Exposição de crianças em redes sociais é porta de entrada para criminosos
Um dos perigos é a erotização precoce, que pode tornar o menor vítima de crimes
Em um mundo cada vez mais conectado, crianças crescem com acesso à tecnologia. Mais de 20% dos pequenos acessam a internet pela primeira vez antes dos seis anos de idade. Quase 90% das crianças e adolescentes possuem perfis em redes sociais, segundo a TIC Kids Online, acompanhando as tendências. Entretanto, quando o uso da tecnologia torna-se perigoso para as crianças, é hora de rever limites.
Existem dois tipos de exposição midiática quando o fenômeno envolve menores. O primeiro, denominado sharenting, é feito pelos próprios pais e responsáveis. O termo se refere ao compartilhamento (to share) realizado pelo poder familiar (parenting). Ela ocorre sem o consentimento da criança, gerando a violação da privacidade infantil. Já o segundo tipo de exposição é realizado pelo próprio ator envolvido, neste caso, a criança ou adolescente. Ainda que tenha autonomia para publicar sobre sua vida nas redes sociais, o monitoramento dos pais pode se fazer necessário em alguns casos.
Paula Carvalho é mãe de Maria Alice, de seis anos. Para registrar a rotina da filha, Paula criou um Instagram para Maria Alice em junho de 2022. A mãe dá preferência a registros do dia a dia e vídeos da filha se arrumando para sair. Entendendo que a criança ainda é muito nova para ter acesso direto às redes sociais, todo o gerenciamento da conta é realizado por Paula, que não se sente à vontade para ensinar Maria Alice a mexer na plataforma.
Uma pesquisa realizada em 2022 pela empresa Qustodio mostra que, a nível global, o TikTok foi a rede social mais utilizada para consumo por crianças e adolescentes, de 4 a 18 anos, pelo terceiro ano consecutivo. Criado para servir de entretenimento, no Brasil, o TikTok também é a principal rede utilizada por menores de idade, com 34,2% de usuários, segundo a TIC Kids Online. Entretanto, existem riscos nesse uso que podem passar despercebidos. A alta exposição às telas e a erotização precoce vista através dos vídeos de dança publicados no aplicativo, por exemplo, são alguns dos desafios enfrentados pelos pais.
Nesse cenário, a pedofilia é um dos maiores riscos. Os criminosos podem acessar indevidamente fotos e vídeos publicados nos perfis das crianças para produzir conteúdo pedófilo, ou então, podem se aproveitar da ingenuidade por meio da aproximação com as crianças nas redes sociais. Outro risco, é que a criança seja vítima de morphing, quando indivíduos salvam fotos das redes sociais para criar montagens com fotos pornográficas.
Para Paula, existe perigo na exposição de crianças na internet, por isso, para proteger a integridade e privacidade da filha, ela considerou necessário impor limites. “Evito postar danças do TikTok, por exemplo, porque não quero expor nem ela, nem o corpo dela. Tem muitas pessoas que podem olhar diferente. Por mais que seja o momento do TikTok, eu prefiro que minha filha não entre nesse universo”, argumenta.
Criar perfis para crianças em redes sociais tem se tornado cada vez mais comum por pais que desejam registrar a vida dos filhos. Porém, de acordo com a pesquisadora em Infância e Mídias Digitais, Renata Tomaz, essa exposição não é uma decisão somente das crianças. “Alguém está escolhendo por elas usar imagem, voz e falas. Ao postar a foto, elas não imaginam as outras pessoas que estão vendo aquele conteúdo”. Segundo Renata, é nessa incapacidade de pensar quem pode ver a imagem que reside o perigo das crianças.
Vídeos publicados no TikTok com danças de apelo sensual, dublagens de falas inapropriadas e, até mesmo, uma inocente foto postada mostrando uniforme da criança podem comprometer a segurança e, com isso, tornar os menores vulneráveis a redes pedófilas, crimes de assédio sexual e de apropriação de imagem. Dados do Safernet mostram que em 2022, o Brasil foi o oitavo país com maior número de denúncias de páginas com conteúdo de pornografia infantil. A maior parte dos materiais estavam sob domínio do Twitter, mas também são listados aplicativos como Telegram, TikTok e Instagram.
Para proteger a privacidade dos menores, a delegada Ana Paula Cunha, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) de Ponta Grossa, recomenda que perfis em redes sociais sejam sempre privados, para que exista um controle de quem vê as publicações. “Os stories do Instagram ajudam, porque é uma foto que ficará por um tempo ali e depois vai sumir”. Dirigindo-se para os pais, a delegada orienta. “Quando quiser publicar uma coisa muito direcionada, publique ali”.
Além disso, Ana Paula ressalta a orientação como forma de diminuir as chances da criança ser vítima de crimes na Internet. “Deve haver essa conversa em casa, porque se não tiver e a criança cair num golpe, ela não vai ter coragem de contar para os pais. Eles precisam ter consciência de que precisam orientar e dar uma olhadinha no que tem no celular”, afirma.
Ficha técnica
Reportagem: Isadora Ricardo
Edição: Lilian Magalhães
Publicação: Isadora Ricardo
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de edição: Cândida de Oliveira e Mariel E.P. Amaral