Na década de 1990, trabalhando no “cosem” (coordenação de sistema Estadual de museus) eu descobri que muitos museus tem início com obras pertencentes à comunidade ou a família.
As quais na tentativa de preservar a memória local se somam aos mais variados tipos de processos aquisitivos.
Coleções particulares, muitas vezes nascem quase que de forma espontânea: são desprovidos de um raciocínio estratégico, o qual indicaria a coerência entre as obras possibilitando a percepção de um fio condutor baseado procedimentos museológicos e/ ou valor de mercado.
Esta coleção trazida à público pelo Museu Campos Gerais, é oriunda de mais de 30 anos de dedicação à arte e permeia momentos históricos distintos os quais revelam particularidades do campo da arte Paranaense e Nacional.
Na década de 1970 artistas paranaenses realizavam rifas para conseguir verba, nos anos 1980 pintores venderam obras através de consórcios, evidenciando a fragilidade do mercado de artes.
É costume entre colegas de profissão a troca de trabalhos e grande parte das obras aqui exibidas foram adquiridas por este meio.
Presentes de colegas, professores e alunos também integram o processo de composição do acervo, explicitando, além de admiração e generosidade tratam-se de processos de manutenção da memória.
Em 2002, a secretaria da cultura do Paraná realizou o “Faxinal das Artes”, programa nacional de residência artística do qual participei na organização; nesta ocasião, as trocas para além do caráter conceitual e poética, estendeu-se às produções realizadas in loco.
Boa parte das obras de artistas reconhecidos nacionalmente foram presentes recebidos à época.
Cada trabalho tem sua história e de forma surpreendente, essa contextualização pode se tornar relevante e possibilitar uma mirada distante a cerca das (des)razões que movem o espírito colecionador.
Ao exibir este acervo o museu Campos Gerais coloca em pauta discussões que transcendem a fruição estética propondo novas chaves de leitura para a cultura e a história, Pilares que sustentam transformações sociais e possibilitam uma melhor compreensão do tempo presente.
Cristina Mendes
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