Primavera Estudantil de 2016 em Ponta Grossa

Primavera Estudantil de 2016 em Ponta Grossa

No contexto de uma grande desvalorização da educação, da Reforma do Novo Ensino Médio e da PEC 241 de Michel Temer (a PEC do Teto de Gastos), os estudantes secundaristas da cidade de Ponta Grossa mostraram sua força e indignação.

No período entre setembro e novembro de 2016 estima-se que aproximadamente 1.100 escolas foram ocupadas no Brasil (OSHIMA , 25/12/2016, s/p.). De maneira horizontal e democrática, os estudantes organizaram debates sobre o Novo Ensino Médio e outras de suas reivindicações. Só no Paraná foram aproximadamente 800 escolas ocupadas (APP SINDICATO, 06/11/ 2017, s/p.). O Movimento Estudantil Secundarista de Ponta Grossa mostrou-se forte: 26 das 49 escolas da rede pública foram ocupadas.

Sob o total controle dos alunos, as escolas eram também cuidadas pelos mesmos. Os próprios estudantes organizaram turnos e grupos responsáveis pela limpeza da escola e alimentação dos que ali permaneceram, sobretudo no mês de outubro. Importante lembrar a ajuda de membros da comunidade e mesmo de professores apoiadores do movimento, pois grande parte da alimentação dos alunos vinha de doações.

O processo de ocupação das escolas seguia um certo padrão: após discussões e debates sobre o Novo Ensino Médio e a PEC, os estudantes faziam uma votação se sua escola seria ou não ocupada. Muitas coisas eram levadas em consideração nesse momento: como seria o dia-a-dia na escola, quanto apoio eles tinham e se já havia alguma escola ocupada na cidade.

Entendendo a situação em que estavam e a realidade que viviam em suas escolas, os “ocupas”, como eram chamados os estudantes que participaram do movimento, desenvolveram diversas atividades durante os dias de ocupação. Elas variam de aulas preparatórias para o Enem a debates, rodas de conversa, atividades culturais e esportivas e assistência jurídica estudantil.

Após dias de ocupação, os estudantes se deparam com um problema: a poucos dias do Enem, o então Ministro da Educação disse que cancelaria a prova nas escolas que estavam ocupadas. Isso, unido ao fato de que a maior parte da população e da mídia não era a favor dos “ocupas”, fez com que começasse a desmobilização dos estudantes. Algumas escolas resistiram mesmo diante de tais ameaças, mas depois dos pedidos judiciais de reintegração de posse, não havia muito o que fazer. A Justiça ordenou que os estudantes saíssem das escolas, senão teriam que pagar multas por cada dia a mais que continuassem ocupando tais espaços.

Poucas foram as escolas que ainda assim decidiram continuar com a ocupação. Em alguns desses casos, a polícia foi a responsável pela reintegração fazendo uso de violência contra os estudantes.

Contudo, os frutos das ocupações foram muitos. O maior deles, provavelmente, foi a formação política desses jovens que, em sua grande parte, nunca tiveram um contato anterior com movimentos políticos. Além disso, em abril de 2023 foi finalmente suspensa a implementação do Novo Ensino Médio. A luta segue, pois o objetivo dos estudantes secundaristas continua sendo a total revogação da proposta do Novo Ensino Médio.

Referências:

APP SINDICATO. Primavera dos Estudantes – a experiência das ocupações das escolas no Paraná 2016. Disponível em: https://appsindicato.org.br/primavera-dos-estudantes-a-experiencia-das-ocupacoes- das-escolas-no-parana-2016/ Acesso em: 11/11/2023.

OSHIMA, Flávia Yuri. Retrospectiva 2016: o ano em que alunos tomaram as escolas. Disponível em: https://epoca.globo.com/educacao/noticia/2016/12/retrospectiva-2016-o-ano-em-que-alunos-tomaram-escolas.html. Acesso em: 11/11/2023.

FLACH, Simone de Fátima; BOUTIN, Aldimara C. B. Delabona. A Práxis Político-Educativa nas Ocupações Secundaristas na Região dos Campos Gerais – PR. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/download/8660329/2 9917/131948. Acesso em 10/04/2024.

MINUCELLI, Conrado Pereda; SANTOS, Jaqueline A. A. dos; DOMBROWSKI, Osmir. #OCUPAPARANÁ – As Ocupações das Escolas Públicas Paranaenses em Outubro de 2016. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/tematicas/article/download/11123/64 08/19156. Acesso em: 10/04/2024.

Autora: Amany Marcondes de Oliveira

Acadêmica do 2° ano do curso de Licenciatura em História, UEPG

Ano: 2023

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