Clube Treze de Maio: espaço de sociabilidade, cultura e resistência negra em Ponta Grossa

Clube Treze de Maio: espaço de sociabilidade, cultura e resistência negra em Ponta Grossa

No dia treze de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea no Brasil que assegurava, a partir daquele momento, a total libertação dos negros escravizados; entretanto, essa lei não garantiu que os recém-libertos tivessem direitos sociais básicos ou políticas públicas de reparação sobre as múltiplas violências sofridas durante o período de vigência da escravatura. Nesse sentido, a ‘libertação’ dos que viveram a experiência do cativeiro também não aboliu o preconceito racial, fato que acompanha a população afrodescendente até os dias atuais.

Assim, dois anos após a abolição da escravidão, em 1890, foi criado o “Clube Literário e Recreativo Treze de Maio” por um grupo de jovens negros que residiam no município de Ponta Grossa. Entre seus objetivos estavam a promoção da sociabilidade, divertimento e leituras para a população negra na localidade. O clube foi criado em um contexto em que negros e negras sentiam-se excluídos do convívio social na urbe, principalmente a participação em clubes sociais destinados aos brancos da cidade (LAVERDI, SANTOS, 2014). Os nomes de Lúcio Alves da Silva, Luiz Marias Bento, Cassemiro Cardoso de Menezes, Vidal Branco e José Borges constam como fundadores da sociedade (SANTOS, 2016, p. 91).

A primeira sede do Clube Treze de Maio, no entanto, foi inaugurada somente no ano de 1921. Construída em madeira, a demora para construção da sede da associação sugere ter alguns motivos. Entre eles, não somente a falta de dinheiro; mas, também, o preconceito de certos setores da sociedade da época que dificultavam a compra de um terreno pelos negros do clube (SANTOS, 2016). Desse modo, apenas no ano de 1936 foi construída uma nova sede, de alvenaria, preservada até hoje e considerada um patrimônio histórico de Ponta Grossa desde 2001 (SANTOS, 2016).

O teor literário do clube, segundo Merylin Santos (2014), foi uma tentativa dos idealizadores de se colocarem em pé de igualdade com a elite intelectual da cidade, e fez com que a sociedade mantivesse uma biblioteca durante parte de sua história. De acordo com o  estatuto de 1920, um dos intuitos principais da agremiação era ter sempre um livro para leitura na mesa da sede, onde os associados dedicariam seu tempo com “distração e instrução”.

Vale registrar que  a valorização do samba sempre foi uma das características marcantes do Clube Treze de Maio. Tal fato fez com que o clube de afrodescendentes não fosse frequentado apenas pela população negra da cidade, mas por todos aqueles que gostavam de sambar, como assegura Merylin Santos (2014). Para ela (2016, p. 48), o Treze de Maio constitui-se como “um clube negro formado por negros, mas que recebia brancos em seus eventos e festividades”

Ao longo do tempo, a associação realizou inúmeros bailes e demais divertimentos em prol da sociabilidade da população negra em Ponta Grossa, principalmente nos dias Treze de Maio, momento especial no qual os frequentadores iam muito bem vestidos para celebrar a existência do clube e o fim da escravatura no Brasil. Além disso, no Treze foram realizados muitos concursos de beleza a fim de enaltecer a beleza de meninas e mulheres negras que frequentavam o clube. Estas dificilmente ganhavam os concursos de beleza pela cidade. (LAVERDI, SANTOS, 2014).

A resistência negra é perceptível na história do Clube Treze de Maio. O espaço de convivência sempre atuou contornando o preconceito racial, desde os tempos  da construção das suas sedes; e principalmente agiu na construção de identidades positivas sobre o ser negro na cidade de Ponta Grossa e região dos Campos Gerais.

FONTES:

CLUBE LITERÁRIO E RECREATIVO TREZE DE MAIO (Ponta Grossa). Estatuto do Clube Literário e Recreativo Treze de Maio. Ponta Grossa: Gráfica Alves Pereira, 1920, p. 4-11. Disponível em: https://patrimoniopg.com/2020/06/18/imagens-clube-13-de-maio/ Acesso: 13.06.2021

REFERÊNCIAS:

LAVERDI, Robson; SANTOS, Merylin Ricieli dos. Narrativas de Identidade negra em concurso de beleza negra do clube treze de maio (Ponta Grossa, 1985-2006). Ateliê de História UEPG. Ponta Grossa (PR), 2014. p. 221-242.

SANTOS, Merylin Ricieli dos. “Quem tem medo da palavra negro?”: Morenos, misturados, mestiços, cafusos, mulatos, escuros, preto social participantes do Clube Treze de Maio – Ponta Grossa (PR). Dissertação (Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividades) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, 2016,  150 p.

AUTORA:  Bruna Gonçalves Ferreira, acadêmica do 3º ano – Licenciatura em História UEPG

ANO: 2021

 

 

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