Ponta Grossa: 100 anos
Em 1923, comemorava-se 100 anos da existência de Ponta Grossa. Nos meses que antecederam o centenário, as discussões públicas nos jornais voltavam sua atenção para outra celebração: o centenário da declaração da Independência do Brasil. No entanto, esgotadas as repercussões das festividades da comemoração pátria, parte dos meses de agosto e setembro de 1923 foram reservados para planejar o aniversário do município.
Nessa seleção realizada pela equipe do Museu Campos Gerais, o visitante vai encontrar notícias, discussões e notas sobre a preparação das comemorações do centenário do município a partir da perspectiva editorial do jornal Diário dos Campos.
Uma vez que as colunas sobre centenário dividem espaço com menções da vida cotidiana da cidade, também será possível encontrar notícias da Revolução Gaúcha de 1923, de ecos da Primeira Guerra Mundial, e também anúncios da Photographi Biachi, do Cine Renascença, da Importadora Frederico Lange, da Cervejaria Adriatica e do Restaurante União Fascista, além de menções a sujeitos como Coronel Brasílio Ribas, Major Vitorino Antonio Batista, Caetano Munhoz da Rocha e Marechal Hermes da Fonseca.
Muirapiranga
Trazendo obras dom dimensão reduzida da coleção original de Elizabeth Titton, expostas no Complexo Cultural Funarte São Paulo entre 2019 e 2020, e posteriormente doadas ao Hospital Pequeno Príncipe, a exposição Muirapiranga no Paraná expressa-se através da acessibilidade. Acessibilidade que possibilita a fruição de públicos que convencionalmente não são contemplados pelos museus, a partir de recursos como a audiodescrição, braile e réplicas táteis. Dessa maneira, a exposição proporciona uma experiência democrática de acesso à cultura. Uma democratização alcançada no físico e também no simbólico, uma vez que as 21 esculturas e 15 gravuras que compõem a exposição dialogam com as mitologias e a cultura corporal de comunidades indígenas do Xingu.
Altamente resistente a infecções de fungos e cupins, mas de fácil trato para trabalhos manuais, a Muirapiranga, árvore amazônica similar ao pau-brasil, pode ser associada à resiliência dos povos originários, ancorada em suas sensibilidades, territorialidades e na relação com a natureza. A coloração vermelha da Muirapiranga é representada pelo tom de ferrugem das esculturas em metal, resultando em uma mistura da espacialidade da natureza e do universo do urbano, da eternidade do metal e da efemeridade das formas, que percorrem elementos que remetem à mitologia - das árvores, folhas, flores, água, peixes, pássaros, nuvens e estrelas. Esse arranjo oferece ao público a possibilidade de uma experiência estética que joga com os sentidos, mobilizando sensibilidades e subjetividades e abrindo espaço à reflexão.
Povos Paranaenses: Cultura Caiçara
O Museu Campos Gerais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, atento à diversidade histórica e cultural dos "Povos do Paraná", desta vez abre suas portas à Cultura Caiçara.
Caiçaras são indivíduos que vivem em parte do litoral carioca e ao longo do litoral paulista, paranaense e catarinense, herdeiros da miscigenação entre o indígena, o português e o negro africano. Essa cultura é caracterizada por sua complexidade simbólica e expressa materialmente por meio de vida própria ligada ao extrativismo vegetal, cultivo da mandioca e práticas da caça e da pesca.
No campo das manifestações imateriais, também bastante peculiares, emergem práticas e rituais religiosas como a Folia do Divino e o Fandango e suas decorrências, como bailes, ensaios de grupos, compartilhamento de espaços, ritmos sonoros e comportamentais próprios, disseminadas entre as diferentes comunidades do litoral paranaense. Aqui se relevam, portanto, importantes elementos aglutinadores dessa comunidade.
Desde o século XVI tais práticas foram se interiorizando e se ressignificando; por vezes encontrando - pontualmente - ecos entre comunidades tradicionais localizadas em outras regiões do Paraná, notadamente, nos Campos Gerais. Mesmo com menor intensidade e força, ainda hoje é possível encontrar traços da cultura caiçara entre coletividades caboclas fixadas nesta região do Estado, demonstrando a potência cultural na formação de identidades no Paraná.
Tendo em vista o encontro de cultural em movimento, no tempo e no espaço, que se fundem na abrangência da UEPG e, por sua vez, do Museu Campos Gerais, uma pergunta se impõe: qual o papel destas instituições na aproximação reflexiva, valorização e salvaguarda destes patrimônios culturais?
