Aguardando na sala de espera: o atendimento de saúde em Ponta Grossa
Reportagem vivencia um dia na UPA Santana, das mais movimentadas, sobretudo após mudanças na área de saúde
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santana, uma das mais movimentadas, especialmente após as mudanças no sistema de saúde de Ponta Grossa, em feriados recebem mais ocorrências e pacientes, pois os postos de saúde dos bairros estão fechados.
Dentro do unidade, a área de recepção é relativamente grande, com cerca de trinta cadeiras. Nove estão ocupadas. Sento no meio para observar melhor a movimentação interna e por uma das grandes janelas, também a externa, através da qual acompanho a reação dos pacientes que deixam a UPA Santana.
Observo a fila de espera para triagem e uma mulher abana constantemente as pernas. Usa calção curto para evitar contato com a área queimada. Ela está com queimaduras nas duas pernas. Quando chega ao guichê de triagem, relata que a queimadura foi um acidente ocorrido durante a limpeza. Sem poder sentar, aguarda de pé. O atendimento é rápido, aparentemente é encaminhada para realizar algum curativo ou ser medicada.
Pela janela, observo do lado de fora que uma moça carrega com ela cinco cartelas de remédio nas mãos, mal consegue segurar todas. Ela pega o celular, liga e, ao tirar a máscara, começa a chorar. O rapaz está sentado na mureta ao lado. O telefonema é longo. Ela para de chorar, abraça o companheiro, sinal de despedida. O rapaz vai embora, ela permanece na área externa da UPA. Então senta, espera um pouco e vai embora esfregando os olhos.
Repórter João Gabriel Vieira passou um dia acompanhando pacientes em busca de atendimento médico no UPA Santana | Foto: Yuri A.F. Marcinik
Reparo então em um banner informando os cinco níveis de gravidade de atendimento: vermelho, laranja, amarelo, verde e azul. Casos que não são urgentes, classificados em azul, podem esperar por até quatro horas. Então funcionária sai do consultório falando ao telefone com tom de voz elevado:
— Preciso que você venha aqui, não consigo mais.
A sala de espera esvazia um pouco, aproveito e vou até a entrada da UPA. Observo um senhor, funcionário da unidade que está fumando; duas crianças vendem bala na esquina e um homem está parado em frente ao hospital. Com semblante de preocupação, fala ao celular. Logo para. Senta em uma mureta. Aproximei-me e perguntei se espera alguém, ele acena positivamente com a cabeça.
Não quero perguntar porque está ali, mas nem precisou; após alguns segundos, ele me diz que sua mãe, de 65 anos, residente do bairro Neves, está internada à espera de transferência, não havia mais quartos disponíveis na UPA. A paciente tem pneumonia e problemas pulmonares. Rodrigo, o nome do filho preocupado, conta que sua mãe estava no corredor do hospital sendo medicada desde às 11 horas da manhã do dia anterior, faziam mais de 15h que ela estava esperando transferência para um leito hospitalar.
— A gente tentou outras soluções, levar para outros hospitais, mas não tem vaga. Vamos ter que esperar a transferência para outra cidade. Não tem o que fazer.
Volto à sala de espera, novamente cheia e, ao passar pela porta, vejo uma senhora de idade, segurada por um adolescente e um homem de meia idade. Ela bate os dentes constantemente. Me dirijo ao fundo da sala, ocupo uma das últimas cadeiras vagas, sento e observo. Poucas das pessoas de quem falei ainda estavam ali aguardando atendimento. Vou embora. O dia foi pesado, mais do que eu esperava. No jornalismo, buscamos a realidade, mas esquecemos que ela pode ser dura e injusta demais.
Ficha Técnica
Reportagem: João Gabriel Vieira
Edição e Publicação: Leonardo Duarte
Supervisão de produção: Muriel E.P. Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Carlos Alberto de Sousa