A preservação da fauna paranaense

A preservação da fauna paranaense

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IAT de Ponta Grossa recebeu mais de 920 animais silvestres nos últimos quatro anos, entre resgates, entregas e apreensões

 

O interesse em fazer uma reportagem sobre resgate da fauna silvestre surgiu no ano passado, em uma tarde de sábado onde, na verdade, eu iria aprender a jogar tênis. Enquanto treinava com amigos no Parque Monteiro Lobato, no Jardim Carvalho, um pássaro simplesmente caiu na quadra. Era uma maitaca-verde. A ave parecia assustada. Às vezes, tentava voar, só que não tinha forças para subir e acabava se chocando contra a grade de proteção do campo. Pessoas que passavam pelo local presenciaram a cena e tentaram ajudar, mas ninguém sabia ao certo o que fazer.
Naquele momento, entrei em contato com uma amiga que é formada em Ciências Biológicas e que, por coincidência, trabalha no Instituto Água e Terra (IAT), órgão responsável pela preservação e recuperação do patrimônio ambiental paranaense. Ela questionou quais eram as condições da maitaca, que apresentava um pequeno sangramento no bico, provavelmente por conta do choque com a grade. Em seguida, a bióloga perguntou se havia a possibilidade de alguém pegar o animal e colocá-lo em uma caixa, até que ela pudesse ir ao local. Como era fim de semana, o escritório regional do IAT estava fechado. Com apoio de um casaco, um casal conseguiu segurar o pássaro e enrolá-lo na peça. Minutos depois, minha amiga chegou ao parque e fez o resgate. No início daquela mesma semana, a ave passou por avaliação médica e recebeu os tratamentos necessários.
Essa é a história de apenas um dos 46 animais silvestres resgatados na região dos Campos Gerais entre 2019 e 2022, de acordo com dados fornecidos pelo IAT. As aves são a espécie mais atendida, representando 17 resgates no período. Em 2020, apenas um animal foi resgatado, como mostra o gráfico abaixo.

O quantitativo reduzido está relacionado à pandemia de coronavírus. Como medida de segurança, os funcionários passaram a trabalhar de forma remota. Além disso, o distanciamento social fez com que a população ficasse mais tempo em casa e não encontrasse animais silvestres nas ruas.
Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o Paraná é uma das unidades federativas que mais reduziu a Mata Atlântica, com 3.299 hectares de área desmatada entre 2020 e 2021, um dos maiores índices nos últimos cinco anos. O estado fica atrás somente de Minas Gerais (9.209 ha) e Bahia (4.968 ha). O desmatamento de áreas verdes e o crescimento urbano têm reduzido o habitat de animais silvestres, que acabam indo para as cidades em busca de alimentos.

Resgate
Em dezembro do ano passado, a contadora Kamila Mocelin encontrou um quiriquiri, também conhecido como gavião-americano, em seu escritório, na região Central. Segundo ela, o pássaro, que ela imaginava ser uma coruja, estava assustado. “Fiquei preocupada por conta dos gatos que costumam aparecer lá. Liguei para a Polícia Ambiental e eles disseram que o resgate teria que ser feito pelo IAT”, explica. No contato com o instituto, a contadora foi orientada a colocar o animal em uma caixa até que uma equipe pudesse resgatá-lo. “Fico feliz em ter ajudado e aliviada em saber que agora ele está em boas mãos”, comemora Kamila.

Quiriri é uma das menores aves de rapina do mundo | Vídeo: Kamila Mocelin/Arquivo Pessoal

 

Quando um morador entra em contato com a equipe do Instituto Água e Terra, a situação é avaliada com base em um manual orientativo. Como os dois exemplos apresentados na reportagem mostram, em algumas situações, o IAT não precisa, necessariamente, ir até o bicho. No entanto, vale lembrar que cada caso é um caso. Assim, a recomendação é entrar em contato com o órgão ambiental, que indicará a melhor providência a ser tomada.
Em situações onde o animal encontrado não oferece riscos, por exemplo, o morador pode ser orientado a levar o bicho até o escritório regional do instituto, tomando todos os cuidados necessários. Conforme o gráfico acima, nos últimos quatro anos, 368 animais foram entregues pela população, a maioria aves. Quando a espécie localizada tem potencial agressivo ou possui risco de morte, a população deve acionar o escritório do IAT mais próximo, a Polícia Ambiental – Força Verde, pelo telefone 181, ou o Corpo de Bombeiros, discando 193.

Nem sempre o filhote precisa de ajuda
A bióloga e residente técnica do IAT, Bruna Kosofski, explica que é mais comum encontrar animais silvestres nas áreas urbanas durante a primavera e o verão, principalmente filhotes. É nessas estações que ocorrem a fase reprodutiva e de desenvolvimento de várias espécies.
No caso das aves, por exemplo, a bióloga explica que encontrar um filhote no chão não significa que ele está sozinho. Na etapa de aprendizagem, os pais sempre estão por perto, ensinando o pássaro a caçar, voar e ter sua autonomia. “Quando a gente pega o bicho e acha que está ajudando, muitas vezes, a gente acaba atrapalhando”, comenta. “Às vezes, tirando o filhote dos pais, a pessoa está impedindo aquele animal de viver”, completa.
Ao encontrar um filhote, o IAT recomenda observar se ele está ferido. Caso esteja, o órgão deve ser contatado. Se o bicho não possui nenhum machucado, é importante verificar se existe um ninho próximo e se os pais estão na região. Se isso se confirmar, a melhor opção é deixar o filhote no local. Intervenções são sugeridas quando há risco de ataque de cães e gatos, por exemplo. Nessa situação, os predadores devem ser afastados ou, em último caso, a cria deve ser movida para uma área segura e próxima de onde foi encontrada, já que os progenitores podem retornar para buscá-la.