Sendo uma das atribuições da universidade pública a promoção de práticas de ensino, pesquisa e extensão - implicando na aproximação academia e sociedade, coprodução de conhecimentos das comunidades - o Museu Campos Gerais se propõe então a pesquisar, valorizar, sistematizar, referenciar, organizar, preservar e expor diferentes matrizes culturais, tradicionais e populares, nesta oportunidade representada pela exposição sobre Mundo Caiçara
SALUS: Histórias da saúde em Ponta Grossa
Benzimentos, costuras, sangrias, rezas, influsões caseiras, cataplasmas... até o começo do século XX era assim que as pessoas tratavam suas dores, infecções e doenças. Essa realidade se modificou gradualmente a partir do avanço do conhecimento científico, mesmo assim, as práticas populares de cura resistiram ao tempo e ainda hoje são buscadas por pessoas de todas as classes sociais e níveis de instrução. Em Ponta Grossa a chegada das ferrovias, ocorrida na década final dos Oitocentos, possibilitou a abertura de estabelecimentos farmacêuticos, trouxe profissionais de odontologia, enfermagem, farmácia e medicina e contribuiu para que a cidade contasse com dois grandes hospitais já no começo do século XX: o Hospital Ferroviário 26 de Outubro (1906) e a Santa Casa de Misericórdia (1912). A partir desse momento os anúncios de jornais locais indicam a existência de um considerável número de farmácias, consultórios odontológicos e médicos, apontando para o avanço das ações sanitárias científicas na cidade. Ao longo do tempo, saberes e práticas populares de cura dividiram espaços com estabelecimentos e profissionais ligados a uma percepção científica de saúde.
Nesta exposição abrimos espaço que contempla apenas o conhecimento técnico, acadêmico e científico. Provavelmente, qualquer pessoa que visite a exposição "Salus: Histórias da saúde em Ponta Grossa" vai encontrar objetos e espaços que parecem familiares, recordar histórias vividas ou narradas por algum amigo ou antepassado. Seringas, frascos, equipos, receituários, mobílias hospitalares, almanaques, balanças, entre outros objetos, estão presentes em nossas vidas desde que nascemos, mas é importante perceber que antes dos dentistas, farmacêuticos, médicos, enfermeiros e bioquímicos, havia os curandeiros, as parteiras, as benzedeiras e rezadeiras. As práticas terapêuticas científicas, portanto, não são naturais, mas foram concebidas e incorporadas a partir de um longo processo educacional, social e cultural.
Dignidade: as meninas de São Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe é um pequeno país formado por um grupo de ilhas na costa Atlântica da África. Entre os séculos XIX e XX, graças ao seu fértil solo vulcânico, as ilhas estiveram entre as maiores produtoras de cacau do mundo, famosas pela qualidade única do seu produto.
Esta rica colônia de Portugal tornou-se independente em 1975 e seu povo, que na grande maioria já não tinha acesso aos benefícios da então colônia, passou a viver em maior pobreza com o declínio econômico que se seguiu, fazendo com que a maioria da população hoje, viva abaixo da linha da pobreza.
Ao lado dessa pobreza existe um país com praticamente 100% de alfabetização, com um povo acolhedor, gentil e jovem, já que 70% da população tem menos de 30 anos. Crianças e jovens que precisam lutar diariamente para manter sua dignidade , sofrendo com a falta de acesso aos direitos básicos, principalmente na saúde, moradia e oportunidades de desenvolvimento.
A série de 10 imagens, registradas pelo fotógrafo Marcelo Weiss no Dia das Crianças, que em São Tomé e Príncipe é comemorado no dia 1º de julho, tem um significado especial: ir à escola é um motivo de orgulho e nessa data são realizadas festas em todos os colégios.
É um dia muito especial, no qual as crianças recebem dos pais o uniforme novo que será usado durante o ano. Para as meninas, o evento é ainda mais marcante: é quando suas mães capricham nos traçados de seus cabelos, transformando-os em verdadeiras obras de arte, símbolos da cultura e da dignidade resgatadas naquele momento.
Segundo o fotógrafo, captar os olhares e a alegria de cada uma dessas meninas foi uma experiência única, compartilhada na exposição "Dignidade".
Brazilian Way of Life: um visionário no interior do Brasil
Ao final dos anos 1940 e ao longo da década de 1950 o mundo viveu uma onda de otimismo após a Segunda Guerra Mundial. Nos Estados Unidos, o chamado American Way Of Life procurava apresentar ao mundo o seu modelo, pautado no consumismo, no desenvolvimento tecnológico, na padronização social e na crença nos valores democráticos. Nessa época, com a intensificação da Guerra Fria, era a visão de mundo oferecida pelos Estados Unidos em oposição à forma de vida da União Soviética.
No Brasil, esse modelo estaria longe de se tornar realidade e foi retratado de maneira muito sensível pelo industrial Mario Weiss. A vida tranquila com a família no interior de São Paulo intercalada às imagens de pessoas e paisagens durante suas explorações pelo Vale do Paraíba, ou suas viagens pelo Brasil, retratam desde cenas cotidianas até paisagens da roça, pescadores, caipiras e artesãos, evidenciando a falta de condições com que viviam muitos dos brasileiros naquela época, ou como poderíamos chamar de Brazilian Way of Life.