Redução nos casos de HIV traz esperança, mas desafios persistem
Público que mais recebe diagnósticos de Aids está na faixa etária de 40 a 49 anos
Dados disponibilizados pelo Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) mostram que em 2023 foram diagnosticados 399 casos de HIV no estado do Paraná. No ano anterior os casos notificados foram 881, e em 2021 foram 980 casos confirmados. A comparação dos dados nesse período aponta que houve uma queda de 59,29% no número de casos. Nos três últimos anos, as cidades paranaenses que mais notificaram casos foram Curitiba, Londrina e Maringá. No ano passado Curitiba registrou 107 casos, Londrina 56 e Maringá 47.
O público que recebe mais diagnósticos está na faixa etária dos 40 aos 49 anos. No ano passado nesta faixa etária foram notificados noventa e cinco casos. Seguido pelas faixas etárias de vinte e cinco a vinte e nove anos e cinquenta a cinquenta e nove anos, ambas com setenta casos registrados.
A psicóloga do projeto social Grupo Reviver, Elaine Cristina Abrão, destaca a importância do suporte psicológico para pessoas que vivem e convivem com HIV. “Tem pessoas com o vírus HIV que tem sintomas de depressão e temos que ter essa atenção a mais, então aqui no Reviver realizo semanalmente sessões de terapia em grupo no formato de rodas de conversa, com o objetivo de fazer com que as pessoas tenham trocas de experiências”, conta.
Segundo a psicóloga, as rodas de conversa sempre possuem alguma temática como adesão ao tratamento, autoestima, auto segurança, entre outros assuntos. A temática da atividade pode variar de acordo com o mês, um exemplo citado por Elaine Cristina é o Outubro Rosa, quando são promovidos debates sobre a prevenção ao câncer de mama e câncer de colo de útero. Também é o caso do Novembro Azul quando o debate é sobre a prevenção ao câncer de próstata. Além das rodas de conversa para promover as interações, a psicóloga também realiza os atendimentos individuais.
A psicóloga conta que a grande maioria dos pacientes do Reviver que vivem e convivem com o vírus HIV estão intransmissíveis justamente por estarem em tratamento. Além de aderir e incluir o tratamento na rotina dos pacientes, também trabalhamos com eles questões relacionadas à alimentação e exercício físico. “O suporte emocional é tudo pra eles, porque quando eles têm crises ansiosas e depressivas a primeira coisa que eles querem é parar com o remédio, essa é uma forma de se prejudicarem a si mesmos, ou como dizemos na psicologia é auto sabotagem”, destaca.
A profissional explica que a partir do momento em que a pessoa recebe o diagnóstico de portadora do vírus da Imunodeficiência Humana é essencial procurar apoio psicológico, pois a partir desse momento ela passa por um período de luto pela sua saúde. Elaine Cristina fala que no primeiro momento a pessoa pensa que vai morrer, até ela compreender que se seguir corretamente a medicação ela pode ter uma vida normal. “O diagnóstico vem com uma readaptação a um novo estilo de vida que essas pessoas não estão acostumadas, principalmente com o fato de ter que incluir a medicação em suas rotina”, diz.
Para a psicóloga, a preocupação de evitar o vírus da Imunodeficiência Humana é do pessoal que viveu a década de 80, porque quando esse pessoal era criança ou adolescente passava o tempo todo na televisão a propagando “use camisinha”. “Além das propagandas, tinha personagens em novelas que tinham HIV e falavam sobre essa realidade, no caso tinha mais informação sobre o assunto”, conta. Elaine Cristina diz que as pessoas que nasceram a partir dos anos 90 perderam esse período em que havia uma maior preocupação a respeito do HIV, de acordo com ela essa é uma geração que não é tão adepta ao preservativo. “Para evitar uma gestação indesejada a mulher pode tomar uma pílula do dia seguinte, um anticoncepcional ou usar DIU e com isso o preservativo vai ficando em segundo plano. Por isso quem tem mais medo do HIV é quem viveu a década de 80 e tem mais de quarenta anos”, relata.
Elaine diz que o pessoal acima de quarenta anos conhece quais são os sintomas do vírus do HIV, mas o público mais jovem não tem a menor ideia. Ela fala que quando questiona os adolescentes nas palestras sobre quais são os sintomas do HIV eles falam somente de perda de peso. A profissional destaca que além da perda de peso os sintomas do HIV são feridas, baixa imunidade, problemas cardíacos, problemas renais, entre outros.
Para a especialista, o público na faixa etária entre os 40 aos 49 anos está recebendo mais diagnósticos de HIV por conta da própria relação sexual entre pessoas deste grupo. “O pessoal com vinte anos não está mais procurando homens mais velho acima dos quarenta anos, esse público está transmitindo na própria faixa etária”, relata.
Prevenção contra HIV e AIDS
Além de atender pessoas que convivem com HIV, os profissionais do Grupo Reviver também realizam palestras de prevenção contra a Aids e HIV nas Unidades Básicas de Saúde e nas escolas de Ponta Grossa. As palestras das instituições de ensino são destinadas exclusivamente para os alunos do ensino médio. A psicóloga que também participa das palestras que além da prevenção contra a Aids e HIV também são abordados temas relacionados à drogadição, químisex que é o ato sexual no estado alterado de consciência, os tipos de violência, principalmente violência contra a mulher.
Elaine Cristina ressalta que acha imprescindível abordar a educação sexual nas escolas principalmente por ser uma forma de falar sobre a importância da prevenção contra a Aids e HIV. “Na adolescência os hormônios estão aflorando de forma muito intensa, então a importância de eles terem essa consciência sobre a educação sexual e também terem com quem conversar é essencial”, relata. Na opinião da psicóloga essas palestras são muito úteis, principalmente porque os adolescentes têm uma boa participação e tiram todas as suas dúvidas com os profissionais, pois muitos não têm com quem conversar sobre o assunto.
A assistente social do Grupo Reviver, Simone Farias, que atua como técnica de prevenção em parceria com a Fundação Municipal de Saúde é uma das responsáveis por organizar as palestras nas instituições de ensino da cidade. Farias relata que nas palestras são passadas orientações de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis para adolescentes a partir dos quinze anos. De acordo com a profissional, são realizadas dezesseis palestras ao longo de cada mês nas escolas do município.
Farias diz que a equipe tem tentado ampliar as medidas de prevenção, porque infelizmente os índices de casos de HIV entre adolescentes a partir dos quatorze anos têm sido significativos. “Levamos a informação para esse público para que eles recebam as orientações adequadas, porque hoje o acesso à informação é muito fácil, mas nem tudo o que está na internet é verdade e cabe a nós dar o suporte necessário”, conta.
Segundo a profissional, os adolescentes têm uma característica muito especial de achar que eles não estão em perigo, pelo contrário, pensam que são coisas que podem acontecer com o outro e não com si próprio. Por isso, Farias destaca que a equipe trabalha muito a questão da reflexão e orientação, principalmente instruindo onde procurar recursos quando necessário.
Para saber os números de casos de HIV diagnosticados em Ponta Grossa entramos em contato com o Serviço de Assistência Especializada e Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA) mas não tivemos retorno até a conclusão da reportagem.
Reportagem e Imagem: Tayná Landarin
Edição e publicação: João Fagundes e Heloisa Ribas Bida
Supervisão de produção: Ivan Bomfim e Gabriela Almeida