Falta clareza quanto aos canais de reclamação sobre o Transporte Coletivo

Falta clareza quanto aos canais de reclamação sobre o Transporte Coletivo

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Demandas podem ser enviadas à VCG ou à Prefeitura, mas os meios disponíveis não são evidentes

Em um domingo, às 15h30, no Terminal Central de Ponta Grossa. Sentada num banco desconfortável, Isolde Tavares, 68 anos, aguarda a chegada do ônibus que vai levá-la perto de casa. A espera será longa e cansativa. O próximo coletivo deve demorar quarenta minutos para chegar. E, quando desembarcar, terá que caminhar ao menos oito quadras até chegar ao lar. Isso porque, aos domingos, o ônibus que passa na rua de sua residência não circula.
Enquanto aguarda, Isolde faz crochê e observa o vai e vem das pessoas. Diferente dos dias de semana, aos domingos o Terminal Central é mais tranquilo, com poucos passageiros no local. Não há opção de entretenimento. Nem um som ambiente que possa amenizar a demora dos ônibus ou uma banca de revistas. Ela conta que já pensou em reclamar da retirada dos ônibus de sua linha aos domingos, mas não sabe como fazer. Indagada, disse que desconhece os canais de relacionamento com a Viação Campos Gerais (VCG), detentora da concessão do transporte coletivo em Ponta Grossa. Também disse não saber se pode reclamar diretamente à Prefeitura Municipal.
Durante a semana, próximo das 18 horas, a situação é diferente. O movimento de pessoas é intenso e os ônibus saem todos lotados. Do Terminal de Oficinas partem os coletivos em direção às vilas da região, bem como os que fazem a interligação com outros terminais da cidade. Nele, numa das filas, aguardando seu ônibus, Reinaldo Dias dos Santos, 54 anos, diz que diariamente é assim. Santos conta que não lembra quando foi a última vez que conseguiu um lugar para sentar. “Os bancos são muito duros e dificilmente consigo um”, comenta ele. Sem conforto e em pé, segue até seu destino, o Terminal Nova Rússia, para pegar outro ônibus que vá até próximo à sua casa. Ele relata que “muitas vezes é preciso fazer baldeação (troca de ônibus) no Terminal Central e lá também pego ônibus lotado”. Reinaldo explica que, assim como outros que viajam no mesmo ônibus, já pensou em reclamar. Conta que já viu um número telefônico fixado na traseira do carro, mas não sabe exatamente para que serve, já que não há nenhuma explicação junto a ele.
Rafaela Margraf, 28 anos, trabalha numa escola no Bairro Chapada. De carona vai até o Terminal Nova Rússia. Lá pega o ônibus que faz a linha Terminal Nova Rússia – Terminal Uvaranas, que a deixa numa parada junto ao campus central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ela faz este trajeto de segunda a sexta-feira, junto com seu filho de cinco anos. Rafaela conta que quando consegue pegar o ônibus das 16h45, ele vem mais lotado e dificilmente consegue um lugar para sentar. Porém, o das 17h02, vem mais vazio, mas atrasa para os demais compromissos.
Questionada sobre os canais de relacionamento, diz que já viu num cartaz próximo ao motorista, onde há, entre informações contra assédio sexual, um telefone 0800 com a orientação de que por ali é possível comunicar-se com a empresa de ônibus. Ela conta que há algum tempo perdeu seu cartão e pediu um novo. Quando chegou o cartão, os créditos não estavam nele. Então ligou no telefone indicado no cartaz e foi orientada sobre como deveria proceder para o retorno dos valores que possuía no antigo. Segundo ela, tentou a ligação sem saber ao certo se seria atendida em sua demanda, já que o cartaz não diz nada a respeito. Mas ao ligar, foi atendida numa gravação que perguntava qual atendimento precisava e indicando qual número deveria digitar para chegar lá.
Em Ponta Grossa, a comunicação com a Viação Campos Gerais, concessionária do transporte coletivo urbano, pode ser feita através do número 0800 042 1070, que também atende via WhatsApp. Por ele é possível reclamar, sugerir, elogiar, obter informações sobre créditos, horários e outros.
Questionada sobre o número de reclamações que recebia mensalmente, a empresa informou, através de nota emitida por sua assessoria de imprensa, que esta informação é de tratamento interno e não estaria disponível. Já com relação às demandas mais reclamadas, informou que são relacionadas aos cartões e aos bloqueios realizados pela instituição bancária. Segundo a nota, todas as reclamações são tratadas e o demandante recebe resposta através do mesmo canal que utilizou para entrar em contato com a empresa.
A assessoria informou ainda que é possível fazer as demandas através do aplicativo VCG Conecta. Instalado, ele não se mostra intuitivo e trava com facilidade. Trata-se de um programa utilizado também em outras cidades, tanto que quando clicado no link “Como Utilizar”, os mapas de exemplo são de Curitiba ou Porto Alegre. Neste aplicativo, na aba “Mais”, há um link para o “Fale Conosco”, mas não há qualquer orientação sobre quais assuntos tratar e as respostas são via e-mail.
No site da Viação Campos Gerais, há um ícone ligando ao WhatsApp. Testamos num domingo e recebemos a informação de que o canal só atende de segunda a sexta-feira, das 8h15 às 17h30. Fomos orientados a retornar no próximo dia útil. Também no domingo, a mesma resposta foi obtida ao ligar para o telefone indicado.
Nos terminais de transporte coletivo espalhados pela cidade: Central, Nova Rússia, Oficinas e Uvaranas, não foram encontrados cartazes indicando os canais de comunicação com a concessionária. Quando questionados pela reportagem sobre os cartazes, a assessoria respondeu que “nos terminais eu posso mandar um cartaz e colocar nos editais. Resolvido!”
OUVIDORIA DA PREFEITURA
Outro canal para reclamações sobre o transporte coletivo urbano de Ponta Grossa é a Ouvidoria da Prefeitura Municipal. O contato pode ser mantido através de link encontrado na página da Prefeitura, bem como pelo telefone 3220-1000, ramal 1334. Ainda é possível usar o sistema 156, que funciona através de ligação telefônica ou de link na página da prefeitura.
Em nota, a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Ponta Grossa relatou que em 2024 foram registradas cerca de 250 demandas com o tema transporte público, tanto através da Ouvidoria quanto do sistema 156. A nota não informou quais os principais temas desses contatos. Perguntada sobre como gerencia e resolve as reclamações que são encaminhadas diretamente à Viação Campos Gerais, a Prefeitura não respondeu. Também manteve silêncio em relação à inexistência de cartazes nos terminais e ônibus, informando que reclamações e outras demandas sobre o transporte público também podem ser encaminhadas à Prefeitura.

Reportagem e Fotos: Eder Carlos

Edição e publicação:  Vitoria Schrederhof e Nicolle Brustolim

Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios

 


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