
Trânsito: Como lidar com os congestionamentos e poluição atmosférica?
Ponta Grossa apresenta um veículo a cada duas pessoas nas ruas por dia, o que causa problemas ambientais e estruturais
Dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) de 2022 apontam que Ponta Grossa possui uma frota elevada de veículos nas ruas. São cerca de 175 mil carros e motos percorrendo as vias diariamente. Levando em consideração que o município possui 358 mil habitantes, temos um cálculo de um veículo a cada duas pessoas. Mas o que essa quantidade de carros pode causar para a cidade?
O problema mais perceptível para a população são os congestionamentos, principalmente em horários de pico. De segunda a sexta, a professora Lucimara Pereira Duarte, que mora no bairro Parque do Café, na região da Chapada, sai de sua casa e dirige até a escola municipal Professor Ivon Zardo, no bairro Boa Vista. O trajeto tem cerca de seis quilômetros e a principal ligação entre os bairros é a avenida Souza Naves, trecho urbano da BR-373. O fluxo na via é intenso e há muitos veículos de carga, o que exige mais atenção dos motoristas. Lucimara explica que para chegar na escola o trânsito ‘colabora’, mas ao retornar para casa ela se depara com congestionamento, falta de sinalização e acidentes. “O problema é para retornar à minha casa, no horário de pico, às vezes ocorrem acidentes na rodovia sentido Curitiba o que faz parar o trânsito em toda a Souza Naves”, ressalta a professora.
Outros pontos na cidade também apresentam problemas, Kathusie Souza relata que há bastante congestionamento na rotatória ao lado da Rodoviária, no bairro Ronda, e na avenida General Aldo Bonde, que dá acesso aos bairros na região do Contorno. “Existem pontos de bastante congestionamento na cidade, uso diariamente a avenida General Aldo Bonde para chegar ao meu trabalho e há pontos em que o trânsito para por conta do fluxo de veículos e pela avenida ser usada por caminhões e máquinas agrícolas” Kathusie opina que pela grande demanda, a região deveria ter mais ligações com o centro para que o trânsito fluísse melhor.
Com poucas alternativas de ligações bairro – centro, o transporte público decai. Com os problemas identificados no transporte, as pessoas optam por usar seu carro próprio, pensando em comodidade e rapidez. É o caso das entrevistadas da reportagem, que por conta da pressa do dia a dia, mesmo enfrentando congestionamentos, a preferência pelo veículo próprio traz independência. Já que para usar o transporte coletivo, depende de fatores como horário das linhas e tempo maior de locomoção.
Isso acontece porque a cidade não investe em melhorias para o transporte coletivo. As políticas públicas seguem priorizando carros e motos, no lugar do transporte público. O engenheiro de tráfego da Prefeitura de Ponta Grossa, Juarez Alves, explica que: “Por conta do fluxo de veículos nas avenidas de trânsito ‘pesado’ acaba ocasionando atraso nas linhas, principalmente em horários de pico. Ao colocar os ônibus para trafegar em ruas menores, torna a viagem mais ágil, e assim, melhora o fluxo das grandes vias”, destaca.
Para melhorar garantir maior agilidade na ligação dos bairros Uvaranas e Cará-Cará, recentemente, a Prefeitura implementou um novo binário. Entre as vias afetadas estão: Siqueira Campos (que passa a ter sentido único Uvaranas ao Cará-Cará, no trecho entre a avenida Carlos Cavalcanti e a rua Doutor José Macedo de Loyola), a João Tomé (flui em sentido único Cará-Cará à Uvaranas, entre a Rua Doralicio Correia até a Avenida Carlos Cavalcanti), e a rua Helládio Vidal Correia (sentido único da rua Doutor José Macedo de Loyola, em direção à Rua Doralicio Correia). No papel a mudança parece fazer sentido, mas não agradou a população, principalmente os moradores da região.
Ana Claudia Dzulinski Santos mora na vila São Vicente de Paula e expõe sua indignação com a mudança. “Perdemos acesso fácil à Rua Siqueira Campos. Agora, quando precisamos ir para o centro, temos que dar uma volta imensa na quadra do cemitério ou ir pelo Parque dos Pinheiros. Imagine só quão horrível ficou para quem vai de carro buscar uma criança na escola, que fica na entrada da José Macedo de Loyola, a volta imensa que precisa dar, pontua. Ela acrescenta que agora, para entrar na vila, os moradores têm apenas uma alternativa de acesso, já que a entrada pela rua Doutor José Macedo de Loyola foi removida com a implementação do binário.
Segundo Ana Claudia, a mudança foi benéfica para a cidade, pois desviou o grande fluxo de veículos da região que dá acesso à Carlos Cavalcanti pela Carlos Alberto Haddad. Porém, o transporte coletivo foi prejudicado. “A mudança de sentido prejudicou quem precisa pegar um ônibus no hospital São Camilo, pois o ponto foi retirado. A alternativa que sobrou fica longe, sem contar que aqui na vila os ônibus demoram em média 50 minutos para passar”, disse.
Uma das possíveis respostas para a cidade apresentar esse modelo de trânsito, com poucas ruas ligando ao centro podem ser os vazios urbanos. Além disso, esse modelo contribui para o número elevado de veículos. O geógrafo João Paulo Leandro de Almeida explica que existem loteamentos em bairros afastados do centro, como o Santa Luzia e Cristo Rei e entre esses locais e o centro da cidade, existem terras não ocupadas. Esses vazios urbanos foram deixados para valorizar as terras, uma estratégia do ramo imobiliário da época. Isso acarreta dificuldades no transporte coletivo da cidade e, para uma pessoa pegar ônibus, ela usa rotas alternativas, além de permanecer por mais de uma hora no veículo. “Por conta disso, para algumas pessoas que moram nesses locais, acaba sendo mais viável ter carro próprio, mesmo com todos os custos, porque o tempo também é valioso”, explica João Paulo.
Esse ponto também é levantado pelo técnico em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Henry Mazer. Ele ressalta que quando a cidade aposta em novas moradias nesses bairros distantes, acarreta problemas de saneamento básico e de transporte. “A questão do transporte é impactada pelo fato de que, ao invés de serem usados esses vazios urbanos para construção de novas moradias, essas novas moradias são construídas mais longe de áreas já urbanizadas, aumentando o deslocamento das pessoas, seja por ônibus público ou veículos próprios”, afirma.
Outro problema recorrente ligado ao grande fluxo de veículos está atrelado à questão ambiental. Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) mostram que, em 2022, a cidade emitiu 1,2 milhão de toneladas de gás carbônico na atmosfera. E a principal causa da emissão dos gases é o transporte. Claro que, os ônibus, caminhões e outros veículos também auxiliam nessa poluição, mas a quantidade de carros nas ruas é um problema.
O engenheiro ambiental Douglas Mazur explica que os veículos contribuem para a poluição atmosférica. Esta acontece por meio da emissão de materiais particulados, como a fuligem. Dependendo do tamanho do elemento, pode ser nocivo ao ser humano. Materiais menores podem adentrar na corrente sanguínea e causar problemas de respiração. Dessa forma, as pessoas que residem nas vias de grande tráfego podem sofrer com problemas respiratórios, principalmente crianças e idosos.
Reportagem e Fotos: Loren Leuch
Edição e publicação: Laura Urbano Janiaki e Diogo Laba
Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios