Comunidade LGBTQIA+ nas telas

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Heartstopper e a representatividade para as novas gerações

 

Por muito tempo, a representação LGBTQIA+ trazidas na televisão e nos filmes foram carregadas de sofrimento, estereótipos, de finais tristes e de questões que me fizeram questionar “Será que um dia eu vou poder ser feliz amando outra mulher?”. Por anos, desde a minha descoberta na adolescência, enquanto uma mulher que ama outras mulheres, me perguntava se sempre seria difícil amar e ser amada. Me ver representada fora dos padrões estigmatizados era impossível. As representações apresentadas não condiziam com o que realmente era ser uma adolescente que faz parte da comunidade.

Será que as novas gerações que se identificam como LGBTQIA+ são visibilizadas em produtos audiovisuais? Um exemplo de produção contemporânea nesse sentido é a série Heartstopper, da Netflix, que é baseada em uma saga de cinco livros. Heartstopper estreou em 2022 e no mês de agosto o streaming lançou a segunda temporada. A série, assim como o livro, de título homônimo, em formato de história em quadrinhos (Editora Schwarcz, 2021), conta as descobertas das sexualidades dos adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor). Além dos dois personagens, o enredo também envolve outras pessoas que fazem parte da história.

Temporadas que representam

A primeira temporada da série apresenta, superficialmente, os personagens e suas histórias. Também mostra o desenvolvimento do romance entre Charlie e Nick, um adolescente gay e outro bissexual. Ainda na primeira temporada, a representação da comunidade LGBTQIA+ é mais restrita, uma vez que não apresenta personagens queer ou assexuais. Entretanto, na segunda temporada, o personagem Isaac (Tobie Donovan), que se identifica como assexual, ganha mais destaque na trama.

Arte: Catharina Iavorski

Nos novos episódios lançados em agosto, é perceptível a preocupação de apresentar personagens diversificados e com histórias profundas. Na segunda parte da série, a gente acompanha o desenvolvimento do namoro de Charlie e Nick e como eles assumem a relação para amigos e familiares. A série também conta a história do amigo do casal Tao (William Gao) e de Elle (Yasmin Finney), uma mulher transsexual. A relação entre esses dois personagens vai além do fato dela ser trans. Pois, nos conflitos, em nenhum momento tal questão é motivo das discussões.

Em certa medida, isso é bom. Porque a personagem não é resumida apenas enquanto uma mulher trans, mas descrita e apresentada como uma personagem talentosa, com sonhos. Outro ponto positivo é que a atriz que interpreta Elle também é uma mulher trans. Logo, percebe-se que a direção de Heartstopper preocupa-se em colocar atores e atrizes que condizem com os personagens que serão interpretados, dando oportunidade para profissionais da comunidade.

A série se esforça em trazer certa interseccionalidade nos enredos ao apresentar personagens gays, bissexuais, lésbicas e negros. Porém, a história ainda é muito apegada a um contexto social de privilégio econômico, no qual os personagens não precisam se preocupar com a questão financeira. O ambiente é bem problemático, em termos de bullying e preconceito, mas ainda assim é uma realidade privilegiada.

Por exemplo, se os personagens fossem pessoas com renda inferior, talvez outros marcadores sociais teriam destaque e possivelmente mudariam o enredo. Apesar de a série apresentar diversidade, mais uma vez, os protagonistas são homens brancos, cisgêneros e de classe média. Contudo, a série traz alguns elementos importantes de representatividade e consegue criar um clima de leveza nas descobertas da sexualidade, por mostrar que é possível ser feliz sendo LGBTQIA+.

 

Ficha técnica

Reportagem: Catharina Iavorski
Artes: Catharina Iavorski
Edição e publicação: Leriany Barbosa
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Muriel E.P. Amaral


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