Isso é muito Black Mirror… ou não?

Isso é muito Black Mirror… ou não?

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Conhecida por criticar o uso da tecnologia atrelado ao comportamento humano, a nova temporada da série se distancia de suas origens 

A série Black Mirror, de acordo com a sinopse, se sustenta em contos de ficção científica que refletem o pior da tecnologia, mostrando que nem toda novidade traz somente benefícios para a sociedade. E foi por conta dessas características que surgiu a expressão ‘‘isso é muito Black Mirror’’. A produção é desenvolvida pelo Netflix e atualmente possui seis temporadas. Ela estreou em 2011 e a nova temporada foi lançada em junho de 2023. No entanto, o padrão de Black Mirror para esta temporada parece ter sido alterado quando comparada às temporadas anteriores, mais distantes de temas sobre tecnologia e próxima ao sobrenatural. E se você ainda não assistiu a nova temporada, melhor parar por aqui: os próximos parágrafos contém spoilers! 

O primeiro episódio, intitulado ‘‘Joan é péssima’’, retrata a história de uma mulher que teve sua vida exposta em uma série de streaming. Neste episódio, tudo que Joan vive é transmitido em tempo real à série dela mesma. Com essa reviravolta em sua vida, a protagonista perde o emprego e o noivado. Por isso, Joan pretende processar a empresa de streaming, mas não consegue, pois ela concedeu o direito para a plataforma explorar sua vida quando aceitou os termos de uso da empresa. Até aqui, já podemos refletir junto ao episódio, o costume inconsciente de assinar termos de usos sem antes lê-los. 

Apesar da crítica deste primeiro episódio envolver tecnologia, a reflexão não é inédita pois já foi vista em outra produção. O longa-metragem ‘‘Countdown’’, produzido pela STX Entertainment, conta uma história com proposta semelhante. O filme, de 2019, é um suspense em que jovens assinam os termos de condição de um aplicativo e aceitam uma maldição.

Voltando a Black Mirror, podemos dizer que a temática padrão do seriado se distancia do esperado a cada episódio da temporada. Em ‘‘Lago Henry’’ e ‘‘Além do Mar’’ (segundo e terceiro episódio) alguns momentos da trama retratam situações envolvendo tecnologias, porém o tema ainda é segundo plano nas produções. Black Mirror costumava relacionar aspectos das novas tecnologias com críticas ao uso, já nesses dois episódios, a tecnologia é apenas um elemento na trama que não interfere na produção. É a partir do quarto episódio que a série deixa para trás os assuntos convencionalmente abordados, que envolvem tecnologias, e no decorrer da temporada os episódios começam a ficar sombrios.

 O quarto episódio ‘‘Dia de Mazey’’ possui uma cena que parece ter sido extraída do filme Crepúsculo, no qual uma personagem, inesperadamente, acaba se transformando em lobisomem. De acordo com  a própria sinopse da Netflix, este episódio pretende mostrar como a abordagem exacerbada de paparazzis atrapalha o cotidiano de pessoas da vida pública. No entanto, a narrativa se perde ao meio do episódio e de repente surge o sobrenatural. Segundo críticas e análises de alguns telespectadores do site Banco de Séries, ‘‘Dia de Mazey’’ é o pior episódio da sexta temporada. Em ‘‘Demônio 79’’, último episódio da temporada, o sobrenatural também marca presença. Na produção, a protagonista entra em uma maldição e precisa matar três pessoas para que o mundo não seja destruído. Assim, podemos concluir que esse episódio não envolve nada de tecnologia e marca totalmente a transformação de um Black Mirror padrão para algo totalmente novo.

Primeiro episódio da sexta temporada, ‘‘Joan é Péssima’’ e último episódio ‘‘Demônio 79’’ | Arte: Evelyn Paes

O próprio criador do seriado, Charlie Brooker, diz que a série pode passar da transição do Black Mirror para o Red Mirror (‘red’ para se referir ao teor sobrenatural ‘sangrento’ que a série assumiria) no sentido figurado. Isso significa que o novo foco do seriado será voltado às críticas sobre o comportamento humano, mas atrelado ao sobrenatural. Sabemos que a origem de Black Mirror seria apresentar de forma crítica aos telespectador a temática, para que fosse possível ‘olhar com outros olhos’ as evoluções tecnológicas. Podemos dizer que as primeiras temporadas do seriado cumprem com esse papel. No entanto, com a mudança, a expressão ‘‘isso é tão Black Mirror’’ perde força. 

A ideia de ser algo novo ao final da temporada foi realizada, mas destoa das demais temporadas da série, e o movimento não agradou alguns dos fãs do seriado, como apresentam as avaliações do Banco de Séries. Segundo o site, ‘Joan é péssima’ é o episódio favorito da sexta temporada, justamente por ser fiel ao padrão que a série já costumava seguir. Seria uma boa ideia mudar totalmente uma narrativa que foi criada há anos, possui diversos fãs e agrada o público? Não sabemos, o que podemos dizer é que causou estranheza aos telespectadores.

Ainda não há confirmações sobre a sétima temporada da série. Mas, com a espera de quatro anos para o lançamento da produção mais recente, a expectativa é de que ainda haja continuidade. O que fica para os fãs é o questionamento: Black Mirror vai mudar definitivamente para o Red Mirror?

 

Ficha Técnica

Resenha: Evelyn Paes
Edição: Isadora Ricardo e Lilian Magalhães
Publicação: Maria Luiza Pontaldi
Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos
Supervisão de edição: Cândida de Oliveira e Muriel E.P. Amaral


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