Roupas com história: brechós são alternativas para moda sustentável

Roupas com história: brechós são alternativas para moda sustentável

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Empreendedoras locais compartilham suas experiências sobre o papel dos brechós na comunidade e sua importância na economia sustentável

Durante vida da moda em Ponta Grossa, empreendedoras locais têm dividido suas experiências sobre a importância dos brechós na comunidade. Em uma conversa cheia de compromisso com a moda sustentável, descrevem um quadro diversificado que ultrapassa a simples troca de roupas usadas. “Ressignificar a vida útil das peças produzidas, temos muitas peças disponíveis por aí, não é necessário produzir tantas e tantas coleções como ainda é feito por grandes marcas”, disse a presidente da organização do Varal das Mina, Rafaela Andrejezieski. 

Os brechós vêm se tornando um meio popular de compra e sustentabilidade. A grande maioria do público que consome roupas e acessórios de brechós, faz isso devido à questão financeira, pois os brechós são mais econômicos que as lojas tradicionais. Porém, o número de pessoas que procuram uma moda mais sustentável vem crescendo em Ponta Grossa. 

Aumentar a vida útil das peças já existentes faz com que não tenhamos tanto gasto de água na produção de peças novas e na poluição com materiais têxteis, explica Rafaela. Os brechós são importantes na economia circular, pois geralmente são mulheres que estão à frente do seu negócio, assim elas conquistam a independência financeira e conseguem arcar próprios gastos. Os brechós também estão inseridos em uma cadeia bastante interessante, uma vez que as peças adquiridas para o estoque, provêm de bazares de instituições e ONGs beneficentes.

Brecho ou Bazar 

Jaqueline Miranda Lemes Mascarenhas, dona do Brechó Mirandinha Moda Vintage, explica a diferença entre entre bazar e brechó, que nada mais é que a curadoria. “A peça no brechó deve estar pronta para ser usada, e quando você vai em bazar as peças não tem nenhuma higienização”, aponta. Outro fator importante é a ajuda para as donas de brechós, cada uma tem sua receita mágica para tirar manchas de fer com os rugem, amarelado da peça, algumas produzem sabão caseiro outras compram produtos industrializados. “Mesmo utilizando água em abundância e produtos industrializados, ainda assim, a higienização das peças gasta menos água que a produção de uma peça nova”, explica Rafaela. 

Mylena Chaikouski e Joslaine Dias, donas do Luz Brechó 1998, acreditam que além da sustentabilidade os brechós ajudam os bazares beneficentes arrecadar mais, pois são os melhores fornecedores, sempre se vê “brechozeiras” saindo com sacos e sacos de roupas desses eventos. Existem também bazares fixos com fins filantrópicos, que frequentemente servem como fontes de materiais para os brechós. “Acredito que os brechós são de extrema importância, principalmente pelo fato de gerar renda para muitas mulheres, criando independência e autonomia dentro dos seus lares”, aponta.

“Eu participo do Varal das Mina, um evento que esse ano completa seis anos”, conta Jaqueline Miranda. O Varal das Mina é um evento que ocorre nos primeiros finais de semana do mês, realizado periodicamente em lugares estratégicos da cidade. No evento as participantes fazem doações específicas para ONGs, como absorventes para as mulheres em vulnerabilidade nas ruas, ou para ONGs de animais abandonados, em cada evento é escolhida uma instituição para ser beneficiada.

As pessoas notaram que prolongar a vida útil dessas peças é benéfico 

– Rafaela Andrejezieski

As donas do brechó Look Bacana, Kemily Samways e Gislaine Cruz Dias explicam que existe uma interdependência para quem trabalha com moda sustentável, que é a circulação das peças. Ou seja, os brechós dependem dos seus clientes para que eles passem para frente o que não tem serventia no momento. Sendo assim, diversas pessoas da comunidade que trabalham com ONGs recebem doações. Muitas vezes, essas pessoas vendem elas para arrecadar fundos financeiros para manter a instituição funcionando. “Dessa forma, o ciclo continua acontecendo, e seguimos nos ajudando”.

Atualmente, a procura por brechós vem crescendo em Ponta Grossa. “Percebemos que aquele preconceito de achar que só tem coisas velhas e ruins está diminuindo bastante, pois as pessoas hoje perceberam que ressignificar e prolongar a vida útil dessas peças usadas é benéfico para o bolso, para o meio ambiente e para a autoestima”, fala Rafaela.

