O Império das imagens: por 53 anos, Cine Império agradava a todos os gostos da sétima arte

O Império das imagens: por 53 anos, Cine Império agradava a todos os gostos da sétima arte

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Aos olhares de quem chegou recentemente a Ponta Grossa, um terreno de largas dimensões no centro da cidade pode instigar curiosidade. Localizado na Praça Barão do Rio Branco, ao lado do Edifício Princesa, o espaço chama a atenção pelo tamanho e, também, pela evidência de seu vazio ao lado de construções de porte avantajado. A surpresa no olhar de quem descobre o que ali havia é, na maioria dos casos, imediata: “aqui existia um cinema”.

Inaugurado em setembro de 1939, o Cine Império funcionou por longos e ininterruptos 53 anos. Segundo Nelson Silva Júnior, professor do Departamento de Artes Visuais da UEPG, o Império foi o cinema mais popular da cidade. Além do valor acessível dos ingressos, o Império também proporcionava a sessão chamada “pão duro”. O nome é autoexplicativo, com um único ingresso, às quarta-feiras, a pessoa poderia assistir a várias sessões. “Foi um cinema característico de faroestes e pequenas produções, além dos filmes de Mazzaropi. Por sua proximidade com o Colégio Regente Feijó, era comum a cena de alunos que matavam aula no cinema sendo retirados pela direção da escola”, diz Júnior. 

Erguido por Giuseppe Pierri e posteriormente administrado por sua esposa Letícia, o Cine Império tinha a infelicidade de correr em suas profundezas o arroio Pilão de Pedra, o que contribuiu para o comprometimento do prédio a longo prazo. Quando encerrou suas atividades, 1992, exibia apenas filmes pornográficos, como vários outros cinemas de rua no Brasil. Se os últimos anos de serviço não foram dos mais gloriosos, as décadas anteriores proporcionaram boas lembranças para quem o frequentou.

Palco e tela do Cine Império. Acervo de Luiz Carlos Kloster

 

Quem costumava apreciar as exibições do Cine Império em seus áureos tempos era a professora de história Zilá DalCol. Lembro que quando a conheci, há 11 anos, já conversávamos sobre cinemas de rua da cidade. Depois de anos sem a ver, tive a felicidade de encontrá-la, por coincidência, em frente ao terreno onde ficava o Cine Império. Acompanhada do filho e da nora em uma caminhada matinal, Zilá recebeu ali mesmo o convite para falar sobre suas lembranças do cinema.

Zilá embarcou em suas memórias ao ponto de me entregar um rico e vasto depoimento que responderia ainda mais do que eu pensasse em perguntar. O Império a fez gostar da sétima arte. “Ele me fez gostar de cinema. A Praça Barão era como o terminal central de ônibus da cidade, pois ali convergiam todas as linhas. A gente descia ali e já entrava na fila da bilheteria. Aquilo pra mim já era um mundo mágico”.

A memória de Zilá foi capaz, inclusive, de mencionar a quantidade de degraus para descer à bomboniere, a cor das poltronas acolchoadas (o que não era comum em cinemas mais baratos) e a música que tocava no momento em que se apagavam as luzes e eram abertas as cortinas do palco. “Você entrava e via a tela fechada, com cortinas enormes, vermelhas com franjas. Quando elas se abriam, tocava a música tema do filme ‘Os Canhões de Navarone’ e eu sabia que o show ia começar. Para mim era um ambiente encantado”.

Para ler outras histórias do Cine Império, confira a versão impressa da revista Nuntiare

Ficha técnica:
Reportagem: Cássio Murilo
Edição e publicação: Cássio Murilo
Supervisão de produção: Marcos Zibordi
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Muriel E. P. Amaral


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