Mudou o nome, mas o problema é o mesmo

Mudou o nome, mas o problema é o mesmo

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Paraná é um dos estados que mais registrou acidentes neste ano

O estado do Paraná nos primeiros três meses deste ano já registrou cerca de 1100 acidentes, sendo um dos estados em que mais houve ocorrências no país, ocupando a terceira posição atrás apenas de Minas Gerais e Santa Catarina. Uma correção: acidentes não, sinistros. Isto porque no dia 26 de fevereiro deste ano a Associação Brasileira de Normas de Técnicas (ABNT) através da norma NBR 10679/2020, alterou a nomenclatura ao se referir a alguma imprudência ocorrida no trânsito. Agora, ao invés de se chamar “acidente”, o termo utilizado passa a ser “sinistros”.

Segundo o chefe substituto da delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do município de Ponta Grossa, Vinícius de Andrade Vieira, esta mudança se deve ao fato de que o termo acidente passa a impressão de que o ocorrido não poderia ser evitado e que ocorreu de surpresa. Já a palavra sinistros indica aquilo que era previsto e poderia ser evitado: “Em geral, quase 100% das situações podem ser evitadas”, explica Vieira, a mudança de nome não altera a gravidade da situação nas estradas.

Neste ano, segundo os dados divulgados no site da PRF, entre os meses de janeiro a março, foram registrados no país cerca de onze mil sinistros nas rodovias brasileiras.  Deste número, cerca de 8.400, sendo 749 vítimas fatais. No levantamento da PRF, os estados que mais registraram ocorrências  nas rodovias neste começo de ano, além do Paraná foram: Santa Catarina (cerca de 1350) e Minas Gerais (na casa de 1.300). Os três estados juntos correspondem a 34% do total de acidentes de trânsito nas rodovias.

A causa mais comum se deve a razões climáticas: a chuva foi responsável por 1786 sinistros, equivalente a 16% do total. Já o tipo mais comum são as colisões entre os veículos, principalmente a colisão traseira, que já aconteceu 2001 vezes neste ano. Dos motivos que levam aos sinistros, a maioria se deve a falha humana: “por mais que a gente corrija o traçado, por mais que a gente faça a redução da velocidade e coloque sinalização, parte principalmente da conscientização das pessoas, mais de 95% dos acidentes são falha humana”, explica.

O professor aposentado da UEPG, Leonel Brizolla Monastirsky diz que  por mais que se façam novas rodovias, ou aumente as já existentes, isso não resolveria o problema dos sinistros e do alto fluxo de veículos. Para ele a solução seria investir em ferrovias “O certo seria transportar tudo por trem e partir dos terminais ferroviários, para as cidades que não tem ferrovias, caminhões médios e pequenos. Você pode fazer outras rodovias que não vai adiantar, em pouco tempo vai estrangular de novo”, opina.

Esta situação no Brasil é antiga. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), na última  década o país registrou um aumento de 13,5%, em relação à década de 2000 a 2009. Os maiores acidentes que resultaram em mortes são envolvendo motocicletas, com  um crescimento de 150%.

Professor Leonel Brizolla Monastirsky fala sobre a região dos Campos Gerais

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), as causas de acidentes se devem à falta de atenção tanto de motoristas quanto de pedestres (36%). As outras causas se devem à desobediência às leis de trânsito (14,4%), excesso de velocidade (10%) e  consumo de álcool (5%).

Segundo o Registro Nacional de Condutores Habilitados, do Ministério de Transporte, há aproximadamente 83 milhões de carteiras de habilitação no país. O maior número se concentra na região sudeste com 42 milhões e 700 mil condutores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatísticas (IBGE), no Censo de 2022,  há cerca de 115 milhões de veículos, a maior quantidade é de carros, cujo número é na casa de 60 milhões e 450 mil. A região Sudeste novamente é a que detém o maior número, com uma frota de veículos na casa dos 55 milhões.

Algo interessante é o fato de que embora a região Sudeste possua a maior frota de veículos do país, os sinistros ocorrem em maior número na região Sul, com 3250 casos. O sudeste brasileiro vem na segunda posição com 3 mil ocorrências.

Paraná

Em relação ao estado do Paraná, segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (DETRAN-PR), neste ano de 2024 quase 20 milhões de veículos circulam pela unidade federativa. O veículo que mais circula no estado são os carros, com cerca de 9 milhões de veículos. 

Apesar deste alto índice, o número de sinistros vem diminuindo nos últimos anos, em 2023 segundo o órgão foram registrados 29.713 ocorrências. De 2019 a 2022, o número de ocorrências estava na casa dos 120 mil ocorrências, aproximadamente 30 mil por ano.

