Memórias Digitais apresenta Gabriel de Paula Machado (1924-2017)

  Em preparação às comemorações do centenário de Gabriel de Paula Machado em 2024, o Museu Campos Gerais disponibiliza na web rico acervo documental e iconográfico para pesquisas sobre uma figura de atuação consolidada no campo intelectual, artístico e da saúde em Ponta Grossa. Sua trajetória está ligada ao próprio contexto de criação da UEPG, como professor da Faculdade de Farmácia e Odontologia, e se estende à origem da Orquestra Municipal e do Coral da universidade.

O acervo agora disponível de forma online e gratuita revela atuação plural de Machado como professor, maestro, compositor e farmacêutico, tendo criado os primeiros laboratórios na cidade e trabalhado em hospitais como Santa Casa de Misericórdia e 26 de Outubro. Por intermédio do vice-reitor da UEPG, professor Everson Krum, junto a familiares, a documentação chegou ao museu a partir de 2019 e deu-se início ao processo de digitalização.

O conjunto documental inclui Programa da Semana de Cultura Bruno e Maria Enei, (incluindo folder da primeira edição, em 1984), Programa da Semana de Promoções Universitárias (com evento do Grupo de Teatro Universitário, em 1974), textos e folhetos de cunho teológico, diário de viagem, fotos de coral e conferências, partituras, certificados, currículo, programações musicais e rascunhos. Entre roteiros de apresentações e shows, pode-se ler o script da montagem poético-imagética ‘A Barca da Cultura’. 

Acesso ao acervo de Gabriel de Paula Machado no Memórias Digitais.

 

Gabriel de Paula Machado, Intelectual Mediador

Profª. Drª. Carmencita de Holleben Mello Ditzel (Dehis/PPGH-UEPG) 

Profª. Drª. Rosângela Wosiack Zulian (Dehis/PPGH-UEPG) 

A leitura sobre a obra de Gabriel de Paula Machado nos surpreende, a princípio, por sua produção ampla e abrangente. De formação interdisciplinar, o virtuosismo de sua vida se espraiou pelas mais diversas áreas do conhecimento: escreveu, regeu, ensinou, foi músico. Intelectual infatigável, viveu em uma incessante transposição das fronteiras do conhecimento e das instituições. 

Uma síntese de sua biografia, elaborada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, locus de sua atividade profissional por décadas, bem dimensiona a pluralidade de seus interesses e o peso de sua presença na cultura local.(1) 

Angela de Castro Gomes e Patrícia Santos Hansen apontam com propriedade a figura do intelectual mediador, aquele que conduz por uma travessia (2), noção que bem cabe à presença de Gabriel na história local. 

Quem são os intelectuais mediadores? Em uma acepção ampla, são indivíduos da produção de conhecimentos e comunicação de ideias, direta ou indiretamente ligados à intervenção político-social. Muitas vezes ocupam um lugar estratégico numa instituição cultural pública ou privada, numa associação ou organização política, ou atuam desde um lugar privilegiado numa rede de sociabilidades, de onde protagonizam projetos de mediação cultural de grande impacto. 

Consideramos que os intelectuais mediadores podem ser tanto aqueles que se dirigem a um público de pares, mais ou menos iniciado, como a um público não-especializado, composto por amplas parcelas da sociedade, ou seja, um público abrangente e heterogêneo. 

Percebe-se que eles podem perfeitamente acumular diversas funções e posições ao logo de sua trajetória profissional. Nessa perspectiva, esses intelectuais mediadores estão sempre imersos nas sociabilidades que os situam, inspiram, demarcam e deslocam através do tempo-espaço. Sua atenção primordial se volta para práticas culturais de difusão e transmissão, ou seja, práticas que fazem “circular” os produtos culturais em grupos sociais mais amplos e não especializados. 

Gabriel era um grande leitor. Sua vasta biblioteca, cujos livros sistematicamente nos emprestava, era formada por obras de diferentes áreas. A ele devemos o gosto por romances históricos, por obras de teologia que sustentaram futuras pesquisas e uma grande e selecionada coleção de livros de ficção científica. 

A ele devemos o gosto pela beleza dos sons que nos apresentava e ensinava, a vasta erudição, o bom humor e uma profunda e religiosa visão da vida. 

A ele devemos, junto com a Rita, grande parte de nossa crença na bondade, na transcendência, na partilha, no serviço à comunidade. 

Personalidade avant la lettre, Gabriel, com seu pensamento ágil, universal e humanista, deixou como herança da sua passagem, um mundo cheio de sons, imagens e poesia. Um mundo melhor. 

Referências 

1 – Cf. https://www.uepg.br/professor-gabriel-de-paula-machado-e-homenageado-com-nome-de-rua-que/ 

2 – GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patricia Santos. Intelectuais mediadores: práticas culturais e ação política. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2016. 

 

Comentários: 2

  1. […] Maestro lecionou e exerceu cargos didáticos administrativos na UEPG desde a fundação da Universidade […]

  2. […] Maestro lecionou e exerceu cargos didáticos administrativos na UEPG desde a fundação da Universidade […]

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