Os R$4 que pesam: impacto da tarifa do transporte público no orçamento
O valor gasto com transporte coletivo ultrapassa 10% em relação do salário mínimo
Desde abril de 2023, a tarifa do transporte público em Ponta Grossa foi reduzida de R$5,50 para R$4, conforme o Decreto 21.678/2023. Apesar da redução no valor, o custo com passagens ainda representa uma parcela significativa do orçamento mensal de muitos usuários. Considerando o salário mínimo de R$1.518 e os gastos com itens essenciais, como cesta básica – que chegou a consumir quase 60% do salário mínimo em dezembro de 2024, segundo o Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) -, os R$4 cobrados por passagem pesam especialmente para quem depende do transporte público diariamente.
Transporte público como obstáculo financeiro
O chapeiro Brendo Maciel, de 27 anos, utiliza o transporte coletivo de domingo a domingo. Sem acesso a meia-passagem ou passe livre, ele afirma que o custo mensal impacta significativamente no orçamento familiar. “Se houvesse tarifa zero, esse dinheiro seria usado para alimentação”, lamenta.
A técnica em administração Lais Domingos, de 21 anos, também depende do transporte coletivo diariamente. “O valor por si só não é alto, mas a qualidade é péssima e a demora é constante. Dependendo do dia, espero uma hora e meia para conseguir pegar o ônibus e ir para casa”, relata a técnica. Mesmo com uma renda entre dois e três salários mínimos, o gasto com passagens afeta outras despesas essenciais, como moradia. A auxiliar de professora Pamela Ferreira, de 36 anos, utiliza o ônibus de quatro a seis vezes por dia e recebe um salário mínimo. Sem benefícios tarifários, Pamela reforça as reclamações sobre atrasos e más condições do transporte. Ela afirma que, em um cenário de tarifa zero, o dinheiro também seria direcionado principalmente para a moradia.
Impacto para os estudantes
A situação também afeta diretamente estudantes da UEPG, até mesmo os que têm direito à meia-passagem. A acadêmica da Licenciatura em História Deisy Anne Coimbra de Araújo recebe uma bolsa de R$640 e utiliza o ônibus de quatro a seis vezes por semana. O gasto mensal com passagens varia de R$64 a R$96 – o que representa até 15% da sua renda. Para ela, o custo é desproporcional à qualidade do serviço, que considera cada vez pior.
Outra estudante, identificada como Gabrielle Cherpinski, também depende do transporte público com frequência semelhante. Apesar de possuir o benefício de meia-passagem, aponta a imprevisibilidade dos gastos com transporte como um problema. “Às vezes, R$4 fazem falta. Uma emergência pode nos obrigar a gastar mais com ônibus e isso impacta diretamente em outras áreas do orçamento”, afirma.
Dimensão social: transporte como acesso a direitos
A assistente social Camila Albach destaca que o transporte coletivo está diretamente ligado à garantia de direitos básicos e à qualidade de vida. “Se uma família em vulnerabilidade tem que escolher entre comer ou pagar transporte, o que acham que vão escolher?”, questiona. A assistente ressalta que muitas pessoas sequer sabem que têm direito à meia-passagem ou ao passe livre, o que dificulta o acesso a esses benefícios. Camila também aponta a relação entre o custo do transporte e a evasão universitária. “Nem todos os estudantes moram perto da instituição. Se não conseguem acessar os locais de estudo, têm seus direitos violados. Isso impacta o desempenho acadêmico e pode comprometer a permanência na universidade”, finaliza.
A estudante da UEPG Marieli Braga vive com a mãe e o irmão, que dependem do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para garantir a renda da família. Ela relata que o custo com transporte afeta diretamente o orçamento mensal, sendo uma prioridade as despesas com alimentação.
Apesar de o passe livre ser um direito no caso deles, o benefício foi negado anteriormente. A mãe de Marieli ainda enfrenta burocracia para garantir o direito. Como alternativa, a estudante busca uma bolsa de extensão remunerada para ajudar a custear a locomoção da família.
Reportagem: Joyce Clara
Infográfico: Betania Ramos
Edição e publicação: Mel Pires e Laura Urbano Janiaki
Supervisão de produção: Manoel Moabis e Aline Rios