Gripe Espanhola em Ponta Grossa

Gripe Espanhola em Ponta Grossa

A  gripe espanhola que se espalhou pelo mundo no ano de 1918 foi uma doença de altíssima letalidade. De acordo com Nara Brito (1997, p. 12) “os dados epidemiológicos disponíveis fixam números impressionantes: em sua trajetória intempestiva, infectou mais de seiscentos milhões e vitimou aproximadamente vinte milhões de pessoas”.

A influenza foi  também apelidada ‘La Dansarina’ e “ninguém poderia suspeitar que sob nome tão atraente se ocultava tão grande tragédia” (BRITO, 1997, p. 17).

A doença se caracterizava como aguda e de evolução rápida. Segundo Cláudio Bertolli Filho, a gripe produzia “calafrios, sensação de frio, febre, dores de cabeça, prostração intensa e dores musculares, principalmente nas costas, ombros e pernas”, sendo que  “a temperatura do enfermo [poderia] chegar até a 40º centígrados e persistir alta de um a seis dias”. Além disso, eram “notadas alterações no aparelho respiratório, tais como dores de garganta, catarro nasal e tosse…” (BERTOLLI FILHO, 1986, p. 88).

No Brasil, apesar de ter sido registrada num período de curta duração (de setembro a dezembro de 1918), teve amplitude para atingir diversos estados e municípios . Em Ponta Grossa, as primeiras notícias sobre a enfermidade foram publicadas pelo jornal Diário dos Campos, na edição de 19 de outubro. O periódico pedia aos munícipes a prevenção contra a doença, deixando-os em estado de alerta sobre o fenômeno que estava “matando” em todo o país (DIÁRIO DOS CAMPOS, 1918, p.3). Dias depois, o discurso das notas do impresso já se encaminhava para os cuidados e as precauções que deveriam ser seguidos pela população, com intuito de impedir a ampla contaminação na região.

Foi através da ferrovia que a doença chegou à cidade. Os vagões que transportavam alimentos e mercadorias espalharam o vírus da espanhola, visto que era difícil desinfetá-los antes de seguirem viagem; ademais, o grande fluxo de pessoas que utilizavam esse meio de transporte transformava o trem em eficaz foco de disseminação a partir de indivíduos já com o vírus.

Após a divulgação da confirmação dos primeiros infectados em Ponta Grossa, as ruas da cidade foram ficando mais vazias, desertas, e as reuniões e encontros sociais cada vez mais escassos, chegando ao ponto de o Doutor Paula Braga, delegado de higiene do município, determinar o fechamento de escolas e das casas de diversão como o teatro e o cinema. Era necessário prevenir aglomerações. Nas ruas o silêncio imperou e a cidade ficou praticamente paralisada por mais de mês. Até os jornalistas que noticiavam sobre a doença não ficaram imunes ao ataque epidêmico, e o periódico Diário dos Campos chegou a interromper sua publicação por duas semanas em novembro, retornando a circular somente no dia 29, pois alguns de seus funcionários tiveram a vida ceifada pela espanhola (DIÁRIO DOS CAMPOS, 29/11/1918, p.2).

Naquele contexto da epidemia, a Prefeitura Municipal providenciou um médico para examinar os moradores com sintomas, bem como auxiliou na compra de medicamentos aos mais carentes, além de ter instalado junto ao hospital da Santa Casa de Misericórdia uma ala provisória de atendimento. Ainda: determinou que, caso houvesse necessidade, até a Hospedaria dos Imigrantes seria utilizada como local de auxílio aos infectados.

Nesse período, a automedicação era ampla. Além dos remédios prescritos pela medicina oficial e pelo saber popular, os jornais estampavam propagandas que proclamavam virtudes terapêuticas ou preventivas dos mais variados produtos no combate da enfermidade. Os ingredientes que estavam presentes em quase todas as receitas publicadas eram o limão e o acônito.

Ao se olhar para o cotidiano de Ponta Grossa durante a gripe espanhola de 1918 evidencia-se a fragilidade da vida humana naquele momento: nem a medicina, nem a farmácia deram conta de minimizar com eficácia as agressões da epidemia. Além disso, parentes e amigos próximos se afastaram uns dos outros, mudando a sociabilidade familiar e da cidade. Mas isso não ocorreu somente em Ponta Grossa. A espanhola foi registrada em várias concentrações urbanas do Brasil e também em cidades populosas de todos os continentes. Por isso a gripe foi considerada uma pandemia.

Uma investigação profunda sobre o impacto da passagem da espanhola na região dos Campos Gerais, que estime com propriedade a quantidade de adoecidos e mortos pela enfermidade, ainda aguarda o seu historiador.

FONTES:

DIÁRIO DOS CAMPOS. 1918.

Atos e Decretos do Prefeito Municipal de 1913 a 1924, Livro 18, p.23. Arquivo da Câmara Municipal de Ponta Grossa.

REFERÊNCIAS:

BERTOLLI FILHO, Cláudio. Epidemia e Sociedade: a gripe espanhola no município de São Paulo. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,  1986.

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 1, p. 11-30, mar-jun 1997.

Autora: Maura Regina Petruski

Professora Associada do Departamento de História da UEPG.

Ano: 2019

Revisão: 2020

 

 

 

 

 

 

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