Arte sobre a pele: cuidados na prática de tatuagem e piercing
Em julho de 2025, o Conselho Federal de Medicina (CFM) vetou o uso de sedação, anestesia geral ou bloqueios anestésicos periféricos para tatuagens, independentemente da extensão ou localização. Segundo o CFM, não há evidências que assegurem a segurança dos pacientes. Além disso, ao permitir tatuagens de grande extensão, que não seriam toleradas sem suporte anestésico, a prática aumenta o risco de absorção sistêmica de pigmentos, metais pesados e outros componentes das tintas, podendo gerar toxicidade crônica, reações inflamatórias, granulomas, alergias retardantes e até possível desenvolvimento de câncer.
As únicas exceções são os procedimentos anestésicos com indicação médica, como a reconstrução da aréola mamária em mulheres submetidas à mastectomia. Ainda assim, o tema levanta questionamentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) contraindica o uso de anestesia em tatuagens pela falta de preparo do tatuador no manuseio de anestésicos. Além de riscos graves, como parada cardiorrespiratória, há prejuízos estéticos: a pomada anestésica pode enrijecer a pele e comprometer o resultado da tatuagem. Outro ponto crítico é a falta de manutenção e higienização dos estúdios, que agrava os riscos no ambiente da tatuagem.
Diretrizes da Vigilância Sanitária
A principal norma sanitária para estúdios de tatuagem no Paraná é a Resolução SESA/PR nº 0126/2007. A Anvisa define condições de instalação e funcionamento desses estabelecimentos e traz roteiros de inspeção para a licença sanitária. O Código de Saúde do Paraná (Lei Estadual nº 13.331/2001 e Decreto nº 5.711/2002) também contempla artigos específicos sobre a atividade.
Em Ponta Grossa, as inspeções ocorrem por solicitação dos estúdios, durante a renovação da licença ou após denúncias de irregularidades. A atividade é classificada como de alto risco sanitário, exigindo vistoria técnica e autorização prévia conforme o Decreto Municipal nº 22.705/2023.
As irregularidades mais comuns envolvem o uso de pigmentos importados sem registro na ANVISA, produtos vencidos, falta de higiene, descarte irregular de resíduos perfurocortantes e ausência de pia com água corrente para higienização das mãos. É comum que tatuadores adquiram tintas do exterior de forma irregular, configurando infração sanitária sujeita à inutilização dos produtos.
Os principais riscos à saúde estão ligados à negligência na segurança sanitária, especialmente à falta de assepsia adequada. Tatuagens extensas e longas aumentam as chances de infecção ou irritação da derme, exigindo a divisão do trabalho em várias sessões. Tatuagens feitas em feiras ou eventos elevam ainda mais os riscos, já que são realizadas em locais abertos e sem controle sanitário adequado.
Cuidados com o procedimento
De acordo com o guia de inspeção da Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa, o ambiente deve ter boa iluminação, ser limpo e ventilado, com paredes e móveis lisos e laváveis. A sala de procedimentos precisa de lavatório exclusivo com água corrente potável, e os profissionais devem higienizar as mãos antes e depois de cada atendimento, utilizando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “São muitos detalhezinhos também, por exemplo, a gente não pode varrer a sala com o cliente dentro, óbvio, toda a limpeza precisa ser realizada antes do cliente chegar. Tudo limpo com desinfetante hospitalar”, explica a tatuadora Nayane Blum, que acrescenta que “Não podem haver tapetes e plantas na sala de procedimento pelo risco de tétano”.
Os resíduos infectantes e perfurocortantes devem ser acondicionados em recipientes rígidos e estanques. Nayane explica que tintas e líquidos usados na bancada são solidificados e descartados por empresa contratada para coleta de resíduos. Todos os instrumentos devem ser esterilizados e armazenados em autoclave ou estufa.
A estudante de psicologia Fernanda Nobre relata ter enfrentado problemas ao fazer uma tatuagem em um estúdio no bairro Uvaranas. “Uma das coisas que mais me chamou a atenção e me assustou foi que ele não higienizou as mãos e pegou as luvas que estavam em cima da bancada e não em uma caixinha como eu imaginava que seria o certo”, conta. Ela afirma também não ter preenchido ficha médica antes do procedimento e notou que o lixo não tinha tampa.
Os cuidados continuam após o procedimento. Nayane alerta que infecções podem ocorrer durante e depois da tatuagem, especialmente em casos de alergias, dermatites, remoção de casquinhas e exposição ao sol durante a cicatrização.
A aplicação de piercings também requer protocolos rigorosos. A piercer Tamires Gasparetto, com 12 anos de experiência, indica os preparos prévios do procedimento. “Antes do cliente entrar na sala, faço a desinfecção completa com produtos hospitalares, o que leva em média 40 minutos. Por isso, atendo com hora marcada”, explica.
As joias passam por avaliação e controle de qualidade, são higienizadas em lavadoras ultrassônicas, enxaguadas com água destilada e secadas em máquina específica. Depois, são embaladas individualmente em grau cirúrgico e esterilizadas em autoclave. Tamires orienta que os clientes mantenham-se hidratados e bem alimentados antes e depois do procedimento. “O pós de cicatrização geralmente é feito com soro fisiológico e sabonete neutro. Já clientes com diabetes, vitiligo ou imunidade baixa exigem cuidados diferenciados”, afirma a profissional.
Denúncias de situações irre
A população pode denunciar práticas irregulares em estúdios de tatuagem através do Telefone 156 da Ouvidoria da prefeitura municipal de Ponta Grossa, ou através do site da prefeitura de Ponta Grossa, acessando o link Prefeitura 156, https://prefeitura156.pontagrossa.pr.gov.br. Também é possível fazer a denúncia pessoalmente junto ao atendimento presencial da Ouvidoria da Fundação Municipal de Saúde, situada na Rua Afonso Pena, No 87 – Vila Estrela.
Reportagem: Eduarda Breus
Foto: Arquivo pessoal/Tamires Gasparetto
Edição e Publicação: Luisa Andrade e Joyce Clara
Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios

