Ponta Grossa revisa mapa da saúde para reduzir a sobrecarga nas UBS

Ponta Grossa revisa mapa da saúde para reduzir a sobrecarga nas UBS

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A sobrecarga das equipes de saúde nas unidades básicas de Ponta Grossa preocupa o Conselho Municipal de Saúde (CMS). Em várias regiões da cidade, profissionais da Atenção Primária atendem populações muito acima do limite recomendado pelo Ministério da Saúde, o que afeta o ritmo dos atendimentos e aumenta o tempo de espera para atendimentos e procedimentos. Esse cenário evidencia a preocupação com a territorialidade, que permite adequar o número de equipes e reorganizar a cobertura das regiões do município.
Diante da sobrecarga, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) iniciou um novo estudo de territorialização da Atenção Primária à Saúde (APS) para atualizar o mapa das regiões atendidas, redistribuir equipes, equilibrar a carga de trabalho entre as unidades e, caso necessário, realocar pacientes.
A rede conta com 50 Unidades Básicas de Saúde (UBS), segundo a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, que estão distribuídas em seis distritos sanitários: Boa Vista/Esplanada, Oficinas, Nova Rússia, Contorno/Santa Paula, Uvaranas I e Uvaranas II, e 88 equipes atuando nas UBS. Com população estimada em 375.632 mil habitantes (IBGE 2025), o município precisaria de cerca de 166 equipes completas para garantir o atendimento.
Essas equipes seguem dois modelos definidos pelo Ministério da Saúde: as Equipes de Saúde da Família (eSF) e as Equipes de Atenção Primária (eAP). As eSF, modelo prioritário do Sistema Único de Saúde (SUS), são compostas por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, e devem atender até 3 mil pessoas. Já as eAP, com carga horária reduzida (20 ou 30 horas semanais), atendem entre 1.500 e 2.250 pessoas, ampliando a cobertura em regiões com menor densidade populacional.
Segundo a FMS, a territorialização não é um documento fixo, mas um processo contínuo, que considera as necessidades de cada equipe e recursos disponíveis. O acompanhamento é feito pela Gerência de Atenção Primária, que monitora e realiza ajustes conforme as demandas. A territorialização, envolve mapear as populações atendidas, identificar vulnerabilidades, reconhecer condições de vida e compreender a relação do ambiente e os serviços públicos.
Segundo os pesquisadores Grécia Maria de Miranda Gondim e Maurício Monken, a territorialização estrutura os serviços do SUS com base em princípios como universalidade, integralidade e equidade. Isso significa que o mapa da saúde deve refletir as diferenças entre os bairros, considerando fatores como densidade populacional, distâncias, acesso e perfil epidemiológico, de modo que os recursos sejam distribuídos conforme as necessidades. Com o diagnóstico territorial, as equipes podem construir identidades locais, identificar problemas e potencialidades, tomar decisões e propor estratégias para reduzir desigualdades e fortalecer o vínculo entre profissionais e comunidade.
A FMS explica que a necessidade de repensar os territórios surgiu no início de 2025, impulsionada por fatores como o novo financiamento do Governo Federal, o crescimento populacional, a iminência da realização de um concurso público e o pacote de obras e reformas nas unidades. A Fundação também elenca os principais critérios na atualização da territorialização “A composição das equipes depende dos espaços físicos das unidades existentes,

emos que observar as barreiras de acesso e geográficas como as linhas de ônibus disponíveis por regiões, e a quantidade de  população cadastrada junto ao Ministério da Saúde”, descreve. A FMS informou que há previsão de novo concurso público nos próximos meses para ampliar o quadro funcional, com vagas para enfermeiros, agentes comunitários de saúde, farmacêuticos, odontológicos e multiprofissionais.
O CMS acompanha o processo e reforça a importância de enfrentar o problema da sobrecarga. Segundo o presidente do órgão, Jefferson Palhão, há unidades que atendem mais que o dobro de pessoas do que o ideal, o que prejudica a continuidade do cuidado.
A sobrecarga exposta pelo CMS é confirmada por quem atua diretamente nas UBS. Os profissionais da Atenção Primária relatam que a demanda e a deficiência de recursos humanos têm dificultado o atendimento e aumentado a pressão sobre as equipes.
Marina* (nome fictício), servidora da Prefeitura de Ponta Grossa, trabalhou por mais de dez anos em uma UBS do município. Com o tempo e a redução das equipes, sentiu os primeiros sinais de esgotamento e de queda da produtividade no trabalho. Ela conta que isso foi após a redução de servidores e aumento desproporcional no número de pacientes. “Na região onde eu trabalhava, a divisão das equipes começou a ficar desigual. Estávamos com falta de profissionais, enquanto os pacientes só aumentavam. Foi o momento que eu não consegui mais suportar a sobrecarga e pedi transferência dentro da instituição”, explica.
*Esta reportagem usa o nome fictício “Marina” para preservar a identidade da profissional entrevistada, que permanece em atividade no serviço público municipal.
Sai FMS entra Secretaria de Saúde
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Ponta Grossa deve ser transformada em Secretaria Municipal de Saúde a partir de 2026. A proposta foi apresentada pela prefeita Elizabeth Schmidt (União Brasil) à Câmara Municipal por meio do Projeto de Lei nº 377/2025, que prevê a extinção da FMS e a criação da nova secretaria a partir de 1º de janeiro do próximo ano. De acordo com o texto, a Secretaria assumirá todas as atribuições e processos jurídicos da fundação, passando a coordenar e executar as ações de saúde pública do município, em conformidade com as competências legais e constitucionais do gestor local do Sistema Único de Saúde (SUS).

Reportagem: Laura Urbano

Foto: Laura Urbano

Edição e Publicação: Annelise dos Santos e Joyce Clara

Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios


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