Em contramão à preservação, imóveis históricos são demolidos em PG

Em contramão à preservação, imóveis históricos são demolidos em PG

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Residência da família Justus está entre os imóveis que foram demolidos nos últimos anos

No início de 2023, o município registrou a demolição de duas edificações historicamente significativas em Ponta Grossa. Uma delas era a Mansão Bezerra de Menezes, casarão de 1958, localizado na rua Dr. João Cecy Filho, no centro de Ponta Grossa. A Mansão era conhecida por ter sido instituição de abrigo e cuidados para meninos desamparados, abandonados, órfãos ou carentes. O outro imóvel era mais antigo, de 1924, e ficava na rua Marechal Deodoro, próximo ao Parque Ambiental. Ele possuía uma fachada na cor vermelha com detalhes em gesso e desenhos abstratos, estampando o conceito arquitetônico de 1920 na cidade.

Entre as edificações que se destacaram por suas histórias, estão o Cine Império (1939), a residência das Famílias Justus (1950), e o Mercado Municipal (1960), que vieram a baixo. A Primeira Catedral Sant’Ana (1906) e a residência da Família Osternack (1950), também foram demolidas, mas possuem novas construções nos locais.

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Antônio Taborda e Silvio Souza, moradores de Ponta Grossa, recordam com saudade o Cine Império, que foi um dos primeiros cinemas de rua da cidade. “Ficava em frente a praça Barão do Rio Branco e era bonito, hoje em dia a gente não tem nada parecido”, conta Antônio. “Eu frequentava muito o Cine Império, ele era bastante popular”, acrescenta Silvio. Em 2014, o cinema veio ao chão e no local, atualmente, há um terreno baldio. Em vídeo do antigo Cine Império, postado na web pelo jornalista Cássio Murilo, o internauta Haylan Reis comenta as imagens com lamentos à perda que foi para a cidade a demolição do local. ‘‘Lamentável ver um prédio histórico, onde tanta gente descobriu o cinema, aprendeu a gostar de arte e se divertiu sendo demolido. Um prédio histórico por onde passaram várias gerações, ir ao chão por falta de apoio público é realmente muito triste”, relata Haylan. Atualmente existem apenas dois cinemas em Ponta Grossa, ambos localizados em shoppings.

Do extinto Cine Império ficou apenas o terreno na Avenida Bonifácio Vilela. Ilustração e foto: Evelyn Paes

A administradora Vera Lopes dos Reis conta que costumava frequentar a casa da família Osternack, onde morava sua amiga Kátia Osternack. ‘‘Ia sempre lá para estudarmos, fazermos trabalhos do colégio. Achava linda demais aquela casa, mas infelizmente ela foi demolida em 1981’’ conta. A edificação ficava na Avenida Vicente Machado, esquina com a Rua Santos Dumont, e hoje o local abriga uma agência bancária. Na época em que foi demolida, a residência pertencia ao Banco Bamerindus.  

De acordo com a historiadora Elizabeth Johansen, é importante preservar essas edificações, pois elas são significativas para mostrar as transformações que a cidade passou durante os anos. “Não devemos limitar a preservação, não devemos preservar apenas as construções da elite ou de uma religião predominante na cidade. Devemos levar em consideração os imóveis que representam os componentes da história de Ponta Grossa”, analisa Johansen.

A historiadora também reflete sobre a demolição da primeira Catedral Sant’Ana, igreja matriz do município. ‘‘A justificativa para a demolição da igreja foi totalmente falha. Foi afirmado que ela não comportava mais a população e realizaram a demolição em 1978. a igreja não comportava muitas pessoas, mas não é uma justificativa apresentável, pois poderiam construir outra igreja em outro lugar’’ afirma. A primeira Catedral Sant’ana se localizava na Praça Marechal Floriano Peixoto, local que é considerado como marco zero da cidade.

A residência da família Osternack deu espaço a uma agência bancária na Avenida Vicente Machado. Ilustração e foto: Evelyn Paes.

Tombamento 

A Prefeitura de Ponta Grossa é responsável pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac), órgão responsável por discutir e decidir quais serão as edificações preservadas no município. Uma das etapas para o cuidado com os imóveis acontece através do processo de tombamento. O tombamento serve para auxiliar na conservação e reestruturação das edificações, para que elas não percam detalhes da sua estrutura original e não sejam demolidas. ‘‘A proposta de tombamento é levada para a reunião do conselho e nela se discute sobre a relevância daquele imóvel. Após as discussões é votado se ele vai para o inventário cultural, se é tombado preliminarmente ou se descartado do rol de bens com interesse de preservação’’, relata o conselheiro do Compac, Jonny Willian. De acordo com o conselheiro, qualquer pessoa pode indicar um imóvel para o processo de tombamento.

 

Ficha técnica
Reportagem:
Evelyn Paes
Foto e ilustração: Evelyn Paes
Edição e publicação: Larissa Onorio
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de publicação: 
Cândida de Oliveira e Muriel Amaral


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