Museus universitários administrados por universidades públicas e gratuitas exercem funções fundamentais para a integração da extensão ao ensino e à pesquisa. O Museu Campos Gerais (MCG), cumprindo seu papel institucional nesta trilogia pela riqueza de acervos aos seus cuidados, tem ampliado horizontes de possibilidades com o projeto de extensão “Culturas Tradicionais: Trabalho, Fé e Festa”.
Originalmente apresentado com o nome de “Cultura Caiçara e Campos Gerais: Comunidades Tradicionais, Diálogos e Aproximações Possíveis”, a proposta ganhou novos contornos e formato a partir de seu desenvolvimento. Iniciado em maio de 2021, o projeto foca inicialmente na Cultura Caiçara com ações programadas para Guaratuba, Morretes, Paranaguá e Ponta Grossa, com extensões para outros municípios. No decorrer de sua realização, a iniciativa pretende impulsionar também outras culturas tradicionais pelo estado do Paraná.
Nos últimos dias 18 e 19 de fevereiro, uma equipe do MCG, liderada pelo diretor Niltonci Chaves, realizou mais uma atividade de campo. No primeiro dia o destino foi Curitiba, iniciando os trabalhos em reunião com o fotógrafo Orlando Azevedo, da qual também participaram a professora Ana Paula Peters (Unespar) e o músico Oswaldo Rios, que integram o projeto. Autor de diversos livros que retratam paisagens naturais e humanas em expedições pelo Brasil, curador de exposições fotográficas itinerantes e entusiasta do litoral paranaense, Orlando Azevedo possui um rico acervo de registros fotográficos da cultura caiçara. O encontro agendou exposições com parte deste acervo para os próximos meses.
A reunião seguinte foi realizada na Coordenação do Patrimônio Cultural do Estado do Paraná (CPC – PR) com o historiador Aimoré Índio do Brasil Arantes. O propósito da conversa se orientou à adesão de instrumentos e adereços utilizados no Fandango e na Folia Caiçara, conjunto de itens que pertenciam a Carlos Roberto Zanello de Aguiar, o Macaxeira, fotógrafo que lançou olhares de valorização e pesquisa do Fandango Caiçara em Guaraqueçaba. Aimoré apresentou o conjunto de itens que estão sob os cuidados da CPC – PR e se dispôs a contribuir com o projeto e com o MCG, inicialmente com a disponibilidade do acervo do Macaxeira com possível interconexão institucional futura.
No dia 19, já na cidade de Morretes, a equipe contou com o suporte da também integrante do projeto e Diretora de Cultura da Secretaria de Meio Ambiente, Turismo, Cultura e Urbanismo de Morretes, Marcela Cristina Bettega. Logo pela manhã, o encontro foi com o professor Dagoberto Ribeiro Neto, autor do livro ‘Fandango e Cultura Caiçara no Coração de Morretes’ – obra que, com linguagem simples e didática, retrata o contexto sociocultural do caiçara no município de Morretes.
O propósito desta conexão foi fortalecer a recuperação do movimento do fandango na cidade e também na elaboração de um curso EaD referente à cultura caiçara orientado para professores do ensino fundamental e médio. Logo após, a equipe foi recepcionada pelo escritor e memorialista Eric Joubert Hunzicker. Reconhecido por pesquisas e livros publicados que abordam a história da cidade de Morretes, autodeclarado morretense, Eric nasceu em 1942, em Fernandes Pinheiro, por ocasião do trabalho de seu pai. Eric em suas trajetórias de pesquisa adquiriu e guarda um grande volume de documentos, livros e jornais da cidade do início do século passado, demonstrando grande interesse em disponibilizar estas referências para o público em geral. Observando a necessidade, a equipe do Museu propôs a digitalização deste material pelo Núcleo de Digitalização do MCG com a disponibilidade dos arquivos no repositório Memórias Digitais, constituindo assim uma coleção denominada Acervo Eric Joubert Hunzicker, composta pelas referências e livros publicados pelo escritor. Compactuando com a proposta, Eric afirmou ser este um meio com maior repercussão entre pesquisadores e pessoas interessadas na história conectada à cidade de Morretes, se prontificando a separar o material a ser digitalizado.
A última reunião foi realizada com o Maestro da Filarmônica Antoninense e pesquisador Cainã Alves, que em sua tese de doutorado abordou as práticas de dança e música próprias ao fandango no município de Antonina, relacionando-os com práticas musicais que são utilizadas na região litorânea do Paraná. Nesta reunião foi apresentado o projeto e avaliadas possibilidades de contribuição por parte do músico no curso EaD sobre a cultura caiçara. Cainã falou sobre seu trabalho e demonstrou-se receptivo, colocando-se à disposição para contribuir com a proposta.
De acordo com o diretor do MCG, as ações desenvolvidas ampliaram as relações institucionais do Museu e da própria UEPG e trouxeram a perspectiva de um avanço considerável, especialmente no que se refere à digitalização de importantes acervos documentais históricos. Desta maneira, o professor ressalta, o projeto sobre culturas tradicionais contribui para as práticas extensionistas, um dos pilares das universidades públicas brasileiras.