Mulheres dos Campos Gerais no relato de Saint-Hilaire
O francês Auguste de Saint Hilaire (1779-1853) chegou ao Brasil em 1816. Integrava grupo de artistas e cientistas europeus que vieram realizar diversos estudos, num momento de abertura comercial e cultural com a transferência da corte portuguesa para o então criado Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Como botânico, a prioridade do viajante foi produzir conhecimentos descritivos da flora brasileira. Entretanto, em suas viagens pelo país, os povoados, as habitações e as pessoas que compunham a sociedade daquele momento também foram objeto do interesse narrativo do francês.
Saint Hilaire chegou aos Campos Gerais vindo de Itararé, passou por Castro, Tibagi, Ponta Grossa e rumou para Curitiba. No trajeto, retratou algumas figuras femininas que encontrou em suas paradas pelas fazendas e vilas da região.
Na narrativa do botânico é possível identificar algumas características em comum entre as mulheres mais abastadas, esposas e filhas de grandes fazendeiros, estes muitas vezes ausentes da propriedade em viagem de negócios relacionados às atividades do tropeirismo. Quando esteve em Castro, assim se reportou sobre duas mulheres: “Uma, era a mulher do fazendeiro e a outra, mulher da pessoa que me recomendou. Todas as duas eram bonitas, tinham muito boas maneiras e uma conversa muito agradável.” (SAINT HILAIRE, 1995, p. 85). Por outro lado, registrou sobre a mesma vila: “Três ou quatro comerciantes, prostitutas e alguns artesãos constituíam praticamente toda a população de Castro.” (IDEM, 1995, p.76). No que se refere às casas de prostituição nos Campos Gerais, o viajante inclusive chega a anotar que um dos seus guias ausentava-se nos períodos noturnos, sugerindo que provavelmente ele dirigia-se a algum dos bordéis existentes na região.
Com relação às mulheres indígenas, o etnocentrismo racial de Saint-Hilaire ficou explícito quando passou na Fazenda Fortaleza. Descreveu uma índia Coroada que ali vivia como uma mulher de fisionomia agradável, e que as indígenas da sua tribo até poderiam aproximar-se dos homens pobres paulistas para compor possíveis famílias.
Por mais que muitas mulheres dos Campos Gerais ficassem responsáveis pela lidas da fazenda enquanto seus maridos estavam em viagem, isso não significa que a sociedade local não estivesse estruturada sob a égide do patriarcado. Interessante observar que na narrativa do botânico francês a maioria das mulheres abastadas são quase sempre referidas como ‘esposas’ do fazendeiro e seus nomes raramente são registrados.
REFERÊNCIAS
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem à Comarca de Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1995.
Autoras: Elizângela F.B. Gaioski ; Janaíne Caroline Meira
Acadêmicas do 4° ano do curso de Bacharelado em História UEPG
Ano: 2019
Revisão: 2020