Burnout na Academia: saúde mental em declínio
Pressão, incertezas sobre futuro e excesso de atividades são fatores potenciais para diagnóstico da doença
A Síndrome de Burnout, resultante da sobrecarga em situações de trabalho, é reconhecida desde 2022 como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O termo “burn out” significa “queimar por completo”, e faz referência à saúde mental e psicológica do indivíduo, que está sujeito ao estresse e ao esgotamento no ambiente de trabalho ou estudo. De acordo com a psicóloga Letícia Boratto, a doença é diagnosticada através de um conjunto de sintomas que não necessariamente são encontrados em todos os pacientes de forma igualitária.
Ela divide os indicativos em três campos: organizacional, psíquico e social. No contexto organizacional, o Burnout pode ser visto através do baixo engajamento e falta de interesse nas atividades e estresse com colegas. No campo psíquico, a síndrome pode desencadear outras comorbidades como ansiedade, depressão e insônia. No contexto social, é comum que o indivíduo diagnosticado com Burnout abandone a vida social e apresente problemas nos relacionamentos.
Estes sinais estão sendo cada vez mais frequentes em jovens universitários. A sobrecarga de atividades e demandas da faculdade colabora para a pressão, desgaste físico e mental do estudante, podendo resultar em trabalhadores que, ao ingressarem na vida profissional, já estão com quadros de estresse e tensão.
A estudante de Engenharia de Produção, Karen Comelli, de 20 anos, teve episódios de Burnout em 2022. Na época, além da faculdade, ela participava e liderava projetos de empreendedorismo na Empresa Júnior de Engenharia. “Eu assumi muitas responsabilidades ao mesmo tempo. Não tinha rotina definida, haviam dias onde as reuniões iam até meia noite. Isso me deixou estressada e exausta mentalmente. Acabei adoecendo porque me sobrecarreguei com muitas atividades e não soube conciliar”, conta. Devido aos episódios de estresse, ela deixou de fazer parte dos projetos e, neste ano, priorizou o estágio e a graduação, tendo mais tempo para se dedicar a hobbies, como aulas de idiomas.
Para a psicóloga Letícia, episódios de estresse no ambiente universitário acontecem por dois principais fatores: obrigações acadêmicas e dúvidas sobre o futuro. “Além de possuírem responsabilidades relacionadas aos estudos, os acadêmicos também têm preocupações com o mercado de trabalho, planejamento de carreira e incertezas”, explica.
Em cursos integrais, a sobrecarga tende a ser recorrente. Eduarda Chupel, 22 anos, é acadêmica de medicina. Suas aulas ocorrem no período matutino e vespertino, mas se necessário, os professores podem marcar aulas noturnas. Além das demandas acadêmicas, ela acredita que a pressão envolvida no curso e na profissão gera estresse e cansaço. “Eu me cobro muito para ser uma profissional decente, não posso errar porque isso pode custar uma vida”, relata. Além de se organizar por listas de tarefas, fazer atividades físicas e manter uma alimentação equilibrada, Eduarda prioriza o que acredita ser mais relevante para sua área de atuação. “Eu tento selecionar o que não posso deixar de fazer, o que é mais intuitivo, não me dedico da mesma forma”, afirma.
Em Ponta Grossa, a UEPG oferece atendimentos especializados voltados ao acolhimento e permanência dos estudantes. Ademais, algumas Associações Atléticas de cursos superiores têm parcerias com clínicas de psicólogos. É o caso da XV de Outubro, da UFTPR-PG, a Atlética de Medicina, da UEPG, e Hornets, da Faculdade Sant’Ana, que oferecem descontos para os sócios que desejarem atendimento terapêutico. Além das consultas psicológicas, Letícia destaca que investir em atividade física e momentos de lazer, são formas de diminuir o estresse e a possibilidade de desenvolver Burnout.
FICHA TÉCNICA
Reportagem: Isadora Ricardo
Edição: Maria Eduarda Eurich
Foto: Emanuelle Soares
Publicação: Maria Eduarda Eurich
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de edição: Cândida de Oliveira e Mariel E.P. Amaral