MCG encerra 15ª Primavera com painel sobre afetividade e proposta do Museu do Operário

A programação de quinta-feira (23) da 15ª edição da Primavera dos Museus, evento organizado na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) pelo Museu Campos Gerais (MCG), iniciou à tarde com a conversa “Paulo, meu pai”, com Aurea Leminski. À noite, foi a vez do painel “Convergir experiências e sentimentos pelas nossas histórias e memórias: Os museus possíveis”, com Ana Paula Peters, coordenadora do curso de Museologia da Unespar e Nery Assunção, com ampla trajetória junto ao Museu do Garimpo, em Tibagi. Em comum, os dois momentos permitiram relatos de afetividade em torno da experiência com museus, acervos, pesquisa e produção cultural. Conversa na tarde de sexta-feira (24) sobre proposta de Museu do Operário encerrou o evento.

Paulo, meu pai’ (Confira como foi o evento)

No encontro online de ontem, Aurea Leminski destacou a relação com o pai, que faleceu quando ela tinha 18 anos. Em resposta a perguntas do público, ela revelou algumas das lembranças de infância. Ali já percebia no pai um artista múltiplo. Ela relembra as visitas constantes à sua casa, tanto de grandes nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil, quanto músicos e escritores iniciantes. Há registros de algumas das reuniões nas quais Leminski criava músicas com amigos, entrecortadas por sons de conversas e crianças brincando. “Essa liberdade que se tinha era muito inspiradora”, comenta.

A produtora afirma que seu pai era generoso ao aceitar sugestões e ideias para compor suas obras musicais, criadas colaborativamente de forma espontânea na casa da família. Por outro lado, Auera reforça o lado crítico do artista: “Ele não tinha medo de falar o que pensava nas suas críticas”. Mas Paulo Leminski, de acordo com a filha, era muito mais crítico consigo mesmo.

Ela relembra a produção do livro Catatau, que levou cerca de oito anos para ser finalizado por conta da busca incansável de seu pai pela forma e resultado perfeitos da obra. Aurea conta que a poeta Alice Ruiz, sua mãe e cônjuge de Paulo Leminski, era a principal interlocutora da obra, revisando-a e comentando-a em uma troca intelectual constante em família. “Foi em um dia, em que ele já havia terminado o livro algumas vezes, que foi perguntar algo à minha mãe e ela tirou os livros dele e disse: ‘chega, vamos publicar’”, comenta a produtora.

Aurea diz que seu pai possuía um referencial extremamente alto, que chegava a ser abordado em sua própria obra – entre as várias inspirações, uma delas era o próprio fazer poético. “A gente tem a impressão de que os trabalhos nasceram prontos, frutos de inspiração. Pelo contrário, eram fruto de um trabalho doloroso, de uma pessoa que era obcecada por chegar ao próprio auge”, completa.

Questionada sobre o convívio com seus pais em meio a grandes nomes do meio artístico, Aurea foi direta: “não era fácil, mas também não era difícil; era só diferente”. A produtora conta que a criação que ela e seus irmãos receberam foi baseada no diálogo e na liberdade em permitir que cada filho fizesse suas próprias escolhas. “Tínhamos muitas trocas de referências literárias e de cinema. Ele não me obrigava, mas me convidava a conversar se eu me interessasse”, diz. Uma das influências na formação foi a contracultura.

Por fim, Aurea Leminski relembrou o importante papel do poeta e escritor na valorização da cultura polaca e comentou sua surpresa com a ótima recepção que a mostra “Múltiplo Leminski” obteve do grande público. Sobre a exposição, ela confessou sua conexão emocional com a memória do pai: “Quando tenho contato com algum material original, que ele tocou, tem uma ligação emocional muito forte para mim. A exposição é do público, mas conta a história dele, da minha mãe, da minha irmã e a minha”.

Os museus possíveis (Confira como foi o evento)

Convergir experiências e sentimentos pelas nossas histórias e memórias: Os museus possíveis foi o tema da última noite da 15ª Primavera dos Museus, com apresentações da coordenadora do curso de Museologia da Unespar, Ana Paula Peters, e Nery Assunção, com ampla trajetória junto ao Museu do Garimpo, em Tibagi.

