
O caminho tortuoso até o ponto
A infraestrutura inadequada compromete o trajeto diário dos moradores até o transporte público
Muitas pessoas passam uma boa parcela do seu dia no ônibus, seja para trabalho, escola, passeio ou até mesmo para ir a uma consulta médica. A escolha de usar o transporte coletivo urbano nem sempre é uma opção, mas o desafio não está apenas em usar o ônibus e para chegar até o ponto. Fazer o trajeto entre a porta de casa e o ponto pode ser uma atividade comum e passar totalmente despercebida pela população, mas o caminho traz desafios, ora invisibilizados. A saída de trabalhadores se dá antes do relógio marcar 6 horas da manhã, antes mesmo do sol nascer. Alguns estudantes acordam até duas horas antes do início da aula para pegar o transporte coletivo e ir para a escola.
Para a população que mora nos bairros mais centralizados da cidade, o percurso de casa até o ponto é facilitado, já que as ruas são asfaltadas, têm bons pontos de espera e sinalização adequada. Mas, isso não acontece nos bairros mais afastados do centro. Em algumas regiões, como é o caso do Shangrilá, em que muitas ruas são de pedras brita, esse é apenas um dos obstáculos.
Adotar um calçado reserva na mochila é rotina para os usuários do transporte público dessa região. Isso acontece porque, principalmente em dias de chuva, as ruas alagam e ficam cheias de barro. Com toda essa adversidade, muitas vezes, o calçado fica molhado ou sujo. “Tive que levar um tênis pra trocar dentro do ônibus. Quando estava indo pro ponto meu sapato molhou e eu não ia ficar com o pé molhado o dia todo no meu trabalho. Não tem condições”, relata a passageira Renata.
As chuvas afetam não só a escolha da roupa dos moradores, como também
o deslocamento. Helenna Souza reside próximo ao ponto final do trajeto de ônibus do Shangrilá, relata que o ônibus não vai até o último ponto da linha quando as chuvas são intensas. “A rua fica cheia de buracos, aí o ônibus não vem até o ponto. Eu já perdi o ônibus muitas vezes e cheguei atrasada ao meu trabalho”. Helenna destaca que já sofreu uma queda enquanto subia no ônibus por conta do barro acumulado na escada. Mas, a queda a não passou de um susto e a entrevistada não precisou de atendimento médico.
Além do barro e das chuvas, que impossibilitam o acesso pleno do ônibus, a dificuldade da população se mostra a partir dos cães de rua. É comum a presença de animais de rua em bairros mais afastados do centro da cidade, e isso não é diferente no Shangrilá. Enquanto a equipe de reportagem estava no bairro, foram vistos cerca de 40 cachorros.
A moradora do bairro Maria Alves, relata que já foi atacada por um animal enquanto saía de casa para trabalhar. “Tem um cachorro bravo na rua de cima da minha casa e a vizinha, que é dona dele, deixa o portão aberto pra ele ficar na rua atacando os outros”, destaca.
Ela relata que não foi apenas um episódio, com os ataques sendo rotineiros. Helenna relembra que, em outro momento, passou por uma cachorra acompanhada de filhotes, que a atacou. “Os donos não recolhem para dentro de casa e quem sofre são os vizinhos. Não foi uma vez só que essa cachorra tentou me atacar, mas eu sempre levo uma pedra junto pra me defender”, finaliza.
Reportagem: Mel Pires
Foto: Gabriel Aparecido
Edição e publicação: Nicolle Brustolim e Diogo Laba
Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios