
Passageiros enfrentam problemas de superlotação
Mesmo com auditoria do Tribunal de Contas do Estado, melhorias são insuficientes
Ponto lotado, o ônibus encosta e, quando a porta se abre, começa o empurra-empurra com objetivo de entrar no ônibus e, com sorte, conseguir um lugar para sentar. Entra quem consegue e senta quem tem sorte. Quem vai ter que esperar o próximo, torce para não se atrasar para o trabalho, para a escola ou para uma consulta. Essa cena virou parte da rotina de muitos dos 45 mil passageiros diários que dependem do transporte coletivo em Ponta Grossa. De acordo com eles, a experiência diária é marcada por ônibus cheios, viagens em pé e incertezas sobre o cumprimento dos horários.
A legislação determina um limite de sete passageiros por metro quadrado. No entanto, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) indicou à Prefeitura que melhorias fossem realizadas, já que o transporte coletivo do município estava ultrapassando esse limite. Mesmo com as recomendações feitas, passageiros ainda apontam ônibus lotados, especialmente em horários de pico. O prazo estabelecido pelo TCE para adequação do transporte coletivo acabou em fevereiro, mas problemas como superlotação e falta de acessibilidade ainda persistem.
O histórico de descumprimento da legislação não é recente. Em 2018, uma auditoria do Plano Anual de Fiscalização (PAF) do TCE-PR apontou diversas falhas no sistema. Dois anos depois, foi firmado um termo de ajustamento de gestão e, em 2023, a prefeitura foi multada em R$ 3.894,30 pelo não cumprimento das melhorias exigidas, entre elas: solucionar superlotação, especialmente notada nos horários de pico, maior transparência nos dados de fiscalização do transporte e melhorias na acessibilidade.
De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Planejamento (SMIP), o transporte é fiscalizado diariamente por uma equipe do Departamento de Transporte. As ações são feitas das 5h30 às 22 horas, e têm validade de 90 dias. Os dados usados nesse monitoramento são, em parte, da bilhetagem eletrônica, por meio da pesquisa chamada ‘origem-destino’, que analisa os trajetos feitos pela população para planejar melhor as rotas e redistribuir a frota, quando necessário.
Atualmente, nove servidores são responsáveis pela fiscalização em toda a cidade. Quando questionada se esse número é suficiente para atender a demanda e receber as denúncias dos usuários, a Secretaria de Infraestrutura e Planejamento não respondeu diretamente. Uma das mudanças da Prefeitura de Ponta Grossa, na tentativa de melhorar a situação, foi a criação do Centro de Controle de Operações (CCO), que monitora, em tempo real, a frota que circula pela cidade. A proposta é tornar a gestão mais eficiente.
A superlotação vista de dentro
Enquanto essas alterações não acontecem, as reclamações se acumulam. Vanessa Albuquerque, moradora do Gralha Azul, pega o ônibus às 7 horas da manhã e às 18h30 todos os dias. Ela carrega nos braços a filha de um ano e, mesmo assim, nem sempre consegue um lugar para sentar, já que quando entra o ônibus já está lotado. “Já teve vez que tive que esperar o próximo [ônibus], porque não dava para entrar com ela no colo daquele jeito”. Vanessa precisa ir até o trabalho na região central da cidade, mas não existe uma linha que faça o trajeto Gralha Azul – Terminal Central. Com isso, ela precisa se deslocar até o Terminal Nova Rússia para, aí sim, ir até o Terminal Central. Para ela, um ônibus direto faria a diferença na sua rotina, já que precisa de uma hora do seu dia para ir do Gralha Azul ao Centro.
A moradora do Shangrilá, Cristiane Alves, usa a linha das 07h50 e também sente os impactos da superlotação. “É um empurra-empurra. Normalmente na descida da Taunay o ônibus não para mais nos pontos porque tá lotado”, conta. Além disso, a passageira relata ter se acostumado a fazer a viagem de 40 minutos em pé. Ela relembra que já perdeu uma consulta odontológica, porque o ônibus quebrou, e o próximo só passava uma hora depois. Na ocasião, o ônibus já saiu cheio do primeiro ponto.
A superlotação também afeta a população idosa. Maria de Lurdes Schovez, 70 anos, diz que com frequência entra em ônibus que já estão lotados. “Dificilmente dão lugar para idoso, mas são os jovens que sentam. É assim que funciona”. Ela acredita que o número de ônibus disponibilizados da linha Santa Terezinha ao Terminal Central não é suficiente para a quantidade de passageiros, já que passa de hora em hora e a rota passa por dentro de outras vilas.
Mesmo com as promessas de melhorias e a implantação de sistemas modernos de monitoramento, a realidade dos passageiros pouco mudou. Apesar das justificativas da Prefeitura, o que falta mesmo é conforto no transporte coletivo. Para quem depende dele todos os dias, a esperança é que os dados deixem de ser apenas números e que as melhorias se tornem realidade. Enquanto isso não acontece, o sentimento é de espera: pelo ônibus, por melhorias e por mais respeito.
Reportagem e Fotos: Annelise dos Santos
Edição e publicação: Laura Urbano e Nicolle Brustolim
Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios