Ferrovias e Urbanização em Ponta Grossa

Ferrovias e Urbanização em Ponta Grossa

Ao refletirmos sobre a história do município de Ponta Grossa, não há como negar que um dos principais fatores pelo seu rápido crescimento e urbanização no século XX foi a ferrovia (PETUBA, 2011). Dois importantes caminhos de ferro atingiram a região dos Campos Gerais, ambos passando pela cidade já no fim do século XIX.

Em 1893, a Estrada de Ferro do Paraná, que ligava Curitiba a Paranaguá, passa a abranger também Ponta Grossa, com a primeira estação ferroviária da cidade, a Estação Paraná, sendo inaugurada em 1894. Dois anos depois, em 1896, outra importante estrada de ferro passa a interligar o sul do Brasil: a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. A chegada desta linha férrea, trouxe a necessidade da construção de outra estação ferroviária, como capacidade para atender o grande movimento de cargas e passageiros, assim entre 1899 e 1900, é construída a Estação Roxo de Rodrigues, ou como ficou amplamente conhecida: Estação Saudade ( MONASTIRSKY, 1997).

Durante as décadas seguintes, Ponta Grossa viveu um grande período de desenvolvimento urbano, com o surgimento de vários estabelecimentos prestadores de serviços como hospedagem, alimentação e entretenimento, além da instalação de postes de luz elétrica em 1904, e o aperfeiçoamento do sistema de água e esgoto em 1912.  Contudo, a urbanização também trouxe uma série de problemas, como o aumento nos índices de violência, criminalidade, prostiuição, e a ampliação das desigualdades sociais. A população pontagrossense também aumentou significativamente de tamanho, se em 1908 Ponta Grossa contava com pouco mais de 15 mil habitantes, na década de 1940, a cidade  alcançaria aproximadamente 40 mil moradores (PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA, s/d; s/p).

Os trabalhadores das ferrovias dos Campos Gerais deixaram outras marcas na região para além dos caminhos de trens. Um exemplo que merece destaque foi o antigo Hospital 26 de Outubro,  construído como associação de ferroviários já em 1906, e que também buscava o auxílio médico e funerário aos familiares e trabalhadores da Rede Ferroviária Paraná-Santa Catarina. Outro exemplo é o bairro de Oficinas, cujo nome remonta às oficinas de manutenção das locomotivas. Neste bairro abriga-se o Estádio Germano Krüger, batizado em homenagem a um dos engenheiros responsáveis pela construção da “Locomotiva 250”, a primeira locomotiva construída em Ponta Grossa. Portanto, a história do futebol na cidade também se mescla a história do trabalho ferroviário: o esporte chegou a Ponta Grossa por meio das ferrovias, e era praticado pelos funcionários das oficinas ferroviárias, o que levou ao surgimento do Operário Ferroviário Esporte Clube, em 1912. 

A importância da ferrovia na cidade de Ponta Grossa implicou, também, na criação e implementação de uma escola profissionalizante de grande porte, a escola Tibúrcio Cavalcanti. Segundo Maristela Iurk Batista (2006, s/p.)

Fundada em 29 de setembro de 1940, a Escola Profissional Ferroviária Cel. Tibúrcio Cavalcanti iniciou suas atividades em 1º de fevereiro de 1941 e foi reconhecida como educandário de ensino básico industrial pelo Decreto lei n.o 5607 de 22 de junho de 1943, que instituiu as Escolas Profissionais e o Serviço de Ensino e Orientação Profissional.

De início, restrita a filhos de ferroviários, teve mais tarde alterado o seu regimento interno, estendendo esse direito a irmãos, netos e sobrinhos de ferroviários, para posteriormente, facultar a todos, parentes de ferroviários ou não, a inscrição para a disputa de vagas.

O mesmo discurso de progresso responsável pela instalação das ferrovias na cidade ao final do século XIX se alterou a partir da segunda metade da década de 1950. Com os investimentos governamentais sendo destinados à ampliação da malha rodoviária, os trens passaram a ser vistos como símbolos de um passado outrora glorioso, mas que a partir de meados do século XX representava o atraso. Iniciou-se nos jornais então, um processo de rearticulação de significados, tratando as ferrovias como responsáveis por uma série de problemas urbanos que tinham como única solução, a retirada dos trilhos da região central da cidade, uma das principais alegações, era que a existência de um pátio ferroviário no centro, atrapalhava a locomoção (PETUBA, 2012; 2015). 

Na década de 1980, as estações ferroviárias centrais de Ponta Grossa foram desativadas. Apesar de suas demolições terem sido cogitadas, foram descartadas devido ao tombamento da Estação Paraná pelo governo estadual. De toda forma, em 1990 ocorreu a retirada dos trilhos da região central da cidade, bem como o remanejamento do pátio de manobras de locomotivas para o bairro de Uvaranas. Em 1999, a Rede Ferroviária Federal foi privatizada. Tais acontecimentos  contribuíram para um processo de apagamento da importância das ferrovias e dos trabalhadores ferroviários na história urbana de Ponta Grossa. 

 

Referências:

BATISTA, Maristela Iurk . Escola Profissional Ferroviária Cel. Tibúrcio Cavalcanti de Ponta Grossa: (1940-1973) Um Modelo de Educação Profissionalizante. In: LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANE, Dermerval; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (Orgs.). Navegando pela História da Educação Brasileira. Campinas, SP: Graf. FE: Histedbr, 2006.

MONASTIRSKY, L. Cidade e Ferrovia: A mitificação do Pátio Central da RFFSA em Ponta Grossa. Dissertação (Mestrado), UFSC, Florianópolis, 1997.

PETUBA, . M. S. Elite Operária ou Trabalhadores em Luta? Experiências Ferroviárias na Cidade Ponta Grossa – PR (1950-1970). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 4, n. 7, p. 85–99, 2012. DOI: 10.5007/1984-9222.2012v4n7p85. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2012v4n7p85. Acesso em: 7 nov. 2023.

PETUBA, R. M. S. Experiências ferroviárias na cidade de Ponta Grossa (PR) (1955-1997). Revista História & Perspectivas, [S. l.], v. 27, n. 51, 2015. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/view/28892. Acesso em: 7 nov. 2023

PETUBA, R. M. S. Na Trama Dos Trilhos: Cidade, Ferrovia E Trabalho- Ponta Grossa -PR (1955-1997).2011. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.2011.

 

Autor: Fábio Eduardo Santana da Silva

Acadêmico do 2° ano do curso de Licenciatura em História, UEPG

Ano: 2023

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