A Revista Internacional de Folkcomunicação (RIF) recebe, até o dia 30 de abril, artigos para o dossiê temático “Folkcomunicação, povos e comunidades tradicionais”, que enfoca a ancestralidade e as questões identitárias. A organização do dossiê, que será publicado na edição de junho de 2020, será realizada pela professora Dra. Cristina Schmidt, da Universidade de Mogi das Cruzes, pela professora Dra. Clarissa Marques, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e pelo professor Dr. Wolfgang Teske, da Universidade Federal de Tocantins.
O mundo moderno vem sendo apresentado a partir de uma lógica que nasce de seu próprio sistema, deixando as peculiaridades das experiências históricas e coloniais como um anexo a ser consultado a depender das contingências. Entretanto, uma outra história pode ser identificada. É a história do capitalismo histórico no “Mundo Atlântico” e suas modernidades coloniais, já que foram muitas e não apenas uma única construção moderna. Seus resultados emergem da dominação política, econômica e cultural, da colonização do imaginário, que terminou por construir como marca a subalternidade.
O século XX enxergou a diferença colonial a partir da distinção centro-periferia. Hoje, a diferença está em toda parte, “nas periferias do centro ou nos centros da periferia”, como diria Walter Mignolo. Sendo assim, a provocação aqui realizada pela edição nº 20 da RIF fundamenta-se diante do corte epistemológico que identifica a crise como uma crise de civilização, do pensamento ocidental, como uma crise da diferença, na qual o pensamento liminar é consequência da diferença colonial.
A resistência em nome da diferença torna-se um enorme desafio diante da tela na qual desigualdades e exclusão são traços marcantes e nem sempre coloridos, tornando cada vez mais necessárias as lutas assumidas pelos debates, pesquisas e publicações sobre raça, etnia, identidade, preservação ambiental, território, dentre outros, seja a partir dos estudos culturais ou fora deles.
O colonialismo se foi, mas deixou a colonialidade como desafio às resistências. Nessa toada resistem culturas dinâmicas que dialogam ou conflitam permanentemente, interna e externamente, com as iguais ou com as diferentes, algumas de modo mais intenso que outras. Nesse compasso misturam, integram, desintegram, ressignificam. Nada de cultura pura ou unicidade histórica. Essas mesclas e indefinições compõem os movimentos e experiências culturais da contemporaneidade, o universalismo moderno fracassou.
A ancestralidade, bem como a territorialidade dos povos e comunidades tradicionais trazem em sua trajetória identitária e consolidadora crenças e rituais instauradores, saberes herdados em tempos e povos longínquos. Mas, também expõem as intervenções conflituosas no decorrer da história: de violências, de exclusão, extermínio e massacre cultural – seja pelos meios religiosos, econômicos, políticos, educacionais, religiosos, midiáticos.
E, nesses últimos três anos, povos e comunidades tradicionais acompanham um desmoronar das políticas públicas que lhes garantiam, minimamente, perspectivas de inclusão social por meio de educação e saúde, pelo direito ao território e de expressão cultural, religiosa e política.
Por isso, com suportes conceituais como: grupos marginalizados, líder de opinião, ativista midiático, folkmidia, folkmarketing, taxionomia da Folkcomunicação, folkcom política, folkcom turística, refletir sobre a ancestralidade exige um descortinar estratégico que permita visualizar o que se perdeu nesses processos. E/ou até mais importante, compreender e revelar o que se configura no momento presente, as linhas que conduzem a novas culturas, as referências que configuram grupos e expressões atuais. Ainda, ao se propor que a Folkcomunicação – seus termos, conceitos, metodologia – seja tomada para analisar essa temática é proposto um posicionamento mediante uma situação social de luta de classe, de marginalidade e exclusão, que exige protagonismos.
A RIF incentiva submissões de artigos que proponham reflexões teóricas ou práticas, advindas de pesquisas bibliográficas e/ou empíricas envolvendo diferentes aspectos, tais como:
– Culturas originárias e contemporaneidade: relações com as urbanidades; urbanizações e gentrificações.
– Povos tradicionais: experiências de inclusão, articulação e valorização.
– Territórios e ancestralidade: simbolismo e geopolítica, o valor e a posse da terra.
– Manifestações e expressões tradicionais: festas e danças, culinária e medicina tradicional, histórias, causos, registros e memórias.
– Ancestralidade e identidade étnica.
– Cultura e Religiosidade tradicional: relações e conflitos com religiões oficializadas cristãs e de outras denominações.
– Transmissão de saberes e fazeres tradicionais: mídias e suportes, mediadores, mensagens, processos e produtos.
– Povos tradicionais, Políticas Públicas e movimentos de resistência: ações, coletivos, movimentos, lideranças, legislação – políticas, programas, projetos.
– Problemas públicos e relações com o poder: Estado de proteção social ou de aniquilamento.
Submissões
Os artigos podem ser submetidos em português, espanhol ou inglês até o dia 30 de abril, diretamente pelo sistema on-line da revista, no endereço http://www.revistas.uepg.br. Os textos, de 12 a 15 páginas, devem conter resumo em português, inglês e espanhol entre 5 e 10 linhas, além de três a cinco palavras-chave que expressem os conceitos centrais do texto. A formatação dos trabalhos deve ser feita conforme template disponível nas diretrizes aos autores, no site da Revista.
A RIF recebe também artigos sobre temas gerais, entrevistas, ensaios fotográficos e resenhas relacionados à folkcomunicação e à cultura popular em fluxo contínuo. Editada pelo PPG Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, em parceria com a Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação, a revista possui periodicidade semestral e publica a cada edição um dossiê sobre tema relativo aos estudos folkcomunicacionais.