Um espaço seguro para cultivar abelhas sem ferrão e mais uma oportunidade de aprendizado para os alunos. Essa é a proposta do Jardim do Mel, espaço inaugurado na última quinta-feira (18) na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e que faz parte de um projeto de extensão do curso de Zootecnia voltado à meliponicultura. Além das caixas de abelhas nativas sem ferrão, instaladas em frente ao Bloco Z do Campus Uvaranas, o projeto distribuiu iscas para capturar colmeias pelo Campus e realiza atividades de educação ambiental em escolas.
“Inaugurar esse Jardim do Mel é reafirmar nosso compromisso com a comunidade, com o meio-ambiente, com a pesquisa, com a pós-graduação e a extensão. É, também, reafirmar nosso conceito de Campus-Parque”, afirmou o reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto. O Campus Uvaranas, com quase 50 alqueires de extensão, é um dos maiores parques urbanos do interior do Paraná, e o compromisso da Universidade é de que o espaço seja cada vez mais frequentado pela comunidade.
O meliponicultor Edson Maciel foi o mentor da ideia dos Jardins do Mel em Ponta Grossa e intermediou a instalação das caixas na UEPG. A Lei 14320/2022, de autoria do vereador Isaías Salustiano, regulamenta a criação de abelhas sem ferrão em Ponta Grossa e abre espaço para a instalação de Jardins do Mel em espaços públicos, como escolas e praças. “Nas escolas, a gente coloca a espécie Mandaçaia, que é uma abelhinha sem ferrão, muito mansinha. Como aqui na Universidade é para estudo, a gente colocou outras abelhas sem ferrão, que são a tubuna, a canudo e a jataí”, explica Edson.
“A possibilidade de trabalhar o fomento da criação, do manejo das abelhas nativas sem ferrão nos centros urbanos nos encantou”, lembra o vereador Isaías Salustiano. Em seu discurso na inauguração do Jardim do Mel, ele reforçou importância do trabalho de conscientização ambiental, em especial com as crianças. “O meio-ambiente é responsabilidade de todos nós”.
A prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt, ressaltou a importância da Extensão Universitária para a comunidade que cerca a UEPG, em especial na educação ambiental, ponto focal do projeto do curso de Zootecnia. “Nós temos um compromisso com o meio-ambiente, reforçado aqui com a instalação de mais um Jardim do Mel”, comemorou.
Abelhas sem ferrão
Quando se fala em abelhas, a maior parte das pessoas pensa na espécie Apis mellifera, que possui ferrão para se defender. No entanto, as espécies de abelhas nativas do Brasil não têm ferrão, dos gêneros meliponini e trigonini. Como explica a professora Maria Marta Loddi, que coordena o projeto “Manejo e biodiversidade de abelhas sem ferrão como ferramenta de educação ambiental”, há no Brasil cerca de 300 espécies de abelhas sem ferrão. “Seis delas, chamadas popularmente de Tubuna, Mandaguari, Jataí, Mandaçaia, Guaraipo e Monduri, habitam o estado do Paraná”.
O movimento é constante, dentro de uma colmeia. Algumas abelhas vão buscar o pólen, outras se dedicam a construir potes para armazenar o mel, outras produzem o mel. Cada pequena trabalhadora tem seu papel dentro da comunidade. “Esses animais são um recurso bioeconômico importante como fonte de diferentes produtos de composição e características muito peculiares, como o mel, própolis e pólen”, explica a professora Maria Marta. Esses pequenos animais também têm um papel importante na polinização, garantindo a manutenção de espécies nativas e exóticas.
As abelhas nativas já são parte da fauna do Campus Uvaranas. Normalmente, os insetos costumam se alojar em cavidades de árvores, ninhos abandonados de cupins ou formigas ou em galhos. Por isso, a primeira ação do projeto foi instalar iscas em garrafas pet, preparadas com um produto atrativo para os insetos, isoladas da luz e com conforto térmico. O objetivo é capturar as colmeias que já habitam a região do Campus para proteger e perpetuar as espécies. Parte dessas colmeias serão destinadas para agricultores do distrito de Itaiacoca e produtores urbanos da área do entorno do Campus Uvaranas.
Educação Ambiental
As mudanças climáticas que acontecem em todo o mundo e a utilização de grande quantidade de defensivos agrícolas prejudicam a sobrevivência e reprodução de muitas espécies de abelhas sem ferrão. “Por isso, além das áreas de reserva legal, esses insetos encontram em grandes centros urbanos um refúgio para se instalarem”, explica Maria Marta. As pequenas abelhas têm uma considerável importância ecológica, voltada para a polinização e manutenção dos ecossistemas.
A professora Maria Salete Marcon Gomes Vaz, pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturais da UEPG, destacou a importância de iniciativas como esta, que mobilizam estudantes para o conhecimento e a transferência de conhecimento sobre espécies nativas. “A inclusão curricular da extensão contribui para a conscientização de estudantes, sejam eles universitários ou da educação básica”, avalia.
“Por isso, é objetivo desse projeto educar e conscientizar para a proteção e preservação da biodiversidade dessas espécies nativas do estado do Paraná, como também formar profissionais da educação para que atuem como agentes na disseminação da meliponicultura em escolas da educação básica”. A equipe do projeto realiza, também, oficinas de confecção de iscas para capturar as colmeias nas escolas de Ponta Grossa e região. No dia 02 de maio, cerca de 60 adolescentes aprenderam mais sobre as abelhas sem ferrão e a fazer os dispositivos, no Centro Estadual de Educação Profissional de Ponta Grossa (CEEP-PG).
Texto e fotos: Aline Jasper