O dilema dos atletas ponta-grossenses: representar o município ou viabilizar a carreira?

O dilema dos atletas ponta-grossenses: representar o município ou viabilizar a carreira?

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Reportagem busca entender o cenário do investimento público nos atletas de alto rendimento de Ponta Grossa

Há menos de um ano da abertura das Olimpíadas de Paris, me pego pensando sobre o cenário dos esportes olímpicos em Ponta Grossa. Será que os atletas ponta-grossenses de alto rendimento têm algum incentivo público local? Como os atletas fazem para manter os custos da carreira? 

Em Ponta Grossa o projeto Prata da Casa, uma espécie de bolsa atleta municipal, concede R$300 mensais para cada atleta cadastrado no programa. O valor pago em 2022 era de R$100. Mesmo com o aumento, o valor está longe de cobrir os custos de vida de um atleta. Para se cadastrar, o atleta precisa comprovar que compete representando a cidade em âmbito estadual. O cadastro precisa ser renovado a cada seis meses.

Uma bolsa atleta em Curitiba, que é equivalente ao Prata da Casa, paga R$3.000 mensais a cada atleta registrado. Se sair da capital e pegar outro município como exemplo, tem-se Paranaguá, que concede aos atletas um valor de R$1.800,00 mensais e mais bônus por resultados em competições.

A reportagem buscou atletas que competem em campeonatos estaduais e nacionais que ainda representam Ponta Grossa.

As judocas Amandinha Leôncio e Maria Luiza Assis são atletas ponta-grossense mirins e já apresentam alta performance nas competições que participam, ambas despontam como futuras atletas de elite. Amandinha nasceu em 2011, tem 12 anos e Maria é de 2012, tem 11. Ambas fazem parte do programa Atleta Prata da Casa e relatam que o valor que recebem do programa não chega nem perto de ser o suficiente para custear o básico de uma carreira de atleta. “A gente faz rifas antes das competições. Com o valor arrecadado a gente paga o que é necessário para conseguir competir”, destaca Amandinha.

Maria, faixa laranja de judô e Amanda, faixa roxa, são atletas destaques estaduais no esporte. | Arte: Maria Eduarda Ribeiro

O pai de Amandinha, Robson Leôncio, é sensei e também é técnico da filha. Ele relata que tanto Amandinha como Maria conseguiram patrocínio empresarial, mas ainda não é o suficiente. Para suprir essa lacuna financeira, rifas são necessárias e também investimentos familiares. “Um atleta em alto rendimento precisa de nutricionista, acompanhamento físico e, por muitas vezes, fisioterapia. O próprio treino tem um custo”, afirma o sensei que ainda diz investir em média mais de R$1.000 por mês, na carreira da filha.

O problema da falta de investimentos municipais no esporte, nos últimos anos, faz com que atletas locais de alto nível, como Amandinha e Maria, tenham prejuízo na carreira, ou optem por competir por outros municípios. Foi o caso da paratleta Pâmela Aires, que compete na categoria T13 do atletismo, para atletas com baixa visão.

Pâmela Aires tem 27 anos e, apesar de ponta-grossense, nos últimos anos representou Paranaguá. O motivo: a cidade do litoral oferece condições de treino e financeiras mais adequadas para o alto rendimento do que Ponta Grossa. Pamela já afirmou em entrevista ao Portal Periódico que a falta de apoio e o descaso com os atletas locais era o que mais a deixava indignada.

Porém, em 2023 a paratleta voltou a representar Ponta Grossa. Ela afirma que a nova gestão da Secretaria de Esportes está fazendo um bom trabalho. “Quando tem que tecer críticas sou uma das primeiras a falar, mas a gestão deste ano está excelente”, destaca. Após anos competindo por outras bandeiras, este ano Pâmela Aires volta a representar Ponta Grossa nos Jogos Paradesportivos do Paraná.

Além de Pâmela, também temos o caso da nadadora Verônica Balsano, que compete na categoria Master, para atletas com mais de 35 anos. Verônica, que já competiu por Foz do Iguaçu, acabou de representar o Paraguai no Campeonato Mundial de Natação Masters. A competição aconteceu em Fukuoka, no Japão.

Verônica é detentora de cinco recordes mundiais, nos nados: 200m livre e 100m livre, na categoria 30+; 200m livre e 200 medley, 35+; e revezamento 4x100m livre misto 160+ (categoria em que, somadas, as idades dos integrantes do quarteto precisam resultar em um valor entre 160 e 199 anos). A atleta não pode falar com a reportagem.

O Diretor de Esportes da Secretaria Municipal de Esportes de Ponta Grossa, Henrique Pedroso, afirma que as dotações orçamentárias são as normas que definem o valor destinado ao programa Prata da Casa. O orçamento total da secretaria é definido pela Secretaria de Fazenda. “Sempre em todos os momentos se busca melhorias nos valores para todos os programas, projetos e ações que desenvolvemos na Secretaria de Esportes”, relata o diretor.

Ficha técnica

Reportagem e Fotos: Kadu Mendes

Arte: Maria Eduarda Ribeiro

Edição e publicação: Maria Eduarda Ribeiro

Supervisão de produção: Luiza Carolina dos Santos

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Muriel E. P. do Amaral.


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