Crochê vira ferramenta de reconstrução na Cadeia Pública
Pessoas privadas de liberdade usam “amigurumis” para redução de pena e serviço à comunidade
| Por Diogo Laba
Na Cadeia Pública Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, o artesanato tem um novo significado como ferramenta de reconstrução pessoal e social. Entre pontos e linhas, pessoas privadas de liberdade (PPL’s) encontram nos “amigurumis” (técnica de artesanato japonesa que combina tricô e crochê) e bonecos de lã feitos à mão, uma forma criativa de ocupar o tempo, gerar renda e reencontrar a própria dignidade.
A proposta faz parte de ações de ressocialização e enfrentamento da ociosidade no sistema carcerário. Com a rotina restrita, personagens variados tomam forma pelas mãos das pessoas privadas de liberdade de ursinhos e bailarinas até o mascote da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Resultado de uma parceria entre o Departamento de Polícia Penal do Paraná (Depen-PR), o Conselho da Comunidade da Comarca de Ponta Grossa e a UEPG, o projeto fornece os materiais e acompanha o processo de produção dos amigurumis. A atividade integra um núcleo de atendimento que acolhe pessoas monitoradas eletronicamente.
A produção é doada a instituições, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que repassa a crianças. O chefe regional do Escritório Social da Polícia Penal, Jean Fogaça, comenta sobre um desses momentos. “As crianças da APAE fizeram um vídeo para agradecer os detentos. Elas ficaram profundamente emocionadas e se sentiram valorizadas. Isso reforça o verdadeiro propósito de estarem ali: a ressocialização; a chance de recomeçar e, em um futuro próximo, retornar à sociedade com novos propósitos”, afirma.
A adesão é voluntária e apenas PPL’s com bom comportamento e penas mais leves são autorizadas a participar. A decisão é considerada parte fundamental do processo de ressocialização. O presidente do Conselho da Comunidade, Ermar Toniolo, destaca os impactos positivos gerados por ações como essa. “Quando a pessoa está ali, sem fazer nada, acaba alimentando pensamentos negativos. Nós oferecemos uma alternativa. Muitos dos que participam conseguem se reintegrar e não voltam a cometer crimes”, observa.
Mais do que uma atividade manual, o crochê é considerado terapêutico. Contribui para a saúde mental, eleva a autoestima e pode refletir direto no cumprimento da pena: a cada três dias de trabalho, um dia é reduzido. Ao mesmo tempo, o aprendizado de um novo ofício desperta valores como responsabilidade, disciplina e esperança.
Ao estimular a criatividade e a autonomia, o projeto mostra que é possível desenvolver iniciativas socialmente relevantes dentro das unidades prisionais e evidencia que, com apoio e oportunidade, é possível oferecer novos caminhos a quem quer recomeçar.
Reportagem: Diogo Laba
Edição e Publicação: Mariana Real, Mariana Borba Ana Beatriz, Eduarda Macedo.
Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios