendidos por ela”, relata.

A professora também coordena o Bando da Leitura, ação voluntária de estímulo à leitura em Ponta Grossa. No ano passado, o Bando foi um dos apoiadores do concurso cultural “Retrate Corina”, promovido pela Academia Ponta-grossense de Letras e Artes (APLA) em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e que contou com outras instituições apoiando a causa.

O objetivo era homenagear Corina após cento e trinta e quatro anos do seu falecimento. “Por meio de concursos culturais e prêmios, ela vai sendo conhecida e reconhecida por todos”, fala a professora sobre a importância de manter o legado deixado por Corina Portugal.

Para visitar o túmulo de Corina Portugal, é necessário entrar no Cemitério São José pelo acesso do Largo Professor Colares, na região central de Ponta Grossa, virar à esquerda na primeira fileira e à direita após a primeira quadra.

História da Avenida Vicente Machado

A Avenida Vicente Machado sempre foi conhecida devido ao alto fluxo de pessoas e por ser palco de celebrações festivas como, por exemplo, os desfiles de aniversário de Ponta Grossa, da Independência do Brasil, da München Fest – a tradicional festa do chopp escuro que ocorre anualmente na cidade – e dos carnavais de rua. Além disso, a Avenida também é um dos principais polos comerciais de Ponta Grossa.

 A Avenida carrega o nome de um dos personagens mais icônicos da política paranaense, o promotor público Vicente Machado da Silva Lima, que nasceu na cidade vizinha Castro no dia nove de agosto de 1860. Vicente era filho de uma família tradicional da elite da região dos Campos Gerais, descendente de Baltazar Carrasco dos Reis, um dos fundadores da capital paranaense, Curitiba.

 A Avenida foi pavimentada com paralelepípedos por meados de 1910. Alguns anos após, árvores foram plantadas. O asfaltamento da Vicente Machado foi realizado na década de sessenta. Décadas depois, ela permanece sendo um dos principais pontos de Ponta Grossa por ser uma das ruas mais conhecidas, pelo comércio que se estende ao longo dela e pelas centenas de pessoas que passam por ali diariamente.

Homenagear Vicente Machado colocando o seu nome na principal Avenida de Ponta Grossa é controverso não só pelo que aconteceu com Corina Portugal. Ele foi algoz de muitos ponta-grossenses durante a sua vida política.

Mudança de nome da principal avenida de Ponta Grossa

A discussão de uma possível mudança nominal da Avenida Vicente Machado para Avenida Corina Portugal, localizada na região central de Ponta Grossa, não é recente. O atual capítulo dessa novela, ao que parece, ainda não terminou. 

Após o pedido de vistas do vereador Daniel Milla (PSD), a discussão e votação do PL nº 051/2023 aconteceria no dia vinte e oito de março na Câmara de Vereadores de Ponta Grossa. Porém, a Audiência Pública foi alterada para o dia nove de abril. O motivo do adiamento seria a proximidade da data anterior com o feriado da Semana Santa. Procurado pela reportagem, o vereador Daniel Milla não retornou até o fechamento da matéria.

O Projeto de Lei é do Mandato Coletivo. De acordo com a justificativa apresentada, a mudança nominal da principal avenida de Ponta Grossa seria uma justa homenagem à Corina Portugal e um resgate necessário de um dos episódios mais dramáticos da cidade.

A co-vereadora do Mandato Coletivo, Ana Paula de Melo, explica que a mudança de Avenida Vicente Machado para Avenida Corina Portugal simboliza uma correção histórica. “Uma correção necessária porque Corina foi duas vezes injustiçada: as trinta facadas recebidas pelo seu marido e pelo oportunismo político de Vicente Machado que usou o argumento falso de adultério para inocentar Alfredo de Campos”, diz.

O PL deu entrada na Câmara Municipal no dia oito de março e continua tramitando. A situação atual do Projeto é parecer, isto é, está sujeito a opinião de uma comissão e é o meio pelo qual ela pode apresentar emendas. Até o momento, o PL recebeu duas emendas e duas subemendas.

Reportagem e Fotos: Gabriela Oliveira

Edição e publicação: Cristiane de Melo e Juliana Lacerda

Supervisão de produção: Ivan Bomfim e Gabriela Almeida


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