Uma constelação de vacas

Uma constelação de vacas

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As vacas para Marisa Dekkers são fontes de renda e amor

Eu me desloquei até a região de Terra Nova, localizada a uns 15 minutos da cidade de Carambeí, para conhecer a produtora rural, Marisa Caus Dekkers, em um dia ensolarado. Conheci a Marisa em uma feira pecuária, no início do ano, e seu carisma e amor pelo seu trabalho me cativaram. A casa fica bem próxima dos barracões onde estão as baias, salas de ordenha e os barracões de descanso das vacas leiteiras. Logo de início, quando estava próximo da propriedade, o cheiro da vida no campo começou a tomar conta do meu olfato pelo caminho. Logo que desci do carro, apareceram vários gatos correndo por perto da casa; eram pelagens e tamanhos diferentes. Ela e o marido comandam a Constentation. O nome, na verdade, seria contellation (do inglês, constelação), mas um erro de registro não foi suficiente para para que cada vaca não fosse uma estrela no pasto e nas competições.

Enquanto esperava a Marisa calçar suas botas, algumas vacas, que estavam em uma cerca atrás da casa, se aproximaram; eram mansas e curiosas. De início, nos deslocamos para um dos barracões onde acontece o trato das vacas. Havia algumas delas em período gestacional que estavam deitadas no pasto, descansando. Elas ficam separadas das outras devido ao cuidado maior que necessitam.

Foi ali que tive a maior parte da conversa com Marisa: filha e neta de produtores de leite, seus avós já faziam entrega de leite de porta em porta quando era criança. Marisa, é mãe de duas meninas, casada e desenvolve várias atividades dentro do ramo agropecuário, como: manejo de gado, bem estar das vacas, coordenação dos funcionários, além da parte financeira e gerencial da propriedade.

Marisa é natural da região da Lapa e, desde que se conhece por gente, convive diariamente com as vacas. Porém, por incrível que pareça, nem sempre seu mundo foi ligado aos animais. Quando era mais nova, não havia oportunidade de muitos cursos para serem feitos, chegou a fazer magistério, diga-se de passagem era uma excelente aluna e também começou a fazer alguns trabalhos desfilando em lojas e concursos de beleza, em uma dessas oportunidades ganhou o título de princesa da cidade, em 1999.

Para Marisa,  as vacas são tão importantes na sua vida que até seu marido a conheceu por meio delas. “Foi com ele que aprendi que as vacas são muito mais que máquinas de tirar leite. Aprendi que podemos desenvolver trabalhos ligados à genética, exposições e feiras. Isso fez com que cada dia mais fosse me apaixonando.” contou.

Em relação à rotina, a primeira atividade do dia da Marisa é tratar os animais jovens e dar  atenção as vacas de pré-parto. Enquanto isso, as filhas do casal tomam o café que deixou preparado. Quando volta do trato, leva as meninas à escola e, no seu retorno,  cuida da sala de ordenha, do bezerreiro e discute coisas  que estão pendentes na propriedade com o seu marido, que trabalha com melhoramento genético e passa o dia fora da propriedade. “Eu fico gerenciando a propriedade, se necessário saio comprar  medicamentos e  vou ao banco”, aponta Marisa.

Um ponto curioso do rebanho de Marisa é o nome das vacas. As iniciais dos nomes são dadas em sequência alfabética pelo ano, ou seja, se a letra da vez for P, todos os animais terão algum nome com esta letra. Visitando a propriedade é possível conhecer a Loreta, Jewel, Hispana, Hillux, Isis  e outros nomes criativos. Para escolher os nomes são usados vários critérios como a associação ao nome da mãe, nomes bonitos, palavras que fazem eles sentirem que têm boas energias, mas afirmam que tem vacas que chega a ser difícil escolher os nomes de tão lindinhas que são. Essa prática virou uma atividade da família, “sentamos para decidir os nomes e tentamos entrar em um consenso”, afirma.

O rebanho é predominado por gados de origem holandesa, tanto preto e branco, como vermelho e branco. A raça é popular nos campos gerais, pela grande influência e concentração de famílias holandesas em Carambeí e Castro. Além de geneticamente ser uma raça mais resistente ao frio por exemplo, o que favorece a criação no sul se comparado a outras regiões. Vale lembrar que o rebanho de Marisa é vencedor em competições locais e estaduais.

Durante a conversa, ao ser perguntada sobre a existência de alguma vaca que é especial, Marisa não conteve as lágrimas. “Com certeza o nome dela é Brilhante, ela foi muito, muito especial”. A vaca foi adquirida por embrião de outro produtor da região e por meio dela “tivemos muitas conquistas com ela, hoje o rebanho tem muitas descendentes dela, inclusive a preferida da minha filha é neta dela”, contou. A vaca já não faz mais parte do rebanho e morreu pela idade avançada. Assim mesmo, ela segue na lembrança e nas competições.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Rafael Piotto

Edição e Publicação: Rafael Piotto

Supervisão de produção: Marcos Zibordi e Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Candida de Oliveira e Muriel E. P. Amaral


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