As falas dos convidados expressam bem o tema de convergência”, diz o diretor do Museu Campos Gerais, Niltonci Batista Chaves, sobre a apresentação dos painelistas. Ambos compartilharam suas experiências com o trabalho no meio museal, mostrando com afeto suas trajetórias e o que acreditam ser o papel do museu na sociedade.

Ana Paula Peters aponta: “Os museus são um ponto de referência para se conhecer a história de um lugar”. Além disso, a professora relata sua conexão com o rádio, desde pequena, e como conseguiu registros do meio utilizando da História Oral, discutida no painel de segunda-feira, o que ela acredita ser importante para a documentação dos museus.

Nery contou como se envolveu com o Museu do Garimpo, e expôs fotos antigas da estrutura do espaço, eventos realizados para o público e algumas exposições. Durante sua fala, foi apresentado um vídeo, com música de Scilas Oliveira, diretor municipal de Cultura, sobre os garimpeiros de Tibagi. Nery expõe: “eu construí uma história aqui dentro do museu. Desde 1993 eu já comecei a viver o museu, e fui me aperfeiçoando”, ao contar do trabalho que realizou com pesquisa, antes de fazer parte da gestão do Museu do Garimpo.

Museu do Operário (Confira como foi o evento)

O último dia de programação do Museu Campos Gerais na 15ª Primavera dos Museus abriu conversa sobre proposta de instalação do Museu do Operário Ferroviário Esporte Clube no prédio da Estação Paraná, imóvel tombado pelo patrimônio estadual na área central de Ponta Grossa. Participaram do painel a partir das 14h desta sexta-feira (24) o diretor geral do clube, Rodrigo Sautchuk, o secretário municipal de Turismo de Ponta Grossa, Paulo Stachowiak, o diretor do MCG, Niltonci Chaves e o professor Leonel Brizolla Monastirsky, presidente da Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural (APPAC). O evento ocorreu via Google Meet (para inscritos), com transmissão pelo canal de vídeo do MCG no YouTube.

A sessão partiu de breve histórico do prédio em questão, até chegar à transferência da Casa da Memória para outro local, em 2020, em função de problemas na estrutura da Estação Paraná. Desde então, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Prefeitura Municipal e Operário Ferroviário Esporte Clube procuram uma solução conjunta para ocupação cultural do edifício e começa a se formular a proposta de um Museu do Operário, ideia que passa agora por rodadas de debates e consultas.

O Operário está diretamente ligado à história do futebol como uma manifestação cultural do Brasil e está diretamente ligado ao patrimônio de Ponta Grossa. E nada mais digno, nada mais justo, que nós guardarmos esta história dentro do Museu do Operário Ferroviário Esporte Clube, porque repito, o Operário se confunde com a história de Ponta Grossa, com a história dos ferroviários principalmente”, defende o diretor geral do clube, Rodrigo Sautchuk.

De acordo com o professor e pesquisador Leonel Brizolla, há que se valorizar junto da história do time o contexto da ferrovia, já que os dois elementos apresentam grande importância para a identidade dos Campos Gerais. Brizolla ressaltou as origens ferroviárias da equipe e também dos primeiros torcedores, tradição carregada pelas gerações seguintes, de filhos de ferroviários. Ele entende que tanto a ferrovia quanto a história do clube podem ser atrativos para futuros visitantes, compondo um público mais heterogêno.

O Operário é um dos grandes colaboradores para que o nome da nossa cidade seja mais conhecido”, diz o secretário municipal de Turismo, professor da UEPG e gestor do Operário, Paulo Stachowiak. De acordo com ele, é necessário o esforço conjunto para tornar o projeto de museu do Operário uma realidade. “Nós temos a Estação colocada em uma localidade privilegiada da nossa cidade, no Parque Ambiental, ela merece um cuidado. A colocação e viabilidade do Museu ali seria fantástico”, pontua.

Além de promover a cultura de maneira acessível em Ponta Grossa, Niltonci Chaves defende que o Museu do Operário seja tecnológico e escola para os estudantes da UEPG, auxiliando na formação e aprendizado dos alunos. Chaves ressalta ainda a ideia de envolver torcida e associações que apoiam o OFEC, salientando a necessidade de dialogar sobre o espaço das mulheres no futebol como torcedoras.

(Texto: Lívia Hasman, Cassiana Tozati e Vitória Testa / projeto Ações Culturais no Museu Campos Gerais)

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