Monastirsky, acredita que o tempo que o estado ficou sem pedágios, não teve grande impacto nos número, porque para ele a manutenção das estradas poderia ser feita pelo estado “O Estado que poderia cuidar das rodovias, não cuida, deixa que elas estraguem para justificar o pedágio. Não é necessário isso, daria para ser uma participação do próprio Estado para cuidar das rodovias”, explica. 

Em relação a CNH, segundo os dados mais recentes, datados de 2022, foram expedidas cerca de um milhão e setecentas carteiras de habilitação. Sobre a suspensão do documento, segundo o anuário no ano de 2022 foram suspensas quase 140 mil CNHs. A faixa etária que mais teve a habilitação suspensa foram os motoristas acima de 50 anos, com 40.680 suspensões. Inúmeras foram as infrações cometidas que levaram a cassação, mas os maiores motivos se devem a dirigir alcoolizado (15, 27%) e ultrapassar o limite de velocidade permitido em mais de 50%. Segundo o DETRAN, foram registradas 37 mil infrações deste tipo, correspondente a incríveis 59.06% do total das infrações.

Multas mais aplicadas em 2024.

 

Campos Gerais

Segundo a PRF, na região dos Campos Gerais também o número de ocorrências é alto. A delegacia da PRF da região atende em 4 postos: Caetano (Ponta Grossa 1), Furnas (Ponta Grossa 2), Tibagi e Balsa Nova. Para Vinícius, dos 4 postos o que mais costuma dar ocorrências é o de Balsa Nova, em razão do alto fluxo de veículos naquela região. “Ali em Balsa Nova nós temos a junção das rodovias que vem de Cascavel e Foz com a rodovia que vem do Norte e passa por Ponta Grossa e acaba que o fluxo é muito grande e normalmente são os (sinistros) mais difíceis”, explica.

O número de sinistros na região no primeiro trimestre do ano foi de 163, com 195 pessoas feridas e sete óbitos. Das 163 ocorrências, 83 foram consideradas graves. “Sinistros graves são aqueles que têm óbitos ou vítimas graves”, explica Vieira. Durante a semana, os dias com mais ocorrências são sábados e segundas, mas a variação de sinistros diários é pequena. Os dias que menos há ocorrências são no meio da semana, nas quartas e quintas. “Eu digo que é uma surpresa, quartas e quintas são os dias mais movimentados, talvez o próprio movimento impeça de dar acidentes porque não tem muito espaço” conta.

Para Monastirsky, as rodovias dos Campos Gerais são boas, porém o que falta são políticas públicas do estado “Uma estratégia de ação com relação a elas, colocar balanças para pesar caminhões, proibir tráfegos em certos dias e horários, organizar a manutenção das rodovias”, explica.

De toda a região dos Campos Gerais, Ponta Grossa é a que mais registrou ocorrências. Monastirsky explica que isso se deve ao alto fluxo de veículos que passam pela cidade, pois boa parte da produção do Paraná e de outras regiões passam por Ponta Grossa “Eles vêm por várias rodovias e vão afunilando até chegar em Ponta Grossa, é uma concentração muito grande de tráfegos, o transporte de lazer, de passageiros e também o transporte de cargas”, aponta.

As ocorrências mais comuns se devem à saída de pistas, correspondentes a 25% do total, em seguida colisão traseira e colisão com objetos. Os três juntos correspondem a mais da metade do total dos sinistros. Porém apesar destes serem os mais comuns eles não são os mais graves, sendo as colisões frontais e transversais as mais perigosas por envolverem mais vítimas.

Vieira explica que a PRF, dentro daquilo que lhe cabe, realiza ações nas estradas para diminuir as ocorrências. Uma dessas ações, é a vistoria das rodovias e a indicação dos pontos que estão com problemas, segundo ele isto diminui as ocorrências. “Nós tivemos uma situação em Tibagi, em que um motociclista tombou em cima da pista e nós fomos olhar tinha um tulio de faixa que ficava em cima da pista, informamos a concessionária e nunca mais tivemos acidente de moto ali”, conta. Outra ação organizada pelo órgão são as campanhas de conscientização a respeito do trânsito, realizadas nas abordagens de veículos, ou em escolas e palestras.

Apreensões em 2024.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reportagem e Fotos: Kauan Ribeiro

Edição e publicação: Kauan Ribeiro e Juliana Lacerda

Supervisão de produção: Ivan Bomfim e Gabriela Almeida


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