Carambeí é a única cidade da região a disponibilizar transporte público gratuito

Os ônibus transportam mais de 28 mil pessoas por mês

Carambeí é a única cidade da região a disponibilizar transporte público gratuito

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Os ônibus transportam mais de 28 mil pessoas por mês

 

A ideia de tornar o transporte acessível não é nova. A lei nacional de Mobilidade Urbana, número 12.587/12, tem como objetivo melhorar a acessibilidade aos diferentes modos de locomoção. As políticas públicas como a Tarifa Zero garantem que todos tenham acesso ao transporte coletivo gratuito. Além disso, a iniciativa também visa incentivar o deslocamento sustentável e reduzir a migração de usuários para veículos particulares. Segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), as cidades que adotaram a gratuidade tiveram um aumento no número de passageiros do sistema de transporte coletivo. A primeira cidade a adotar a tarifa zero foi Conchas, em São Paulo, em 1992. A entidade mostra que após a pandemia houve um aumento no número de municípios que passaram a oferecer a gratuidade. Atualmente, no Brasil, 45 municípios oferecem gratuidade parcial ou total na tarifa do transporte público. Em 120 deles, toda a população pode desfrutar do benefício em qualquer dia da semana, segundo dados da Associação. Ainda de acordo com a instituição, 61% das cidades que oferecem a gratuidade têm menos de 50 mil habitantes e nenhuma delas passa dos 400 mil. Desta lista, 16 municípios paranaenses oferecem o benefício do passe livre, mas apenas um deles está localizado nos Campos Gerais.

Segundo o Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Carambeí é uma cidade de 24.159 habitantes. O município está localizado a cerca de 20 km de Ponta Grossa. Em 2023, a Prefeitura de Carambeí criou o programa “Busão Grátis”, que oferece passe livre no transporte público para a população desde o dia 6 de novembro daquele ano. Segundo o governo do município, a iniciativa tem como principal objetivo melhorar a mobilidade urbana e incentivar o desenvolvimento econômico local. O serviço opera de segunda a sexta-feira, das 6 horas às 18 horas, e aos sábados das 6 horas às 13 horas. Ao todo, são três linhas de ônibus que abrange o perímetro urbano (Leste e Centro) e rural (Catanduvas) da cidade e circulam a cada meia hora circulam a cada meia ho-ra. O Serviço de Transporte Público Coletivo de Passageiros de Carambeí (SET-PAS) tem um investimento anual de cerca de R$ 1 milhão destinado pela Prefeitura. Os veículos utilizados na cidade são fornecidos pela empresa G3, vencedora do processo licitatório em 2023. O único dado disponibilizado pelo Serviço municipal acerca do custo da operação do transporte público é do início da circulação dos veículos, em 2023, em que, segundo o sistema, cada quilômetro seria equivalente a R$8,90.

Em entrevista coletiva, em 2023, a prefeita de Carambeí, Elisângela Pedroso, destacou a importância da implementação da tarifa zero, já que o município não contava com um sistema de transporte desde 2019 e os novos veículos seriam responsáveis por facilitar a locomoção dos moradores pelas principais áreas da cidade. Além disso, a prefeita reforçou que o município é o único dos Campos Gerais a oferecer 100% de gratuidade no transporte público. A estudante Rebeca de Oliveira, de 16 anos, utiliza o sistema de transporte público durante a semana, na rota Leste para o Centro, para chegar à escola. A estudante afirma que os ônibus são importantes para que possa desempenhar suas atividades diárias. “Eu não conseguiria usar os ônibus sempre, levando em consideração as tarifas cobradas nas outras cidades, pesaria no bolso pagar diariamente”, conta. Quando o programa foi lançado, a estimativa do governo municipal era transportar sete mil passageiros por mês, no entanto, apenas quatro meses após os ônibus começarem a circular, mais de 13 mil pessoas já utilizavam o sistema. Atualmente, os veículos da cidade levam cerca de 28 mil passageiros mensalmente. Além disso, estimava-se que no período de um mês, cada veículo circulasse 11 mil quilômetros, porém, segundo o último levantamento realizado, os ônibus rodam aproximadamente 13 mil quilômetros durante o mês. Ainda de acordo com a Prefeitura, a iniciativa também contribuiu para a redução do tráfego no centro da cidade, já que cerca de 300 carros deixaram de circular diariamente.

Suzane Degger, também moradora de Carambeí, relata que apesar de o sistema de transporte público gratuito atender boa parte de suas demandas, ainda há falhas que a impedem de realizar algumas atividades, como a escassez de pontos de ônibus e os horários limitados. “O transporte atende parte das minhas demandas, mas não todas, eu ainda preciso andar cerca de dois quilômetros para chegar ao ponto mais perto da minha casa. Não são todos os horários que me atendem e o trajeto não passa por algumas partes da cidade que eu preciso ir”, conta. A moradora afirma ainda que os veículos são bem conservados e a mudança mais necessária no sistema é a criação de mais rotas, horários e instalação de novos pontos de ônibus pela cidade. A Prefeitura de Carambeí acredita que o sucesso do programa Busão Grátis tem atraído a atenção do governo de outros municípios interessados em implementar sistemas semelhantes, o que consolidou a cidade dos Campos Gerais como uma das principais referências em mobilidade urbana gratuita no Paraná. Além de Carambeí, Antonina, Cianorte, Clevelândia, Faxinal, Ibaiti, Itaperuçu, Ivaiporã, Morretes, Palmas, Paranaguá, Pitanga, Quatro Barras, Rio Branco do Sul, Ubiratã e Wenceslau Braz também oferecem a gratuidade integral no sistema de transporte público.

O cientista político e mestre em políticas públicas, Giancarlo Gama, explica que o sistema de tarifa zero traz benefícios para as cidades e suas populações. “As cidades que implementaram a gratuidade observaram um aumento na receita do município. Além disso, tem um crescimento significativo no comércio local, já que permite que as pessoas possam se deslocar e que tenham mais poder de compra. Também vemos uma melhora na questão dos impactos ambientais, já que com um sistema de transporte de qualidade e gratuito, as pessoas tendem a migrar do transporte individual para o transporte público”, explica. O especialista afirma que “é comum que a gratuidade seja vista como inviável pelos governos municipais, mas 1 que há pouco entendimento sobre a temática. “A maioria das cidades que adotam a tarifa zero financiam o sistema 100% com recursos do município. A prefeitura realoca os recursos dentro do orçamento público.

Algumas cidades fazem grandes investimentos em políticas que ampliam a cidade para os carros, mas quando se fala sobre investir em transporte público, a temática é tratada como inviável”, afirma. Além disso, a pesquisa de mestrado de Gama ainda indica que a tarifa gratuita custaria em média R$0,12 por habitante por dia.

 

Reportagem e Fotos: Ana Beatriz de Paiva

Edição e publicação:  Vitoria Schrederhof e Diogo Laba

Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios

 


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