Há décadas, as experiências e produções dos afrodescendentes têm sido discutidas sob a perspectiva das Africanidades. Esse conceito abrange os processos de transformação e ressignificação das culturas africanas no Brasil. Como afirma Cunha Junior (2001, p.12): “As Africanidades Brasileiras são reprocessamentos pensados, produzidos no coletivo e nas individualidades, que deram novo teor às culturas de origem.”
Essas dinâmicas envolvem a capacidade de reelaborar práticas socioculturais em contextos nacionais, considerando realidades e bases preexistentes. Nesse sentido, as Africanidades brasileiras apresentam elementos que não estavam originalmente nas culturas africanas, mas que são profundamente enraizados na diversidade cultural do continente africano.
É importante destacar que Africanidades não se limitam a africanos e afrodescendentes. Elas emergem de diálogos e trocas culturais entre diferentes etnias e culturas, sempre em constante transformação.
A exposição ÁFRICA(NIDADES) E(M) MÁSCARAS nasceu com a inspiração de Ki-Zerbo (2010, p.391), que afirmou: “Empreender a história de certas sociedades africanas sem compreender a linguagem múltipla dos cauris e das máscaras é como entrar numa sala de arquivo sendo ‘analfabeto’: a ‘leitura’ de sua evolução seria necessariamente truncada.”
Essa mostra no MCG busca evidenciar máscaras africanas como um elo direto com as raízes culturais, espirituais e artísticas que são centrais à identidade africana e suas diásporas.
As máscaras, além de símbolos culturais tradicionais que variam entre etnias e regiões do continente, possuem significados profundos – espirituais, religiosos e sociais. Elas são utilizadas em rituais, cerimônias de iniciação, celebrações e narrativas históricas. Assim, ao apresentar essas máscaras, a exposição destaca a pluralidade das culturas africanas e seu impacto no Brasil.
Por fim, a exposição cria pontes entre a herança africana e sua adaptação no Brasil, apresentando a Africanidade por meio de uma abordagem estética e filosófica. Aqui, a arte transcende o aspecto decorativo, revelando-se política, funcional, identitária e espiritual.