Ferrovia: patrimônio cultural de Ponta Grossa

Ferrovia: patrimônio cultural de Ponta Grossa

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Como a chegada do trem transformou o cotidiano do ponta-grossense

Em Ponta Grossa, um dos elementos culturais que chamam a atenção, é a marca deixada pela ferrovia. O impacto que a cultura ferroviária causou na cidade pode ser observado até hoje, seja no nome do time da cidade, Operário Ferroviário Esporte Clube, no prédio da Estação Saudade ou nos trilhos de trem que podem ser vistos no Parque Linear em Oficinas. A relação de Ponta Grossa com a ferrovia começou lá atrás, no final do século XIX.
Segundo o presidente da Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural (APPAC), Leonel Brizolla Monastirsky, desde sua colonização por Portugal, o Brasil sempre serviu como fornecedor de matéria-prima, exportando Pau-Brasil, depois cana-de-açúcar e ouro. A partir do começo da Revolução Industrial e o surgimento da ferrovia no mundo, os países europeus implantaram estradas de ferro nos países colonizados para melhorar a exportação.
As ferrovias de vias únicas eram chamadas de “risco de giz” e uma dessas saía do porto de Paranaguá, passava por Curitiba e terminava em Ponta Grossa. “Por isso que essa cidade é chamada de boca do sertão. Toda produção de erva-mate e madeira que era produzida no interior do Paraná vinha até Ponta Grossa de carroção e aqui tinha um terminal ferroviário a partir de 1892, a Estação Paraná, que mandava esse material para o porto de Paranaguá”, afirma Monastirsky.

A Estação Saudade foi inaugurada em 1906; em 1990 foi tombada como Patrimônio Cultural do Paraná.

Impactos
Em 1906, foi inaugurada na cidade a Estação Ponta Grossa, que hoje é conhecida como Estação Saudade. Naquela época, a cidade recebia outra ferrovia que ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul, a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. Ponta Grossa se tornou um ponto de passagem de viajantes de todo o Brasil.
No livro No Tempo do Trem, o professor Miguel Sanches Neto afirma que “A futura estrada de ferro São Paulo-Rio Grande nos colocou no mapa, tornando a cidade um destino habitual, ponto de passagem e de estabelecimento de grandes figuras da economia, da arte e da ciência”.
A economia também foi marcada pela cultura ferroviária. “Já havia uma estrutura de exportação e com a ferrovia isso se potencializou demais, então entrou muito dinheiro. Toda a estrutura em torno da ferrovia se estabeleceu nas cidades ferroviárias, então Ponta Grossa passou a ter mais serrarias, depósitos e fábricas de erva-mate, depósitos de madeira e de outros produtos exportados”, contextualiza Monastirsky.
A ferrovia também causou impacto na estrutura urbana de Ponta Grossa. Surgem assim hotéis, restaurantes e até lojas que vendem produtos para os passageiros, ampliando o centro da cidade. “Ponta Grossa era uma cidade que tinha como ponto de referência a igreja, como quase todas as cidades de origem portuguesa aqui no Brasil e depois, com a ferrovia, o centro passou a ser em torno da estação ferroviária”, conclui Monastirsky.

Operário Ferroviário
Um dos símbolos culturais mais marcantes de Ponta Grossa é o time da cidade, o Operário Ferroviário Esporte Clube. Sua origem tem relação direta com a passagem da ferrovia por aqui. O futebol chegou ao Brasil por intermédio da Inglaterra. De acordo com Leonel, várias frentes trouxeram o futebol para o país e uma das mais importantes foi a ferrovia.
“Quando os ingleses vieram para cá eles trouxeram o jogo de futebol. Então os trabalhadores ferroviários começaram a jogar futebol e começaram a aparecer equipes em todas as cidades ferroviárias do Brasil”, explica Monastirsky. O Operário foi criado em 1912, seis anos após a construção da ferrovia inglesa São Paulo-Rio Grande em Ponta Grossa.
Leonel relata que houve uma ocasião em que teve a oportunidade de conversar com um senhor que trabalhava nas oficinas de trem. “Ele me contou que as oficinas eram muito grandes e tinham muitos trabalhadores ferroviários. Nessas oficinas haviam times de futebol que jogavam no Campeonato Ponta-grossense de Futebol Amador”. Ali surgiram duas equipes, a Rede Viação Paraná-Santa Catarina e Riachuelo Sport Clube, que mais tarde se juntaram e tornou-se o time que hoje conhecemos como Operário Ferroviário.

Ficha técnica:
Reportagem: Levi de Brito
Edição e Publicação: Lucas Müller
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Carlos Alberto de Souza


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