Crimes contra à fauna
Além dos resgates e das entregas feitas pela população, o Instituto Água e Terra também atende animais silvestres apreendidos por órgãos ambientais. Segundo o artigo 29 da Lei Federal nº 9.605/1998, comete crime “quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente”.
Entre 2019 e 2022, a regional de Ponta Grossa recebeu 489 bichos, principalmente aves. A partir de denúncias, as apreensões são feitas por agentes da Força Verde ou do próprio IAT. O principal crime cometido contra a fauna silvestre é o cativeiro ilegal, que consiste no confinamento de animais selvagens sem autorização adequada. De acordo com o Setor de Fauna do IAT, a cidade de Ponta Grossa alcançou 84 registros desse tipo de infração nos últimos cinco anos. A detenção para quem comete esse crime pode variar de seis meses a um ano. Também há multa de R$ 500,00 por indivíduo de espécie apreendido. O valor sobe para R$ 5 mil por indivíduo caso a espécie esteja em perigo de extinção.

Dos 69 animais apreendidos em 2022 pelo IAT, todos eram aves | Fotos: Bruna Kosofski/Arquivo pessoal

O mesmo artigo da Lei Federal também criminaliza o tráfico da fauna silvestre. A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS) indica que aproximadamente 38 milhões de espécimes são retiradas da natureza por ano no Brasil. Além disso, o RENCTAS aponta que, de cada 10 bichos traficados, apenas um sobrevive.

Como denunciar?
A população pode denunciar crimes ambientais ao Instituto Água e Terra pelo site do órgão, na aba Ouvidoria. A denúncia pode ser registrada de forma anônima. Neste caso, é importante enviar dados que permitam a investigação, como nome e sobrenome do denunciado e também informações de quando, onde e como a irregularidade ocorreu. Crimes contra à fauna silvestre também podem ser comunicados de forma sigilosa ao Batalhão da Polícia Ambiental – Força Verde, pelo Disque 181.

CETAS
Os animais recebidos pelo IAT, seja em apreensões, entregas ou resgates, são encaminhados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres dos Campos Gerais (CETAS). Inaugurado em 2018, o espaço tem o objetivo de fazer a triagem, avaliação, recuperação, reabilitação e destinação desses bichos. A unidade foi construída em um terreno doado pela Prefeitura de Ponta Grossa, no Distrito Industrial. A iniciativa foi viabilizada a partir de um termo de compromisso firmado entre o Instituto Klimionte Ambiental, o Consórcio Energético Cruzeiro do Sul e o Instituto Água e Terra.
Segundo a médica veterinária e zootecnista Rosana Milock, que integra a equipe do centro de triagem, mais de 1 mil animais foram atendidos desde o início das atividades. A estrutura possui recintos para répteis, mamíferos. O espaço para aves ainda será construído. As espécies recebidas passam por avaliação clínica para ver se têm condições de retornarem para a natureza. Em caso de doenças ou de ferimentos, os animais passam por reabilitação e recebem tratamento adequado. Depois da recuperação, ocorre a soltura. Quando isso não é possível, o bicho é encaminhado para algum empreendimento licenciado pelo IAT e pelo Ibama para trabalho com fauna silvestre.
O CETAS dos Campos Gerais é o único do Paraná O recurso financeiro para manutenção das atividades vem do Instituto Klimionte e de doações feitas ao programa Nota Paraná. A população pode contribuir com a iniciativa ao depositar notas fiscais sem CPF em urnas com a identificação do centro de triagem. No Instagram @cetaspr, há um tutorial de como direcionar os cupons por meio do aplicativo Nota Paraná.
Parte da verba financeira ainda é repassada através de compensações ambientais. Isso ocorre quando a implantação de um empreendimento provoca impactos significativos no meio ambiente. No entanto, o repasse tem período determinado. O CETAS tem buscado estabelecer contato e parcerias com empresas da região que, com base no licenciamento ambiental, necessitam realizar ações compensatórias. Porém, de acordo com Rosana Milock, a pandemia de coronavírus atrapalhou essa aproximação.

Serviço
Escritório Regional do Instituto Água e Terra em Ponta Grossa
Endereço: Rua Balduíno Taques, 217, Estrela
Telefone: (42) 3225-2757
E-mail: iappontagrossa@iat.pr.gov.br
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 12h, e das 13h30 às 17h30

 

Ficha técnica
Reportagem e foto de abertura:
Matheus Gaston
Supervisão de produção:
Muriel Amaral
Supervisão de publicação:
Cândida de Oliveira


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