Essas dona de brechó possui seu público definido, seja infantil, feminino atemporal, masculino ou
vintage. Assim, cada uma tem uma abordagem e diferencial na sua propaganda, comunicação e garimpo das peças. Geralmente, as lojas online possuem um alcance ainda maior.

O custo benefício é um dos fatores que mais pesam para a comunidade. “Desta maneira, percebemos
também grande possibilidade de investimento para os moradores de nosso município, uma vez que o número de lojas físicas e virtuais também aumentaram”, contam as donas do brechó Look Bacana. Muitos de seus clientes já possuem entendimento sobre os seus benefícios da moda sustentável, o maior desafio é converter o público que já possui uma ideia formada em relação às roupas usadas.

Gabriele Antunes Gonçalves, dona do Brechó da Avenida, falou que em relação a sua percepção, algumas
pessoas têm preconceito com peças de segunda mão, outras já possuem uma visão diferente. “Por exemplo, algumas pessoas pensam na originalidade, só de saber que aquela determinada peça é única”. Além disso, quando as peças são doadas ou enviadas para associação sem fins lucrativos para a realização de bazares, isso contribui evitando que as peças parem em lixões. Ela conta que a aceitação dos brechós no mercado está crescendo, devido à diferença de preço com as lojas tradicionais, e também pela facilidade de divulgação, como por exemplo, muitos brechós possuem redes sociais.

As donas do brechó Look Bacana explicam que a competição com as lojas convencionais é incomparável. Há um grande público que opta pelos produtos novos, também existe um grande público que ainda cria tabus perante a compra de desapegos. Além disso, é difícil receber peças prontas para a venda e no caso da higienização, elas contam que é necessário juntar uma quantidade X de peças para serem lavadas, ao invés de lavar com frequência. 

Outro ponto, que acaba afetando os negócios, são as grandes promoções, queimas de estoque e outros meios, que as lojas tradicionais acabam fazendo e afetam os brechós e bazares. 

A dona do Brechó Mirandinha Moda Vintage conta que não trabalha com peças novas e apoia, totalmente, a moda sustentável. Sempre procurando passar esse conhecimento para seus clientes e os benefícios de reutilizar roupas e acessórios. “Até famosas falam de seus garimpos, e com isso ajuda a crescer o pensamento positivo em relação a compra em brechós”, comenta. 

As donas do brechó Look Bacana explicaram que para iniciar nesse ramo é preciso ter o pé no chão e compreender que os brechós são uma ramificação distinta das lojas convencionais. Por isso, a construção de uma carteira de clientes dentro do mercado é feito com muito trabalho, uma vez que os consumidores desejam preço e qualidade. A aceitação no mercado vem aumentando, os preços cada vez mais altos das lojas convencionais fazem muitos clientes migrarem para os brechós.

Consumidores
Mariana Louise fala sobre suas experiências em comprar roupas e acessórios em brechó. Assim, é
possível encontrar peças exclusivas de coleções e épocas passadas, como as famosas peças CGC (a roupa possui mais de 20 anos), que todo “brechozeiro” ama. Os brechós permitem uma experiência que traz a liberdade para a pessoa ser mais criativa e explorar o seu próprio estilo, montando looks autênticos.

O conselho de Mariana Louise, para quem ainda não faz compras em brechó, é: “Pesquise por vários brechós e vá garimpar com tempo. Entenda que você vai encontrar peças exclusivas, é importante olhar tudo para garantir um bom garimpo. Tenha uma mente mais aberta para as possibilidades de combinações. Observe as etiquetas, se a peça tiver o CGC, significa que você acabou de fazer um baita garimpo.”

Maycon Rodrigues diz que comprar em brechós é uma “experiência sensacional”, além de saber que brechós são a personificação do cuidado. Segundo ele, faz muito tempo que não compra roupas em lojas tradicionais, pois os brechós se tornaram sua vida.

Rodrigues conta que a rotatividade das peças ajuda a ter uma ampla visão de consciência de consumo, levando em questão que os tecidos levam mais de 20 anos para se decompor no meio ambiente. Maycon aconselha ter uma personalidade própria para escolher as roupas, pois o brechó possui variadas peças que contribuem para cada estilo.

Reportagem e Fotos: Pamela Tischer

Edição e publicação:  Bianca Voinaroski e Juliana Lacerda

Supervisão de produção: Ivan Bomfim e Gabriela Almeida


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