Síndrome da feiúra imaginária: o transtorno com maior índice de suicídios
Redes sociais contribuem para o desenvolvimento do transtorno em adolescentes e jovens
Olhar-se no espelho de maneira incontrolável, praticar exercício físico por horas, não sair de casa por vergonha da aparência, enxergar defeitos no corpo e viver obsessivamente para mudá-los. Esses comportamentos são alguns sintomas apresentados por quem possui Síndrome da Feiúra Imaginária, conhecida também como Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), segundo a psicóloga especialista em transtornos alimentares e de imagem, Debora Stadler.
Para o profissional de Educação Física Ericson Dias, redes sociais influenciam no emocional das pessoas e contribuem para agravar a dissociação de imagem corporal, sobretudo em adolescentes. Ericson relata o caso de um novo aluno que o buscou na academia em que trabalha como personal trainer de musculação. “Na avaliação física, ele mostrou a foto de um fisiculturista muito famoso e disse que queria treinar para ficar igual. Paralisei, porque ele não esperou nem eu falar qual era o seu biotipo, contar das medidas, explicar como seriam montado os treino. Ele, simplesmente, não estava ligando para o próprio corpo, só queria ser igual à outra pessoa que ele viu no Instagram que treina há anos e utiliza vários hormônios e anabolizantes para estar com aquele tipo físico”, relata. O caso envolvia um novo aluno de 17 anos que, no seu primeiro dia de musculação, já indicou inúmeros defeitos em seu corpo e apontou qual era seu objetivo, de certa forma irreal e prejudicial ao próprio corpo.
Em 2021, o jornal Wall Street teve acesso aos relatórios das políticas de privacidade do Instagram, que revelavam que a empresa sabia do potencial nocivo da rede para os adolescentes, pois muitos se comparavam e se sentiam mal com o próprio corpo. A pesquisa expôs que a cada três adolescentes, um tinha relação saudável com si próprio, mas que a rede social transformou esse vínculo para nocivo.
Após o vazamento desse relatório, muito foi falado sobre dissociação e distorção de imagem. Contudo, engana-se quem pensa que esses transtornos existem há pouco tempo. Mesmo sendo citado pela primeira vez em 1891, pelo médico italiano Enrico Morselli, há anos o TDC é mal diagnosticado por especialistas que o deixam passar despercebido e o confundem frequentemente com diversos tipos de transtornos alimentares. Entretanto, transtornos alimentares como anorexia e bulimia são apenas consequências do TDC, que ultrapassa de maneira agravante qualquer um dos transtornos alimentares citados. Em seu livro Transtorno Dismórfico Corporal: Uma Desordem Completa, a psicóloga argentina e especialista em TDC Tania Borda revela que “é um dos transtornos com maior índice de tentativas de suicídio da psicopatologia”.
A busca incessante para mudar sua aparência virou rotina na vida de Fernanda*, aos 11 anos de idade, após receber um comentário sobre seu corpo. Fernanda afirma que sem a sensibilidade da mãe para notar o que estava acontecendo e sem acompanhamento psicológico, ela ainda estaria em um ciclo vicioso de auto sabotagem e busca por mudar o próprio corpo. Hoje, Fernanda é professora de balé e identifica pequenos sinais de dismorfia em suas alunas e alunos. “Eu sempre noto os comentários que eles fazem sobre o corpo dos famosos quando veem fotos no Instagram e se lamentam por não serem iguais”, aponta.
A psicóloga especialista Debora Stadler explica que a dismorfia corporal não tem cura, mas tem controle. Por isso, é importante o acompanhamento do indivíduo com um profissional da psicologia, pois, se não controlado, a dismorfia pode ocasionar causas mais sérias.
Peça ajuda
Acha que sofre de dismorfia corporal? Peça ajuda! Você não está sozinho nessa.
- Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) – (42) 3220-1021
- Centro de Valorização da Vida (CVV) – número 188 ou através do site www.cvv.org.br
- Unidades Básicas de Saúde (UBS)
- Unidade de Pronto Atendimento (UPA)
- Hospitais
*Nome fictício dado a entrevistada para preservar sua imagem e relação com seus alunos do balé.