Explorando o Universo Cosplay no Brasil
Da cultura do Cosplay de Ponta Grossa às realidades regionais
Introdução
Cosplay é um termo em inglês, formado pela junção das palavras costume (fantasia) e roleplay (brincadeira ou performance). A atividade é considerada um hobby onde as pessoas que participam se fantasiam de seus personagens fictícios favoritos da cultura pop. Um cosplay pode estar relacionado com personagens de games, animes, mangás, filmes, desenhos e até mesmo de livros.
Fazer um cosplay se baseia na ideia de DIY – Do It Yourself (faça você mesmo), onde os participantes produzem suas próprias roupas e adereços necessários para compor a caracterização do personagem. Além disso, participar desse movimento não se limita apenas a usar uma roupa extravagante, mas também interpretar o personagem escolhido da maneira mais similar possível.
De acordo com o El País,, a primeira pessoa a se fantasiar de um personagem fictício foi Forrest J. Ackerman, no ano de 1939, na I World Science Fiction Convention, na cidade de Nova Iorque. Com o passar dos anos, foram surgindo mais personagens e com isso mais fãs indo aos eventos se caracterizando como eles, criando conceitos de Costuming (Figurinos), Fan Costuming (Fan Fantasiado) ou Masquerade (Mascarado).
A criação do termo cosplay teria surgido nos anos de 1984 pelo produtor Nobuyuki Takahashi, quando o mesmo foi a um evento de ficção científica em Los Angeles e conheceu os Masquerades. Ao voltar para o Japão, escreveu um artigo para uma revista descrevendo as pessoas fantasiadas como cosplayers.
O universo Cosplay
O universo do Cosplay é uma área muito ampla, com uma grande possibilidade de atuação. Para quem está iniciando no meio, pode escolher entre atuar como cosplayer, cosmaker, organizador de eventos, juiz de evento, competidor, animador ou social mídia. O Cosmaker é quem produz as peças de roupas, perucas e acessórios para que os cosplayers utilizem em competições, eventos ou nas redes sociais.
A organização de eventos é uma das principais atividades. Roxxy Sant’Anna é cosplayer, atriz e dubladora a 14 anos, é popularmente conhecida por ser a voz do Cyno (de Genshin Impact) e o Daren (o Leão do Proerd). Roxxy é uma das organizadoras do evento“Quadradinho Cosplay” em Brasília (DF), um evento em homenagem aos cosplayers da cidade. Ela fala que organizar eventos nesta área, por mais que seja uma atividade desgastante e exigente, é satisfatório, já que o mundo do Cosplay costuma abraçar os eventos mais do que outras áreas. “Organizar concursos como estes sempre exigem bastante atenção. Quando se trabalha com público, é importante ouvir feedbacks, cuidar do horário. É bastante cansativo, mas ouvir cosplayers elogiando e agradecendo pelo nosso trabalho, faz tudo e qualquer estresse valer a pena. Temos um público muito dedicado aqui em Brasília”, explica.
Cosplay em Ponta Grossa
O número de eventos e de cosplayers em Ponta Grossa cresceu nos últimos anos. O Geek Festival e Geektopia são eventos recentes que ficaram muito populares na cidade, o que não somente aumentou a popularidade da cultura cosplay, como também tornou os eventos uma atividade anual, com edições já programadas para 2024. Rafaela Vieira, a Captain Junki, é cosplayer, cosmaker e maquiadora em Ponta Grossa. Atuante na área desde antes da pandemia, explica que essa popularização do cosplay não se deve apenas a organização de eventos por parte da cidade, mas também graças às redes sociais e as atividades que os colegas de área realizavam ao longo da pandemia. “Deu para observar que o Cosplay cresceu muito em Ponta Grossa na época da pandemia, principalmente pelo aumento do uso das redes sociais, como o Tik Tok e Kwai. As pessoas viam a gente atuando na internet e entendiam que também podiam fazer aquilo elas mesmas”, explica Rafaela.
