A incansável rotina de Maria Cristina
Maria Cristina acorda por volta das seis horas da manhã; toma café; coloca as roupas para lavar e sai em direção ao trabalho às oito horas; por volta de meio-dia, ela sai do trabalho; busca comida para sua mãe, marido e filha; vai para casa da mãe deixar o almoço e chega em casa; come; volta para o trabalho; sai do trabalho às 17 horas; busca janta e demais coisas de que sua mãe precise; vai para a casa da progenitora, que necessita dos seus cuidados; durante o período da pandemia de Covid-19, Maria perdeu seu pai, que vivia com sua mãe; os dois, já idosos e com alguns problemas de saúde, eram focos possíveis da pandemia; “como eu saía mais, eu buscava coisas de mercado, de comer, para ter uma única pessoa fora de casa e foi desafiador porque, neste período, eu também precisava cuidar dos meus pais; eles não podiam sair, são idosos, dependiam só de mim, porque não tem mais ninguém da família aqui, meus irmãos moram todos fora; então eu corria para resolver as coisas para eles e para minha casa, foi uma jornada puxada e cansativa”
Confira nas palavras de Maria;
assim que o pai de Maria morreu, sua mãe, Joyce, de 83 anos, que vinha tendo problemas neurológicos, como o início de uma demência em etapa de diagnóstico de Alzheimer, teve um gatilho de piora, necessitando ainda mais dos cuidados da filha; por isso, Maria considera sua rotina, agora, no chamado pós-pandemia, em 2022, ainda mais exaustiva do que anteriormente, entre 2020 e 2021; dados do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) apontam que, durante o período pandêmico, as mulheres realizaram, em média, quatro horas de trabalho doméstico por semana a mais do que os homens; a pesquisa também mostra que essa múltipla jornada de trabalho da mulher fez com que elas ficassem mais vulneráveis à depressão, estresse e ansiedade, como Maria; atualmente, sua mãe fica sob os cuidados de uma cuidadora de idosas durante a manhã e tarde, mas depois precisa da filha; “na minha casa, sentem falta de mim, as coisas não estão no lugar, como estavam todos os dias”; e, mesmo tendo ajuda do marido, Maria sabe que sua presença faz falta; com tanta correria, além do cansaço físico, ela também sente cansaço emocional, pois não poder dedicar mais da sua vida a si mesma; “a gente passa a não ter mais tempo para fazer um esporte, para se cuidar, então, óbvio, você começa a ter dor de cabeça, você começa a engordar, você começa a ter sintomas de um sedentarismo e de um cansaço físico e emocional”
Maria relata;
mesmo com todas as mudanças que a pandemia de Covid-19 trouxe para o trabalho de Maria, como a transferência de pacientes para liberação de mais leitos e, mesmo trabalhando mais na adequação do espaço físico do hospital, ela tenta se dividir nos cuidados da sua mãe com sua irmã de Curitiba, para que possa ter um tempo para descansar e se cuidar; mas, por enquanto, ela acorda por volta das seis horas da manhã; toma café; coloca as roupas para lavar…
Ficha técnica:
Reportagem: Yasmin Orlowski
Foto e áudio: Yasmin Orlowski
Edição e Publicação: Yasmin Orlowski
Supervisão de produção: Marcos Zibordi
Supervisão de publicação: Candida de Oliveira e Muriel E. P. Amaral