Desafios na inserção social de pessoas com esquizofrenia

Desafios na inserção social de pessoas com esquizofrenia

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A esquizofrenia ainda impõe barreiras para que pessoas diagnosticadas possam exercer autonomia e ocupar espaços sociais. Mesmo com avanços na luta antimanicomial e na criação de serviços substitutivos aos antigos manicômios, a inclusão segue distante da realidade de muitos pacientes e de suas famílias. O acesso ao tratamento, o preconceito e a falta de estrutura adequada nos serviços públicos são desafios que permanecem em evidência, especialmente em cidades de médio porte como Ponta Grossa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a esquizofrenia como um transtorno psiquiátrico que se caracteriza por causar deficiências significativas na forma como a realidade é percebida. O órgão aponta que a esquizofrenia é a terceira causa de perda de qualidade de vida entre pessoas de 15 a 44 anos. Pelo menos 1,6 milhão de pessoas carregam esse diagnóstico.
A enfermeira e pesquisadora da área, Gabriela Aragão Aparecido, relata que os principais sintomas incluem alucinações, delírios, confusão mental, oscilações de humor, dificuldade de concentração e falta de motivação. Além dos sintomas psiquiátricos, uma das consequências do transtorno é o preconceito vindo da sociedade em torno da condição. “Para evitar rejeição, [pessoas com esquizofrenia] mudam seu comportamento, o que aumenta o isolamento e dificulta relacionamentos, oportunidades de trabalho e o acesso ao tratamento, intensificando a sensação de solidão”, explica Gabriela.
Elaine Ribas de Oliveira é mãe de Celso que, até os 17 anos, vivia uma vida comum. O garoto trabalhava como aprendiz de atendente de mercado e tinha uma vida social. Nesse período, começou a apresentar sintomas de confusão, agitação e mania de perseguição. “Ele saía para a rua, subia em árvores, achava sempre que alguém queria fazer mal a ele. Chegou até a agredir uma pessoa na rua, porque achava que essa pessoa queria matar ele”, desabafa Elaine.
Como Celso não queria buscar ajuda médica, Elaine conseguiu, por contato de uma assistente social, que a equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) fosse até a sua casa. A partir deste acompanhamento, Celso recebeu o diagnóstico e iniciou o tratamento da maneira correta. Hoje, aos 27 anos, o paciente ainda passa por dificuldades. “Ele não consegue trabalho, porque não consegue nem pegar um ônibus sozinho. O INSS nega o benefício, alega que problema mental não é deficiência”, conta Elaine. De acordo com a Lei n° 13.146/2015, os transtornos mentais são considerados deficiência a depender de uma avaliação psicossocial, que considera o quão limitante é a condição.
CAPS e reinserção social
A última reforma psiquiátrica do Brasil contribuiu para o avanço da luta antimanicomial. A Lei Paulo Delgado, nº 10.216/2001, prevê a substituição dos manicômios do país por redes de serviço que incluem inserção social e o cuidado com as liberdades individuais, priorizando atividades terapêuticas, de aceitação do transtorno e controle dos sintomas. “A gente vem de um processo onde o foco sempre foi a extinção do sintoma. Mas a psicologia e as novas áreas entendem o sintoma como manifestação de sofrimento”, defende a psicóloga Camila da Silva Eidam Lima, que atua na unidade de saúde mental do CAPS de Ponta Grossa.
A equipe multiprofissional é composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, profissionais de educação física e assistentes sociais. Os profissionais do CAPS trabalham com oficinas, grupos terapêuticos, além da medicação que prioriza a reabilitação do paciente, dialogando com sua inserção social e priorizando as políticas brasileiras de saúde mental.
Celso depende do CAPS para os cuidados com o transtorno. Elaine comenta que seu filho frequenta o grupo terapêutico toda semana, além das consultas mensais com o psiquiatra. “Ajuda bastante ele a sair do isolamento. Ajuda na interação social. Se fosse por ele, não sairia para lugar nenhum”, discorre Elaine.
Apesar do papel fundamental do CAPS na inclusão social de pessoas que sofrem com o diagnóstico, o sistema apresenta limitações. Jefferson Palhão explica que as dificuldades estão relacionadas à falta de profissionais. “Quanto mais especializado for o profissional da saúde, mais caro ele é. Então tem uma dificuldade de contratação de médico psiquiatra”, afirma. Camila Lima compartilha da mesma visão. Além disso, a psicóloga afirma que existe uma defasagem no atendimento. “A gente acaba priorizando os casos bem mais graves, porque são os casos que a gente precisa ter uma atenção maior e direcionar as nossas ações”. De acordo com a psicóloga, para uma população de 358 mil habitantes em Ponta Grossa, segundo dados do Censo de 2022 do IBGE, seria necessário pelo menos mais dois CAPS voltados a transtornos mentais.
O estigma em torno da esquizofrenia provém da falta de informação sobre o transtorno, além da visão midiática que reafirma que pessoas com esquizofrenia são violentas. De acordo com Gabriela Aparecido. “Muitas [pessoas com esquizofrenia] acabam internalizando o preconceito que sofrem, deixando de se aceitar e até recusando o diagnóstico”, explica. Esses fatores acarretam no aumento do isolamento e intensificam a sensação de solidão.
A visão daquele sujeito incontrolável dificulta muito no entendimento das pessoas o que de fato é um transtorno mental e também no acesso dessas pessoas aos serviços de saúde”, relata a psicóloga. A estigmatização do transtorno também acarreta no abandono familiar. Gabriela Aparecido realizou, em 2019, uma pesquisa com 12 pacientes diagnosticados com esquizofrenia. Sete deles sentiram afastamento da família após o diagnóstico.

Reportagem: Mariana Borba

Foto: Mariana Borba

Edição e Publicação: Loren Leuch e Joyce Clara

Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios


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