Apesar do crescimento de cosplayers na cidade, o mercado de trabalho na área ainda é muito refém de atividades na Internet e de participações em festas. Marcio Lopes (Mark Cosplay) atua como cosplayer em Ponta Grossa desde 2020. Sobre o mercado de trabalho, ele destaca que a região ainda é um pouco parada, não tendo muitas oportunidades para se sustentar apenas como cosplayer na cidade. “ O mercado aqui é um pouco fraco. É complicado achar material e achar trabalho. Aqui o que você vai conseguir trabalhar é como animador de festa infantil com personagens que a garotada gosta, mas nada muito além disso”, explica. Tanto Mark quanto Captain Junki destacam que o cosplay não é tão valorizado em Ponta Grossa, e veem a internet como meio mais fácil de conseguir trabalhar com o projeto, além de conseguir contatos e também referências para trabalhos, porém ressaltam que na Internet, o mercado também não é muito rentável, já que aplicativos como o Kwai não dão um grande lucro, como dava no período pandêmico.
O Cosplay em outras regiões do País
A realidade vivida em Ponta Grossa não é muito distinta de alguns grandes centros do Brasil. Nascido no Complexo do Alemão (RJ), Ruan (O_Ruan Cosplay) iniciou sua carreira como cosplay atuando no Complexo, onde recebia elogios tanto da população, como dos policiais e traficantes da região. “Eu recebia elogios dos bandidos e dos policiais. Eles achavam incrível eu construir os meus cosplays. Era os dois mundos ali me elogiando”, conta. Sobre o mercado no Rio, explica que a região fica muito refém das produções realiza para a Internet. “O mercado não é tão grande assim. O principal é você crescer e se divulgar na Internet e assim conseguir trabalhos na região. Antigamente era mais complicado, você só conseguia eventos como Cosplayer indo em festas vestido de Super Herói”, conta.
Já Brasília se destaca por ser um mercado muito mais forte em comparação com outros locais. Roxxy Sant’Anna explica que a cidade tem se tornado um grande palco para os eventos de Cosplay, com as pessoas participando e apoiando tudo que tem surgido na capital. “Sinto que em Brasília, há um carinho muito especial a essa arte. Tem acontecido diversos eventos, inclusive em curtos períodos de tempo entre eles”. Sobre a vida como cosplay em Brasília, Roxxy explica que é uma situação que vai depender de pessoa para pessoa, já que conhece quem vive apenas do cosplay, enquanto outras que o utilizam como um hobby ou complemento.
Elisa Oliveira (Sigrid Cosplay) é influencer Cosplay, cantora, atriz, streamer, além de ser jurada e organizadora de eventos em Brasília, como o evento “Quadradinho Cosplay” . Sigrid destaca que a cidade aborda diversos tipos de eventos sobre Cosplay para todos os públicos, mas ainda carece de alguns aspectos. “Ainda sinto falta de oficinas e painéis de bate papo, entrevistas com cosplayers convidados, infelizmente nesse ponto ainda há pouco aqui na região, acabamos ficando mais restritos aos concursos e camarins,” explica.
Atualmente São Paulo é o principal centro cultural e econômico do país, e no mundo do Cosplay não é diferente. É na cidade que ocorre o maior evento de cultura geek do país, a Comic Con Experience (CCXP). Celso Peçanha Neto (Ceslo Maker) é cosplayer, cosmaker, jurado e staff personalizado em eventos de cosplay na cidade. Apesar de ser carioca, mora há dois anos na zona sul de São Paulo. Embora o estado hoje seja o principal para a atuação no mundo do Cosplay, Ceslo comenta que não há muitas diferenças quando comparado a outras regiões “Acredito que a única diferença de São Paulo sobre outras regiões do Brasil quanto a eventos é mesmo o tamanho do estado. Todo o estado é muito interligado, o que faz com que haja eventos em várias cidades e acabe tendo mais opções..” Estes eventos carregam muitas semelhanças entre si, independente do local que esteja sendo sediado. “Eventos desde Mogi a Praia Grande, ou na cidade de São Paulo, o que muda é o tamanho do evento, a proposta e as organizações, mas não acho que isso tem tanto haver com regionalidade e sim com o financeiro envolvido,” explica.
Reportagem e Fotos: Lucas Ribeiro
Edição e publicação: Kauan Ribeiro e Juliana Lacerda
Supervisão de produção: Ivan Bomfim e Gabriela Almeida