Grupo Porto Sem Mar traz o maracatu para PG

Grupo Porto Sem Mar traz o maracatu para PG

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O projeto faz ensaios abertos para quem estiver interessado em aprender ritmos de percussão

A movimentação começou tímida, por volta das 16 horas, as pessoas ainda estavam a procura do local exato do ensaio, previsto para acontecer no Parque Ambiental no Centro de Ponta Grossa, onde o fluxo de pessoas é geralmente grande. Rostos familiares começaram a se reconhecer até o início da atividade, cerca de 20 minutos depois do combinado. Os instrumentos de percussão chegaram com a ajuda de alguns integrantes, cada um pegou aquele que tinha mais afinidade e os batuques que levariam ao ritmo do maracatu começaram. A idealizadora do projeto contou a história e os  pontos importantes do estilo musical. Então apareceram as batidas graves e os agitos agudos, até chegar no maracatu.

Esse foi o segundo ensaio do Grupo Percussivo Porto Sem Mar. O projeto de percussão é gratuito e aberto, e busca ensinar pessoas interessadas em aprender instrumentos musicais de percussão e em compreender o maracatu, a história do ritmo no Brasil. O projeto começou logo após o carnaval deste ano, quando Ponta Grossa iniciou o movimento de forma mais organizada enquanto uma atividade cultural.  Segunda a idealizadora do grupo, Melu do Brasil, o projeto foi pensado para circular a cultura o ano todo na cidade. “Pensamos nesse projeto pela necessidade de Ponta Grossa ter mais atrações e movimentos de rua, já que esse momento fica reservado para o carnaval, que também iniciou com a cultura dos blocos de rua”, explica. 

 

Grupo ensaia no Parque Ambiental pelo comando da professora Melu do Brasil

As musicalidades tradicionais brasileiras são o foco de estudos do grupo. Por isso, o ensaio é baseado no conhecimento de estilos  musicais como o maracatu de baque virado, o samba de coco e o afoxé. Segundo Melu, esses estilos também estão relacionados à história do Brasil. “Tocar esses ritmos exige dedicação, estudo, conscientização não apenas sobre a maneira de tocar, mas olhar para suas histórias e trajetórias enquanto movimentos de resistência na cultura brasileira”, afirma.

Estilos

O  maracatu de baque virado tem como característica o momento que os integrantes do grupo executam que os tambores “dobram” a base rítmica da percussão e fazem o que chamam de viração. Os tambores seguram o compasso da marcação, enquanto ao mesmo tempo, “viram” a batida percussiva.

O samba de coco tem como característica a oralidade. A marcação do tempo com palmas é um dado típico das rodas de coco. A estrutura é de diálogo, sendo o puxador uma espécie de solista e os demais dançantes, o coro da resposta.

Já o afoxé tem três instrumentos básicos que fazem parte do ritmo:  o afoxé, cabaça coberta por uma rede formada de sementes ou contas, é percutido agitando-se a rede, que bate no corpo do instrumento. Os atabaques, de três tipos, com três tamanhos diferentes em conjunto traduzem o som do ijexá, tocado no afoxé atualmente.

 

Descentralização

Outra característica do grupo é buscar uma descentralização da cultura em Ponta Grossa e fugir dos lugares e momentos que a cidade leva cultura para o público. Além do Porto Sem Mar ser produzido fora da época do carnaval, ele ainda procura ter uma característica itinerante: com o desenvolvimento maior do grupo, o objetivo é fazer ensaios em vários pontos e não apenas no centro, como foram os primeiros ensaios, de acordo com a idealizadora. Essa característica ganha relevância no projeto, promovendo uma reflexão sobre a centralização da cultura em Ponta Grossa. 

Os integrantes compreendem que as pessoas da  periferia fazem parte da história que a música e os estilos carregam. “As culturas que estamos estudando são, majoritariamente, periféricas. Quando resolvemos nos debruçar sobre elas é um serviço de respeito e responsabilidade que não esteja apenas ao alcance de uma minoria”, explica Melu. A percussionista comenta que Ponta Grossa é carente de uma mobilidade urbana de qualidade, de um sistema de transporte público que possibilite às pessoas da periferia a deslocarem-se ao centro da cidade para atividades de lazer. “A ideia para o futuro é que mais pessoas das periferias também estejam conosco, em contato com essas tradições”, expõe.

As pessoas que vão até o projeto não precisam conhecer música e nem ter qualquer conhecimento teórico ou prático para participar. Uma das participantes do projeto, Nayla Beraldo, conheceu o Grupo Percussivo Porto Sem Mar a partir de uma amiga, se interessou e começou a participar dos ensaios. Ela acredita que o grupo é um bom começo para que as pessoas reconheçam esse estilo musical em Ponta Grossa, mesmo sendo uma atividade nova na cidade. “Acho incrível existir esse projeto, já que é o único que traz o maracatu e outros ritmos para a cidade. E ser aberto para a comunidade é outro ponto, mesmo com as dificuldades de acesso à cultura para toda a população”, reflete.

Para Nayla o importante é que o projeto tenha começado e que aos poucos alcance o maior número de pessoas. “Levando em consideração que a gente está falando de uma cidade do sul, que ainda é muito conservadora, o projeto consegue trazer uma quebra de preconceitos”, comenta a integrante.

Ficha técnica

Reportagem: Catharina Iavorski
Foto/vídeo: Catharina Iavorski
Edição e publicação: Leriany Barbosa
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Muriel E.P. Amaral


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