A história de Ponta Grossa com o cinema é antiga. Desde quando foram abertas as portas do Cine Recreio no ano de 1906, muitos outros projetos surgiram para apreciação dos amantes da sétima arte. Um deles, o Cinearte, nasceu em 2008 e por quatro anos fomentou o cinema brasileiro, promoveu debates sociocultarais e movimentou o cenário cultural princesino. Por meio de uma parceria do Jornal da Manhã, portal aRede e do Museu Campos Gerais (MCG), na próxima semana o Cinearte está de volta.
Na nova fase as sessões acontecerão no auditório Brasil Pinheiro Machado, espaço do Museu Campos Gerais que costuma receber diferentes atividades culturais, como palestras e debates e que possui capacidade para 60 pessoas. A realização acontecerá sempre às sextas-feiras, sem custo ou necessidade de confirmação prévia, quem chegar primeiro entra e ocupa os lugares disponíveis.
Reestreia
Para começar a temporada 2020 foi escolhido um dos nomes de maior sucesso nas edições anteriores: José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Serão três semanas com clássicos do cineasta que faleceu no último dia 19 de fevereiro. A primeira obra exibida será ‘À meia-noite levarei sua alma’. Assim, no dia 13 de março, uma sexta-feira 13 e data do aniversário de Mojica, pontualmente à meia-noite (de sexta para sábado) é dado início no Cinearte 2020.
Sob a coordenação dos professores Niltonci Chaves e Rafael Schoenherr, o projeto trará muitas novidades nos próximos meses, entre elas, a exibição de documentários do Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR). A exibição das produções que compõem uma mostra nacional está prevista para acontecer no mês de julho.
Niltonci foi um dos idealizadores do Cinearte e celebra o retorno do projeto, realidade possível graças a uma soma de esforços. “Para a gente poder retomar o projeto foi muito importante o apoio que a gente teve dentro da Universidade Estadual de Ponta Grossa [UEPG], da Reitoria, na figura do professor Miguel Sanches Neto e do professor Everson Krum, e especialmente o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais, na figura da pró-reitora Clóris Regina Blanski Garden. Esse apoio institucional, nos dando condição estrutural, colaborando para que a gente pudesse reestruturar o Museu Campos Gerais, é com esse apoio que a gente consegue viabilizar a volta do Cinearte”, explica Niltonci.
Passado
Nos quatro anos que ficou ativo, o projeto apresentou mais de 60 sessões no Cine Teatro Ópera, reunindo um público plural. Os acadêmicos e os idosos sempre apareciam em busca dos grandes clássicos, mas também havia aqueles visitantes mais sazonais, que iam para ver um ator específico, como Mazzaropi e Oscarito, ou levar as crianças para dar risada com comédias que marcaram gerações, como ‘Os Trapalhões’.
Diferente dos cinemas atuais, em que logo ao término da sessão o público vai embora, no Cinearte quando o filme acaba o show continua e as pessoas têm a oportunidade de interagir. Logo, não é apenas o filme em si, embora a discussão técnica esteja aberta, mas sim a obra a partir de um olhar mais cultural.
Memórias do Cinearte
Nelson Junior, professor de Artes Visuais na UEPG, participou do projeto desde o início, assistindo, comentando e debatendo. Na memória, carrega muitas obras, como a que contava a vida do comunicador Chacrinha. Na ocasião, os alunos de artes da UEPG apresentaram um musical, com direito a dança e figurino de Chacrinha e Chacretes.
Os debates, em que ele atuou muitas vezes como mediador, também rendiam bons momentos. “Quando você fala de cinema, desses filmes que não estão mais em circulação, de projetos como esse, muitas coisas vêm à tona: nostalgia, pessoas que querem contar uma história, uma recordação, mesmo daquilo que o cinema foi e representou nos anos 70,80”, relembra Nelson.
Legado do projeto
Felipe Soares, professor de História, era presença cativa no Cinearte, e uma das sessões teve um papel que acabou definindo o rumo da sua vida. A película de ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’, apresentou ao jovem o escritor Jorge Amado, que é hoje o ícone maior dele. Mais que isso, depois do filme, Felipe começou a estudar sobre a cultura popular baiana presente na obra, e a baianidade, junto com o Candomblé e a relação do povo com Orixás – esses aspectos se tornaram o grande tema de pesquisa do professor.
“Mais do que uma amostra e um circuito de filmes nacionais, eu acho que o Cinearte foi um dos pilares da construção das minhas opiniões políticas, das minhas preferências culturais, da minha própria construção como cidadão. De alguma forma, o Cinearte conseguiu confeccionar essa cultura em um projeto de vida que eu tenho hoje, apresentando um filme baseado na obra de Jorge Amado que é o cara que mais me inspirou para ser o que eu sou”, conta.
Programação
Dia 13/03 – 24h (de sexta para sábado)
“À meia-noite levarei sua alma”
Dia 20/03 – 19h
“Esta noite encarnarei no teu cadáver”
Dia 27/03 – 19h
“Encarnação do Demônio”
texto extraído do portal arede.info